quinta-feira, janeiro 26, 2006

BAUHAUS - O Regresso



This is for when the radio is broken and crackles like uranium orchids
This is for when the fohn-wind rattles the telegraph wires like a handful of bones
This is for when dream ambulances skitter through the streets at midnight
This is for when you get caught in a sleep-riot and the sky is out of order
This is for when your sex is full of voodoo
This is for when your clothes are imaginary
This is for when your flesh creeps and never comes back

Epígrafe do álbum Mask (1981)
Os rapazes altos, pálidos e perigosamente magros, como alguém lhes chamou (ou então fui eu que sonhei), estão de volta com a sua segunda tournée de reunião denominada “Near the Atmosphere”, cujo encerramento é exactamente em Portugal, no Coliseu do Porto, no próximo dia 17 de Fevereiro (data do meu aniversário!).
Oriundos de Northampton, Inglaterra, os Bauhaus formaram-se em 1978 e duraram apenas cinco anos, tempo suficiente para se tornarem numa lenda. O seu segredo estava tanto na música, como na imagem, visto que souberam juntar os dois factores e criar um estilo próprio, único. No que diz respeito à imagem, receberam a influência das estrelas do glam rock dos anos setenta como David Bowie, Marc Bolan e os Roxy Music, e moldaram-na à sua música, inspirada na rebeldia de Iggy Pop e do punk, e na melancolia negra e alternativa dos Velvet Underground. O resultado foi uma banda capaz de fazer música frenética (“Dark Entries”, “The Sanity Assassin”) e música melancólica (“Hollow Hills”, “Crowds”), música poderosa (“Double Dare”, “Antonin Artaud”) e música delicada (“She’s in Parties”, “Who Killed Mr. Moonlight?”), imersa num ambiente mágico e sombrio, proporcionado por tudo o que dizia respeito à banda, desde as capas e interiores dos seus discos à sua presença em palco. David J., o baixista, e o seu irmão Kevin Haskins, o baterista, ambos de cabelo rente e vestes escuras (os óculos escuros de David J., que raramente tirava, tornaram-se a sua imagem de marca) eram discretos e enigmáticos. O guitarrista Daniel Ash e o vocalista Peter Murphy eram os exuberantes: cortes e penteados audazes, maquilhagem transbordante e roupas inclassificáveis. Murphy juntava a energia de Iggy Pop à presença andrógina do David Bowie da primeira metade dos anos 70, não se limitando a cantar as músicas, mas interpretando-as como um actor ou um bailarino.
Até 1983, editaram quatro álbuns de originais (In The Flat Field; Mask; The Sky’s Gone Out; Burning From The Inside) e um gravado ao vivo (Press the Eject and Give Me The Tape). Desta curta carreira, gostaria de salientar três dos seus pontos mais altos. Primeiro, o tema “Bela Lugosi’s Dead”, que foi o seu primeiro single. Que melhor apresentação para uma banda como os Bauhaus do que “Bela”. Dez minutos de pura magia, resultante da atmosfera que o diálogo entre os instrumentos e a voz de Peter Murphy conseguiu criar: um ritmo de percussão repetitivo, os inquietantes sons produzidos pela guitarra de Daniel Ash, uma linha de baixo sugerindo mistério, e a voz, primeiro cavernosa, depois lamentosa, de Peter Murphy.
Depois, a participação da banda na sequência inicial do filme de Tony Scott, The Hunger, com Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Bowie e Deneuve são um casal de vampiros que procuram uma vítima num clube nocturno. A banda que lá se encontra a actuar são os Bauhaus tocando “Bela Lugosi’s Dead”. Porém, apenas Peter Murphy surge, de facto, no filme, movimentando-se por trás de uma rede enquanto canta, uma fera enraivecida e, ao mesmo tempo, sedutora.
Finalmente, o fabuloso single “Ziggy Stardust”, uma cover do tema de David Bowie e que consegue ser melhor que o original (algo raro nas covers), fruto da guitarra poderosa de Ash e da arrepiante interpretação vocal de Murphy.


Já se passaram 23 anos, desde a separação do grupo. Peter Murphy enveredou por uma carreira a solo de sucesso (quem não reconhece o famoso “Cut’s You Up” logo nos primeiros segundos), enquanto Ash, David J. e Haskins continuaram a trabalhar juntos em projectos como os Tones on Tail e os Love and Rockets, e, por vezes, também em projectos a solo. Porém, passado todo este tempo, a magia dos Bauhaus não morreu. As suas tournées de reunião são prova disso. Em 1998, o que começou apenas por ser um par de concertos em Los Angeles transformou-se numa digressão mundial com direito à gravação de um álbum ao vivo (Gotham) e de um vídeo, recentemente editado em DVD, embora em Portugal só exista na versão para leitores de Zona 1. Agora, quase oito anos passados, uma nova reunião é o suficiente para mais uma volta ao mundo. Entre Outubro e Dezembro deram 33 concertos na parte da digressão destinada ao México, Estados Unidos e Canadá. Na Europa, têm, por enquanto, 17 concertos agendados, começando no próximo dia 28 de Janeiro em Dublin.
Eu, por motivos de saúde, não posso assistir a concertos, mas não queria deixar de sugerir a quem não conhece Bauhaus que vá dia 17 de Fevereiro ao Coliseu do Porto, até porque, como é a última actuação da digressão, deverá haver um alinhamento de músicas mais vasto e, talvez, com algumas surpresas. Ou então, se não quiser arriscar, que vá à FNAC do Chiado e compre as compilações Bauhaus – Vol. I e Bauhaus – Vol. II (estão em promoção, a cerca de 7 ou 8 euros cada), pois são uma boa introdução à música da banda. Existe também uma excelente biografia dos Bauhaus intitulada Dark Entries – Bauhaus and Beyond, da autoria de Ian Shirley.
Mais informações e novidades sobre os Bauhaus em http://www.bauhausmusik.com/

Sem comentários:

Pesquisar neste blogue