segunda-feira, julho 10, 2006

Apreciação.


O futebol hoje está muito feio. Já não equipes de sonho, já não há jogos de sonho, já não há jogadores de sonho. Tudo é excessivamente planeado, previsto e preparado. Que péssimo Mundial. Nem a Itália, que se assumia como líder deste novo futebol consegue ganhar a Final frente a uma França que remete o seu futebol para um binómio Penalty-Zidade preocupante. Mais preocupante é ainda apreciar o papel decisivo que os árbritos têm, hoje, não só na condução dos jogos durante 90 minutos como na sua decisão (e são vários os exemplos de dedo no resultado neste Mundial). Este foi um péssimo Mundial, pior que o Itália’90, excessivamente táctico onde os últimos 3 jogos (o 3º e 4º não contam) produziram dois prolongamentos (um a penalties – a final e outro na ½ final Alemanha x Itália) e 3 golos, 2 de penalty e um de canto. De bola corrida, nada. De Futebol muito pouco. É essa a nossa contemporaneidade.

Recordemos, por um instante o percurso de ambas as equipes:

A Itália, na fase de grupos teve alguns bons momentos no jogo com o Ghana, foi beneficiada contra os EUA (nas expulsões amigas aos norte-americanos e num golo mal anulado) e contra os checos (mais uma expulsão amiga). Chega nos oitavos de final e tem aquele penalty, ao minuto 93’ que elimina a Austrália. Nos quartos jogo fácil contra a Ucrânia (que já tinha o seu campeonato feito), e, finalmente, um bom jogo contra a Alemanha. Na final faz (outro) jogo péssimo.
A França faz uma primeira fase sofrível, contando com a delicadeza do Togo (quase todos jogadores de segunda divisão francesa) para avançarem no torneio. Bom jogo contra os Espanhóis - sem espinhas – e contra o Brasil (que não fez nada). No jogo contra Portugal tem um penalty estranho (já vi muitos iguais a não serem marcados…) e é beneficiada na apreciação global da partida, tendo passado uma semana a condicional o trabalho do árbitro para o jogo contra Portugal. Não joga nada e passa uma hora dentro do meio campo, sem jogar ou fazer alguma coisa. Na final, não jogaram nada, e ainda, ironia das ironias, beneficiaram de um penalty (outro) inexistente (mas foi um bom mergulho…), fartaram-se de simular faltas e ainda acabaram com 10, fruto da expulsão do melhor jogador do torneio (que vergonha) que simultaneamente cabeceia e esmurraça o Materazzi (faltou o pontapé para ser uma agressão total).
Não admira que Portugal pudesse, a páginas tantas, ter sonhado com o título. O Mundial já não é o que era. Já não existe aquele espírito elitista de onde se depreendia que a taça não era para todos, que era para uma elite, uma pequena e selecta elite que pela qualidade e força do seu futebol, das suas equipas e dos seus jogadores anulavam qualquer procura que futebois de segunda pudessem ter. Hoje o nível é muito baixo. Não é que tenha havido alguma «democratização» futebolística que alargasse o leque de potenciais vencedores, o que houve foi uma necessidade extrema de produzir resultados ao nível das melhores selecções mundiais. É bem mais fácil defender que atacar. Viu-se isso no Europeu (com a Grécia) e neste Mundial com as selecções finalistas.
É, talvez, a evolução natural do desporto-rei. Mas no ano em que o Barcelona do «joga bonito» levanta a taça mais importante do continente Europeu é no mínimo irónico que o Mundial seja ganho em penalties, numa final de 1-1 com um golo de canto e outro de penalty…
Este Mundial foi, em suma, emotivo (nos jogos de Portugal, digam o que disserem, houve emoção da grossa), competitivo (os jogos a 0-0 ou a 1-0 são, por definição, renhidos), e mal jogado. Foi, talvez, o Mundial com mais maus jogos de que me recordo. O que dirão, penso mesmo, os que viram o último Mundial na Alemanha, em 1974? Ou os outros Mundiais dos anos 70 (México 70 e Argentina 78)? Ou mesmo os que se recordem da equipa brasileira de 82 (onde já me incluo) ou do Maradona de 86?
Podemos, a quem hoje é jovem, dizer-lhes que o Mundial nem sempre foi assim? E eles acreditarão?

1 comentário:

Unknown disse...

Meu caro, as expulsões dos EUA contra a Itália são justas. Aliás, penso que as arbitragens, do ponto de vista disciplinar, estiveram bem até ao Portugal-Holanda. Após este jogo, a FIFA deu o dito por não dito, e as arbitragens tornaram-se muito mais permissivas. Em relação ao penalty contra a Austrália, aí sim, a Itália foi beneficiada e muito.

Em relação ao facto de podermos sonhar com o título somente num mundial como este, não concordo (mais uma vez). Uma selecção que tem um central como o Ricardo Carvalho, um lateral como o Miguel, Figo, Deco e Cristiano Ronaldo (à partida) tem de pensar na possibilidade do título.

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