sábado, julho 01, 2006

Notas sobre a demissão do MNE.

Notas sobre a demissão do MNE.

1 - É uma demissão que não estranha, pelo contrário.

a) A verdade é que já por diversas vezes se tinha equacionado sobre a continuidade de Freitas do Amaral no cargo do MNE (cartoons, orçamento UE).
b) Era notório o desconforto que nas Necessidades causava o senhor por entre pessoal diplomático, embaixadores e tal.
c) Politicamente há já algum tempo que transparecia ser um Ministro só, apoiado apenas pelo PM, desligado dos seus colegas.
d) Claro está que a razão evocada, problemas de saúde, não pode ser atacada, pelo contrário. Dito isto, mais esperada se tornava a sua substituição, pois a próxima presidência da EU – daqui a exactamente um ano – impera que o MNE esteja em condições de aguentar o enorme desgaste que inevitavelmente tal missão acarreta.

2 - O timing do Governo foi, uma vez mais, óptimo.

a) O jogo de Portugal abafa a notícia interna.
b) O início da Presidência Finlandesa possibilita que o novo MNE entre no momento adequado em que novo ciclo se inicia, nas instâncias europeias. Estamos também a um ano exacto de Portugal assumir a Presidência da União Europeia, talvez o momento da política externa portuguesa dos próximos largos anos (lembramos que a «barra» está a boa altura, uma vez que Cavaco fez o CCB para a sua presidência da EU e Guterres lançou a Agenda 2000). Assim Luís Amado tem o tempo suficiente para se poder preparar para esse desafio. Mais tarde ficaria curto.
c) Não entendo quem podia pensar que a situação poderia ser tratada de outra forma. O que esperariam? Que esta situação desse trapalhada? Que se arrastassem nomes durante semanas? Que fosse a imprensa os bloguistas ou opinadores a ditar os tempos da política? Claro que não. Muito menos com este governo. Este era o momento certo de se alterar o MNE, caso se entenda a Presidência da EU como importante e estratégico para a posição de Portugal na Europa e, por acrescento, no Mundo.
d) Uma outra nota à forma como foi feita a comunicação: e-mail e SMS em simultâneo para todas as redacções e jornalistas, condicionando a notícia e o possível spin. Brilhante, revelando que este governo sabe muito bem comunicar, quando quer e se empenha, e que não permite, quando o assunto é sério – e era – que a noticia ganhe pernas próprias.

3 - Os novos ministros.

a) Para o Luís Amado é uma evolução natural. Já tinha estado no MNE no tempo do Jaime Gama e logo não é uma casa nova para onde se muda. O seu tempo na Defesa preparou-o para as Necessidades. Resta saber qual será a composição do seu Ministério, que equipa de Secretários de Estado nomeará (se políticos se técnicos, etc). Naõ surpreende ser esta a escolha do PM para MNE. Pode-se é questionar se seria Luís Amada a única escolha para MNE, se não haveriam melhores nomes?
b) O Nuno Severiano Teixeira é um clássico ministeriável, que desde a campanha do Soares estava na linha da frente relativamente a alguma renovação governativa. A incerteza era se entraria num cenário de substituição directa do MNE (saia Freitas entrava Teixeira) ou num cenário envolvendo a Defesa (como o que ocorreu). Combina valências técnicas adquiridas do tempo do IDN, do MAI e como investigador (muito ligado a questões militares) com políticas (próximo de Soares, antigo ministro de Guterres, etc). Mesmo com o bom trabalho do Luís Amado a vinda de Severiano Teixeira é vista com bons olhos pela comunidade militar em geral, esperando da sua política um reforço das relações com os EUA e a continuação da «política de dignidade» para com as Forças Armadas. Também não sabemos quem levará com ele.

Em suma, uma alteração esperada, há muito, mas que foi calculada para o momento óptimo de maximização política. Este era o tempo de proceder à substituição do MNE, primeiro por razões claras ligadas à pratica da nossa política externa - a nova presidência finlandesa oferece o quadro de um novo ciclo europeu e o facto de faltar um ano exacto para a nossa presidência da União – depois por razões do foro pessoal do Ministro que sabia não poder aguentar pelo menos o segundo semestre de 2007 e que era necessário começar a preparar à séria a nossa presidência. Por fim, as questões de forma: a comunicação em simultâneo por SMS e e-mail e o aproveitamento do jogo de Portugal, que limita o ruído interno.

Todavia, e para terminar, estou convencido que foram razões estratégicas que estiveram por detrás desta renovação. Portugal tem de ter uma Presidência da União Europeia brilhante. Sócrates, se quer ter Mundo, não pode perder esta oportunidade de brilhar. Cavaco fê-lo, como o CCB. Guterres fê-lo, com a Agenda 2000. E Sócrates, como o fará?

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