Sobre as caricaturas que se publicaram em vários jornais e diversos órgãos na Europa e sobre a reacção de alguns sectores do mundo islâmico tenho a dizer que o aparecimento das referidas caricaturas no Jyllands-Posten diário conservador Dinamarquês tinham tudo menos o objectivo da liberdade de expressão, tal diário é lido pela população conservadora e de extrema-direita da Dinamarca que é consensualmente contra a manutenção da Dinamarca na União Europeia e defende um isolacionismo e nacionalismo perigoso, até sob o ponto de vista Dinamarquês, por isso o objectivo claro destas caricaturas foi a ofensa directa a uma religião e provocar todos os crentes do Islão, querendo referir que os mesmos são todos terroristas, não obstante de a primeira publicação das mesmas remontar a Setembro, o facto de terem sido republicados por um jornal diário da mesma tendência conservadora, isolacionista e nacionalista na Noruega, gerou os verdadeiros actos de radicalismo que agora estamos a assistir.
E porquê Radicalismo e não Extremismo, porque e desde já esclareço, no Islão ou se leva a religião ao extremo ou então não se é Islâmico, ou seja não podem existir Islâmicos não praticantes, assim o exige a sua religião mas não obstante este facto podem existir formas mais ou menos radicais de encarar a sua prática, e isso é o que leva o aparecimento dos radicais islâmicos. E porque é que só depois de terem sido republicadas as caricaturas num jornal diário Norueguês é que se provocou esta celeuma, primeiro porque na Noruega existe uma comunidade Islâmica radical á muito radicada e que transmitiu esta indignação aos restantes movimentos e militantes radicais nos variados países árabes e depois porque surgiram uma conjugação de factores que potenciaram estes protestos. A recente eleição do Hamas e a sua não-aceitação pela União Europeia, enquanto governo legitimo para ser ajudado por esta (relembro-vos que a U.E. doa mais de 80% do orçamento da Autoridade Palestiniana), se não reconhecer Israel, renunciar á violência, aceitar os acordos já assinados e moderar a sua linha islamizadora radical, coisas que são difíceis de acontecer (mas não impossíveis ou improváveis), o facto de a União Europeia ter alinhado com a restante comunidade internacional no caso do problema nuclear do Irão e de ter veemente condenado as afirmações xenófobas e completamente absurdas do seu novo Presidente e da União Europeia ter internamente adoptado medidas mais eficientes e ter prendido ou forçado ao exílio radicais islâmicos e os seus movimentos (por isso é que muitos foram para a Noruega que não é da U.E.), são factores que levaram a que esta bandeira fosse erigida neste momento e não noutro. Por esse motivo os actos que assistimos são tudo menos inocentes, inserem-se numa campanha contestária com outros motivos por detrás, pois já foram, infelizmente diga-se passagem, publicadas coisas muito mais ofensivas em relação a Maomé e aos Islâmicos no sul de França por Comunas ligadas á Extrema-direita e á Frente Nacional e nem por isso a reacção foi tão violenta.
Quanto á Liberdade de expressão, é obvio que concordo que não deve ser um valor alienável na nossa sociedade é um valor e princípio básico nas nossas sociedades, e como tal deve ser equilibrada sem a xenofobia ou um antagonismo religioso que poderia ser evitado. Não obstante estes factos a demissão de um editor por publicar as referidas caricaturas só porque o proprietário é Islâmico pressupõe então que o Jornal em causa, o Le Soir, também utilize a mesma bitola quando se referem a matérias ideológicas que não sejam condicentes com o que defende o seu proprietário, tais atitudes são condenáveis e no mínimo esdrúxulas, para não dizer que são uma limitação intolerável da liberdade de imprensa e da autonomia redactorial que em França é um principio que nunca foi abandonado ou mitigado como cá. A publicação das caricaturas, não é a meu ver um acto de liberdade, como muitos parecem querer referir com o acto, mas tão só a multiplicação da ofensa, mas esses limites são determinados pela livre consciência de cada um e numa sociedade onde a liberdade de expressão existe, a liberdade de pensar diferente e de a expressar também existe e por esse motivo, respeito a sua publicação por quem tem essa opinião.
No fundo acabo por comungar da opinião emitida depois de uma reunião entre os representantes xiitas, sunitas e cristãos do Iraque, pedindo para que seja adoptado internacionalmente uma lei (eu defendo um tratado) internacional que proíba atentados aos valores religiosos, não obstante de a segunda parte do mesmo comunicado, que é o sancionamento dos referidos jornais que publicaram as referidas caricaturas, seja ridícula pois então os jornais islâmicos que as publicaram com o intuito de radicalizarem e provocarem ainda mais o seu publico, deveriam ser duplamente sancionados pois o fizeram (tal como os dois jornais inicialmente) mediante o objectivo da provocação do ódio entre as religiões.
A adesão a tais princípios, de não ofensa religiosa deve ser voluntária e não imposta, pois a liberdade de expressão bem como a separação entre o estado e a religião são princípios básicos de muitos mais países que defendem o contrário a esta opinião.
P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.
Sem comentários:
Enviar um comentário