O Mundial 2006 para Portugal não foi mau, admita-se, mas daí a julgá-lo heróico vai um grande passo.
A participação de Portugal neste Mundial lembra-me aquelas noites de festas privadas que, há já alguns anos, frequentava. Já lá estar era bom, mas era sempre desejável «deixar alguma impressão».
Estas festas, entenda-se, também tinham uma primeira fase (para toda a gente), uns oitavos e quartos de final (onde a selecção era apurada), umas meias-finais e a decisiva final. Era aí que se decidia a noite.
Só ir à festa era um desastre, era muito mau. Ir e não fazer nada era uma frustração. Nem se saia alegre. Ficar nos quartos ou nos oitavos dependia da «qualidade do nosso futebol», pois se ser afastado era chato, sê-lo pela porta grande aos pés de um hiper-favorito e com um grande jogo, era prestigioso. Muitas vezes valia mais do que ser eliminado em fases posteriores da competição. [lembro-me daquela vez em que depois de uma boa exibição ao som de um grande DJ saí. Foi em grande.]
Depois, havia as noites completas. Entradas em grande, forma perfeita, grandes jogos, golos lindos e jogadas fabulosas. O público vibrava. Não foram muitas, verdade seja dita, mas ainda me lembro de algumas. E levava-se troféu para casa também. Não se tinha medo de ganhar. Arriscava-se e jogava-se ao ataque.
Nunca fui, entenda-se, favorito à partida, pelo contrário, sempre underdog. Como Portugal. Mas tinha gosto pelo jogo, sabia jogar e, naturalmente, ganhava partidas. Era então normal que num bom dia pudesse ser campeão. E não fugia da hipótese.
Ainda houve aquelas noites em que, estando apurado para as meias-finais (parte selecta e final da noite entenda-se), não fiz mais nada. Apenas apareci. Sem ambição, sem ginga, sem feeling. Estava lá, mas não contava. Via por espelhos a minha experiência. Assim me pareceu Portugal no Mundial. Estávamos lá, mas precisámos que nos contem o que fizémos. Não nos assumimos. Nunca. Nessas noites era suficiente chegar a casa de manhã, no final de festa, fazer os 7 jogos, quase sem querer. Pouco se punha em jogo, mais preocupado em «manter a boa figura que arriscar».
Nessas noites ainda havia vontade, noutras nem isso. O grupo era sempre o mesmo, as mesmas pessoas, as mesmas caras. Risco? Nenhum. Experimentar pessoal novo? - Que má onda! Nem pensar. Tudo era muito igual. Sempre. Ao fim de alguns anos desenvolvi inclusive a capacidade de descrever toda uma aventura nocturna no caminho do Restaurante. Tal era a previsibilidade da coisa. [alguém me explica porque é que o Nuno Gomes nunca jogou? ou porque é que arriscar é tirar Pauleta e colocar o Cristiano no seu lugar? Ou porque é que...]
Como em muitas saídas, chegávamos de dia, sóbrios que nem padres e sem uma boa história. Tínhamos estado na noite? Sim. E até ao fim. Foi sem querer, aparecemos e quando demos por isso já o dia raiava. Foi bom? Ya, mas… uns esfregas aqui, umas reviengas acolá e tal e pouco mais. Nem moka nem copo nem filme. No fundo pouco se passava nessas noites. Estivemos e nada.
Era o acumulado, a inércia e a reputação que imponham o destino. Eramos actores em filmes alheios. E não me lembro de grandes festas nas minhas chegadas…
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