Há alguma forma de esperar paz no Médio Oriente? O que poderá fazer que aquelas pessoas, aqueles governos, aqueles países (nas suas complexidades) entendam que ambos vão ter de existir (Israel e Palestina), que algum nível de relacionamento terão de construir?
Este filme já vimos, vezes e vezes sem conta. A táctica é simples e eficaz: provocar Israel, que na reacção é brutal e desproporcionado.
A trama de hoje desenrola-se assim: o Hamas o raptou um soldado israelita. Israel lançou uma ofensiva brutal na faixa de Gaza. O Hezbollah, no sul do Líbano, raptou mais dois soldados. Abertura rápida de segunda frente de retaliação no país dos Cedros. Israel combate em duas frentes, receando mais envolvimento da Síria e do Irão porque lhe raptaram três soldados. Exagerado? Fora de proporções? Essa é a História do Estado de David, e a questão dos 10 milhões de euros. Respondê-la é resolver o Médio Oriente.
Israel não pode não proteger os seus, isso seria ser complacente com estes movimentos «terroristas». Deixar impune tais raptos seria engrossar os já bastos apoios e dinâmicas do Hamas ou Hezbollah, sendo mesmo previsível que outros movimentos possam surgir, dificultando (ainda) mais a função essencial da existência judaica: sobreviver. Este é um argumento: Israel tem de reagir sempre. Quando não o fizer arrisca a sua existência. Conclusão: Israel intervir.
Por outro lado, cada vez que reage, descontrola-se. Já o fizera na última incursão ao Sul do Líbano (com Sharon nos anos 80), fá-lo sempre em cada Intifada, enfim, é uma das trade marks do Estado Israelita, sabemo-lo. O problema é que cada vez que o faz, engrossa imediatamente os apoios de quem quer combater, desprestigia-se internacionalmente e afasta-se do que se pode designar de «status pacífico». Sem referir que a matança, assassínio (seleccionados como o fizeram no passado), ou a aniquilação da possibilidade de existência pacífica da Palestina (fecho de fronteiras, ataques a centrais eléctricas, distribuição de Água, etc) contribuem para uma carta de destruição que se espalha sobre a zona e afasta Israel dos seus propósitos. Argumento: a excessiva reacção provoca danos colaterais diplomáticos, mediáticos e político-sociais de difícil digestão. Conclusão: Israel não intervir.
Há uma terceira via que é a da intervenção escalonada. Aí o problema reside na diferença entre Israel e o Hamas e Hezbollah no que diz respeito ao valor da vida Humana, à dignificação do papel do Estado e à ideia de termo de conflito. Não acredito que o Hamas se importasse que lhe «raptassem» um ministro (o que fizeram). Não o trocariam pelo soldado que tem, este vale 1 ou 2 parlamentos. Por outro lado, Israel não consegue com o Hamas ou com o Hezbollah estabelecer qualquer tipo de relação diplomática baseada em algumas regras de direito internacional ou de diplomacia 101. Ambos os movimentos respondem fora da esfera dos Estados, não tem dirigentes «responsabilizáveis» (se um morre, outro toma o seu lugar), etc. Muito diferente, por exemplo, era a situação da Fatah ou da OLP no tempo de Arafat. Agrava a esta situação o facto do Hamas ter ganho legitimamente as eleições legislativas para o Governo da Palestina. Por fim, a ideia de termo de conflito: para Israel a situação de détente seria satisfatória, mesmo com um muro divisório a separar bem os dois mundos. Para o Hamas o conflito só termina com a destruição total de Israel (que nem reconhece como Estado). E isto é um problema.
Voltamos ao início, como em tantas outras conversas sobre este tema. Será necessário passar à próxima fase de confrontação para que se abram os olhos de Abraão e Moamet? Será necessário uma tragédia nuclear para obrigar uma solução? Ou estaremos na fase quente do ciclo repetitivo do paradigma existencial do século XXI – o Mundo pula e avança, ali mata-se, negoceia-se, mata-se mais um pouco, elegem-se pombas, falcões, o circo é contínuo. Nós assistimos. Em cadeiras confortáveis.
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