Da indiferença dos governados
Há algum tempo que se vem notando, na blogoesfera, um conjunto de criticas e análises politicas ao governo, que acabam por descambar numa análise critica da democracia e das falhas do nosso sistema democrático.
Esta critica enuncia a lei de bronze da oligarquia, de Robert Michels, que oferece uma explicação de como a classe politica se vai afastando do eleitorado, conforme o sistema político se vai estabilizando, e acaba por se isolar dos elementos de renovação. É interessante de ver como um postulado de 1911, feito com base em pressupostos de outras realidades politicas se adequa à actualidade da democracia portuguesa. O problema reside nas diferenças…
Concordo plenamente com a ideia de que a classe politica dirigente “se bloqueia e isola do resto do mundo, afastando os elementos de renovação” a partir do momento que alcança o poder. Aliás, parece-me uma ideia tão universalmente aceitável que muito provavelmente este enunciado tem origem na própria natureza humana. O problema reside na eficácia da classe politica dirigente.
Em 1911 os limites à participação no processo democrático eram bastante maiores do que agora. Também os processos internos dos partidos políticos eram muito mais estanques e limitativos no aproveitamento de forças renovadoras dentro dos partidos. Agora se olharmos para as diferenças entre as barreiras à participação dos governados no processo de decisão dos governantes vemos que não existe nenhuma razão para a classe politica dirigente ter hipótese de conseguir afastar qualquer tipo de ímpeto renovador de maneira sistemática e permanente…
Ou seja, se a classe politica dirigente realmente quer afastar qualquer força que ameace o status quo, mas não tem mecanismos para o fazer de maneira sistemática, e mesmo assim o status quo se mantêm, então talvez o problema não resida nos governantes mas sim nos governados.
Sem sequer analisar a ideia do Rui A. sobre a influência da União Europeia no imobilismo da classe politica dirigente, parece-me que o problema se centra na incapacidade dos portugueses agirem de acordo com aquilo em que acreditam, em vez de nos mantermos como treinadores de bancada, sempre capazes de fazer melhor do que os que lá estão, mas nunca fazendo nada. Assim esperamos sempre por um D. Sebastião, uma qualquer intentada, revolução ou afins, que mude o status quo mas… que não nos obrigue a mexer muito, esquecendo que em democracia para mudarmos o status quo só temos de ter mais votos que os outros!
João Boavida
P.S. – Só para evitar alguma confusão, eu não acho que os políticos sejam santos, mas se classe política dirigente tem culpas no afastamento dos governantes e dos governados, não são os únicos!
Há algum tempo que se vem notando, na blogoesfera, um conjunto de criticas e análises politicas ao governo, que acabam por descambar numa análise critica da democracia e das falhas do nosso sistema democrático.
Esta critica enuncia a lei de bronze da oligarquia, de Robert Michels, que oferece uma explicação de como a classe politica se vai afastando do eleitorado, conforme o sistema político se vai estabilizando, e acaba por se isolar dos elementos de renovação. É interessante de ver como um postulado de 1911, feito com base em pressupostos de outras realidades politicas se adequa à actualidade da democracia portuguesa. O problema reside nas diferenças…
Concordo plenamente com a ideia de que a classe politica dirigente “se bloqueia e isola do resto do mundo, afastando os elementos de renovação” a partir do momento que alcança o poder. Aliás, parece-me uma ideia tão universalmente aceitável que muito provavelmente este enunciado tem origem na própria natureza humana. O problema reside na eficácia da classe politica dirigente.
Em 1911 os limites à participação no processo democrático eram bastante maiores do que agora. Também os processos internos dos partidos políticos eram muito mais estanques e limitativos no aproveitamento de forças renovadoras dentro dos partidos. Agora se olharmos para as diferenças entre as barreiras à participação dos governados no processo de decisão dos governantes vemos que não existe nenhuma razão para a classe politica dirigente ter hipótese de conseguir afastar qualquer tipo de ímpeto renovador de maneira sistemática e permanente…
Ou seja, se a classe politica dirigente realmente quer afastar qualquer força que ameace o status quo, mas não tem mecanismos para o fazer de maneira sistemática, e mesmo assim o status quo se mantêm, então talvez o problema não resida nos governantes mas sim nos governados.
Sem sequer analisar a ideia do Rui A. sobre a influência da União Europeia no imobilismo da classe politica dirigente, parece-me que o problema se centra na incapacidade dos portugueses agirem de acordo com aquilo em que acreditam, em vez de nos mantermos como treinadores de bancada, sempre capazes de fazer melhor do que os que lá estão, mas nunca fazendo nada. Assim esperamos sempre por um D. Sebastião, uma qualquer intentada, revolução ou afins, que mude o status quo mas… que não nos obrigue a mexer muito, esquecendo que em democracia para mudarmos o status quo só temos de ter mais votos que os outros!
João Boavida
P.S. – Só para evitar alguma confusão, eu não acho que os políticos sejam santos, mas se classe política dirigente tem culpas no afastamento dos governantes e dos governados, não são os únicos!
4 comentários:
João Boavida,
Concordo com o que dizes. Também estou farta de treinadores de bancada, alguns dos quais, muitos mesmo, especializados nessa função há anos, se não mesmo há décadas.
São os seres mais monocórdicos do mundo, julgando (?) cantar amanhãs floridos. Insuportáveis, dizem sempre o mesmo, simplificando a realidade, deitando mão a meia dúzia de noções - que não conceitos - reificadas para sloganizar a vida política. São os detentores das 6 verdades.
Treinadores de bancada, detentores das 6 verdades, cristalizados numa observação míope da realidade, a verdade é que não procuram mudar, mais não fora adoptando uma atitude de atenção para com a diversidade dos factores originadores de factos. Não ouvem, não vêem, não apalpam, não saboreiam. Mas, infelizmente, falam e vociferam, julgando-se uma pequena vanguarda iluminada.
Pode-se ouvi-los: "não tenho culpa, não votei Partido Socialista", o que é verdade. Como é ilustrativo, na frase, o funcionamento mental dos treinadores de bancada: duas negativas uma só afirmação demonstram bem o espírito negativista e azedo de quem está sentado segurando o livro das 6 verdades.
João Boavida,
Concordo com o que dizes. Também estou farta de treinadores de bancada, alguns dos quais, muitos mesmo, especializados nessa função há anos, se não mesmo há décadas.
São os seres mais monocórdicos do mundo, julgando (?) cantar amanhãs floridos. Insuportáveis, dizem sempre o mesmo, simplificando a realidade, deitando mão a meia dúzia de noções - que não conceitos - reificadas para sloganizar a vida política. São os detentores das 6 verdades.
Treinadores de bancada, detentores das 6 verdades, cristalizados numa observação míope da realidade, a verdade é que não procuram mudar, mais não fora adoptando uma atitude de atenção para com a diversidade dos factores originadores de factos. Não ouvem, não vêem, não apalpam, não saboreiam. Mas, infelizmente, falam e vociferam, julgando-se uma pequena vanguarda iluminada.
Pode-se ouvi-los: "não tenho culpa, não votei Partido Socialista", o que é verdade. Como é ilustrativo, na frase, o funcionamento mental dos treinadores de bancada: duas negativas uma só afirmação demonstram bem o espírito negativista e azedo de quem está sentado segurando o livro das 6 verdades.
Vera,
Normalmente gosto quando fazem referencias que não conheço, é a principal razão pela qual escolho novos autores e novos livros.
Mesmo assim, a ideia das seis verdades passou-me ao lado. Imagino que não sejam estas:
6 Verdades Da Vida…
1. Você não pode tocar todos seus dentes com sua língua.
2. Todos os idiotas, depois de ler a primeira verdade, tentarão fazer.
3. A primeira verdade é uma mentira.
4. Você está sorrindo agora porque você é um idiota.
5. Você enviará isto logo para outro idiota.
6. Ainda há um sorriso bobo na sua cara.
Está um bocado fora do tema, mas depois de me sentir idiota, achei que podia partilhar aqui. Ou seja, mantenho a minha ignorancia em relação às 6 verdades.
Adorei. Sorri qual boba. Não reenvio, prometo.
O Livro das 6 Verdades acabou de ser inventado
Podia / poderia ter sido apelidado O Livro das 7 Verdades.
Escolhi a primeira designação por ter um certo ar de "Cartilha de Mao Tsé Tung" e não mencionar o número 8. O outro hipotético título evoca a Criação e a nossa cultura. That was´nt the idea.
Tem título. Já é alguma coisa. O conteúdo é o mesmo há muitos anos.
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