terça-feira, abril 15, 2008

Semibreves


Semibreve


Dois poemas de amor e corpo escritos por duas mulheres.


O LIVRO DOS AMANTES

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema.
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor.
Fica assim intuito.
Prometido.


Natália Correia, Poemas, 1955





POEMA AO DESEJO

Empurra a tua espada
no meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo

que eu sinta de ti a queimadura
e a tua mordedura nos meus rins

deixa depois que a tua boca
desça
e me contorne as pernas de doçura

Ó meu amor a tua língua
prende
aquilo que desprende da loucura


Maria Teresa Horta, Minha Senhora de Mim, 1971

1 comentário:

Light my fire disse...

Belíssimos textos de duas grandes mulheres. Retribuo com um poema de amor e saudade escrito por um homem:

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinícius de Moraes

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