sábado, março 03, 2007

Triptico

Tríptico

Finalmente o Ricardo Revez acabou o seu tríptico sobre o Topsy Turvy, filme inglês que retracta relata a génese da famosa ópera-cómica The Mikado, representada pela primeira vez em 1885.
Em três excelentes textos, o Ricardo envolve-nos nos ambientes recônditos da Inglaterra vitoriana, transportando-nos para o seu período histórico, o fin de siècle e o decadentismo.
Aparte das deambulações académicas e culturais, o Ricardo ainda nos apresenta uma excelentemente elaborada critica a filme, deixando-nos (pelo menos a mim) com muita vontade de o ver.
Alguns excertos .

Topsy Turvy - I

O filme aproveita este acontecimento histórico para traçar, de uma forma bastante eficaz, um retrato da sociedade vitoriana. Um bom exemplo disso é o gosto pelo exótico, sobretudo o exótico oriental, bem patente na escolha de um ambiente nipónico para fazer desenrolar o enredo de The Mikado. De facto, mais ou menos por essa altura e nos anos seguintes, escritores como Wenceslau de Moraes, Lafcadio Hearn e Pierre Loti, iriam fascinar-se pelo Oriente e publicar obras imersas no seu ambiente (Loti escreveu Madame Chrysanthème em 1887, que iria inspirar Puccini a compor a famosa ópera Madame Butterfly - esta paixão por um Oriente mais ou menos mitificado foi, sem dúvida, uma das componentes da cultura finissecular europeia).

Topsy Turvy - II

O fim do século XIX foi um período de excessos. As drogas e o álcool eram comummente usados no meio artístico e intelectual. Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Freud, Swinburne, Dante Gabriel Rossetti, entre outros, encontraram conforto, inspiração ou um mero escape nestas substâncias. Algumas delas, como a morfina e a cocaína, haviam-se tornado cada vez mais "populares" graças à invenção da seringa hipodérmica. Até mesmo o famoso Sherlock Holmes era um regular consumidor de cocaína. Em Topsy Turvy, este assunto é abordado através de duas personagens: o actor George Grossmith (1847-1912), viciado em morfina, e que vemos a injectar-se momentos antes de entrar em palco na estreia de The Mikado, provavelmente para se acalmar; e a actriz Leonora Braham (1853-1931), alcoólica, e que, devido ao seu vício, é ameaçada pelo director do teatro, Richard D'Oyly Carte, de despedimento.

Topsy Turvy - III

Numa das cenas, Gilbert usa um telefone rudimentar para comunicar com uma outra personagem. O filme passa-se em 1884-1885, apenas alguns anos após a invenção do telefone, e, de facto, sabe-se que, desde 1882, o co-autor de The Mikado tinha dois desses aparelhos, um em sua casa e outro no Savoy Theatre, para poder controlar os ensaios e preparativos dos espectáculos no conforto do lar. Porém, só nos apercebemos da novidade do aparelho através da maneira atrapalhada como Gilbert tenta terminar uma conversa telefónica, avisando várias vezes o receptor de que ía desligar com medo de o deixar "pendurado" (situação semelhante às seis ou sete despedidas que hoje proferimos, sempre com o objectivo de sermos os últimos a fazê-lo e não deixar o interlocutor sem resposta ao seu "adeus"...).

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