“É um acto de cidadania” diz ele, o mesmo poeta que fez gazeta ao trabalho, ou seja, à votação de Orçamento de Estado.
Até agora estava indeciso em quem votar, mas após apreciar a prestação do nosso “Homero” nos debates televisivos, pré-campanha e campanha eleitoral, confesso que fiquei perplexo e até um pouco assustado com o que ali vai.
Alegre, aquele que se diz representante do povo e o único que integra uma candidatura supra-partidária (essa dá mesmo vontade de rir, basta olhar para os PS de segunda linha que lá está, aqueles que ficaram sem tacho) defraudou-me as expectativas por não ser de facto um político minimamente profissional. Não porque ele assim o deseje, como dá a entender, mas porque a meu ver não tem competência para tal. Antes de mais é preciso desmistificar que os políticos não devam ser profissionais. Erro, e o bom exemplo é Louçã, que em quatro anos de legislatura e sem lugar cativo no parlamanto apresentou mais trabalho que Alegre alguma vez tenha feito com trinta anos de casa.
É muito fácil dizer que “A Mim Ninguém Me Cala” e dar uns murros na mesa com voz de trovão, mas onde é que está e esteve a tal “cidadania” de Alegre em 30 anos de vida parlamentar? Alguém se lembra de intervenções brilhantes de Manuel Alegre na AR em defesa da tal cidadania? E se de facto ele está tão preocupado com os velhinhos, com os emigrantes, com a sociedade civil, desempregados etc, porque raio é que não a exerce?
Coisas simples como propostas, projectos de lei e outro tipo de intervenções nesse sentido. Trabalho de sapa, trabalho consistente e relevante. Alguém se lembra de alguma coisas do género? Não, mas todos sabemos que faltou à votação do O.E. e chamou a isso sim, “Um acto de cidadania”.
Eu lembro-me de alguns dos bons livros que escreveu, mas isso, de Lobo Antunes a Saramago, há muito boa gente talentosa neste país, e nem por isso se considera pois, um acto de cidadania.
Alegre afirma que é necessário dar a cara, mas onde raio esteve ele, por exemplo na Guerra do Golfo II? Vi Soares e vi Freitas na televisão a levarem porrada de um tal Vasco Rato e outro Luís Delgado, mas sem medo, protagonizaram a liderança da frente de um combate contra essa grande mentira colectiva. Estava lá Alegre? Alguém deu por ele? Ou sentiu a sua falta?
Este é apenas um entre tantos exemplos nos quais Alegre aparece sempre levado pela onda, como homem de segunda linha, arrastado pelo inevitável dos factos consolidados.
Pelo andar da carruagem, arrisca-se a passar à segunda volta e pela lógica do voto útil, se calhar até ganhar, senão, pelo menos a ombrear taco a taco com Cavaco. Mas será que é o melhor homem para o lugar? Tenho dúvidas, muitas dúvidas.
Alegre, não está talhado para o cargo e não percebe nada da Realpolitk. Não daquela onde as coisas se resolvem dando murros na mesa e esgares patéticos do estilo “A mim ninguém me cala”. Deixemos esse dramatismo bacoco de lado.
Falo daquilo que mexe com o mundo, com a economia, com a diplomacia, as guerras de bastidores, os jogos de poder e influência geopolítica e geoestratégica.
Pensei no início que o Zé Gordo já estava velho, mas a verdade é que o Bochechas está como o vinho do Porto. E, para aquilo que interessa neste cargo, desenvolveu trabalho relevante ao longo destes anos mesmo quando não ocupava cargos políticos ou públicos. Será que isto não é cidadania?
Todos conhecem Soares, e sabem o que pensa. É destemido e não tem medo de discordar publicamente das políticas de Bush, sustentando a argumentação com lógica e bom senso. É um homem moderado e de consensos.
Alegre não, deslumbrado com o eminente poder, julga-se um suserano, uma espécie de Che Guevara dos século XXI, quando o próprio Soares foi infinitamente mais importante no tal combate épico contra o fascismo do que Alegre. Isto para nem mencionar Cunhal, Humberto Delgado, Melo Antunes entre outros.
O Zé Gordo é um jogador, sabe fazer bluff, tem manha, mas também estratégia e não as vistas curtas. Pode ser que me equivoque, mas Alegre, anda à deriva, não possui ideias, o que é estranho para alguém que anda há 30 anos a viver da política. Será que não conhece os problemas? Se entrevistarmos algum empregado fabril que ande há 30 anos na mesma empresa, de certeza que nos aponta defeitos e até soluções criativas de como superar a crise. E o Manel? Onde está a sua criatividade? Onde estão as suas ideias. Se espremermos bem os seus inflamados discursos, ficamos com uma mão cheia de nada, tal como laranjas secas. Sobram apenas chavões e bonitas frases com sentido pseudo-patrióticas, mas que revelam uma pobreza confrangedora daquilo que ele se propõe ser, o mais alto magistrado da nação.
N’Dalo Rocha
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