No outro dia dei por mim a ouvir Madredeus (o que faço muito enquanto trabalho - tenho vários dos seus álbuns na minha playlist) e a prestar atenção a esta letra. Nunca tinha apercebido da dimensão política do projecto do Pedro Ayres Magalhães e da Teresa Salgueiro (entre outros). Ainda não sei quem assina a letra, a ser o Pedro surpreende, pois não me parece embebida naquele nacionalismo bacoco com que nos brinda aqui e ali, pelo contrário. Lembrei-me, naturalmente, da Sophia de Mello Breyner. Não sei porquê. Ficou a descoberta, e a vontade de encontrar mais.
As Brumas do Futuro
Sim, foi assim que a minha mão
Surgiu de entre o silêncio obscuro
E com cuidado, guardou lugar
À flor da Primavera e a tudo
Manhã de Abril
E um gesto puro
Coincidiu com a multidão
Que tudo esperava e descobriu
Que a razão de um povo inteiro
Leva tempo a construir
Ficámos nós
Só a pensar
Se o gesto fora bem seguro
Ficámos nós
A hesitar
Por entre as brumas do futuro
A outra acção prudente
Que termo dava
À solidão da gente
Que deseperava
Na calada e fria noite
De uma terra inconsolável
Adormeci
Com a sensação
Que tinhamos mudado o mundo
Na madrugada
A multidão
Gritava os sonhos mais profundos
Mas além disso
Um outro breve início
Deixou palavras de ordem
Nos muros da cidade
Quebrando as leis do medo
Foi mostrando os caminhos
E a cada um a voz
Que a voz de cada era
A sua voz
A sua voz
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