sexta-feira, agosto 26, 2005

A PRODUTIVIDADE

Naquele grande telejornal que é o Jornal Nacional, foram comparados os dias de férias dos portugueses com os do resto do mundo. Como se sabe, Portugal tem 22 dias de férias por ano, já a China tem 10 dias e, imagine-se, como nos regimes feudais, os EUA não têm férias por lei, isto é, as férias são "negociadas" entre o patrão e o trabalhador, numa luta entre David e Golias, mas com muitos David's desesperados para dar de comer aos filhos. Assim, muitos David's desesperados, que são cada vez mais, deverão aceitar trabalhar 52 semanas por ano.

Depois a jornalista comparou a economia dos EUA e da China com a de Portugal: "por aí logo se vê quem produz mais e quem produz menos".

Também falaram das Filipinas que tinham 5 dias de férias, do México com 6, do Japão com 12, da Espanha com 22 e da Suécia bem como a França com 25. Mas a senhora jornalista comparou-nos com a China e os EUA, imagine-se.

O sentimento com que fiquei no fim da reportagem foi que os portugueses trabalham pouco e deviam trabalhar mais para aumentar a produtividade e assim melhorar a economia. Mas depois pensei o porquê? dos países com menos dias de férias terem maior produtividade, apesar da minha comparação no 3º parágrafo...

Veio-me logo à cabeça que quem mais trabalha mais produz. Mas ainda havia qualquer coisa que não estava certa, é que, tenham os trabalhadores as férias que tiverem, produz-se o mesmo, afinal há sempre as mesmas fábricas e há sempre quem trabalhe.

Assim, cheguei à conclusão que não é a produção que está em causa, mas o subsidio de férias. Quanto menos férias os trabalhadores tiverem menos o patrão pagará aos do part-time na altura das férias.

Os donos das multi-nacinais são os únicos que perdem em os trabalhadores terem férias, afinal mesmo Portugal tendo uma média normal de férias e não ter fraca como as outras coisas quase todas, isso não prejudica em nada a produtividade, mas a riqueza dos ricos. Se as férias baixassem, a única coisa que mudava em Portugal era o stress e as depressões dos trabalhadores, a riqueza dos ricos e o desemprego, que subiam...

As pessoas trabalham para viver, não vivem para trabalhar.

Publicado por Emanuel Saramago (Editor de Socialismos) no dia 13 de Agosto de 2005.

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