quarta-feira, agosto 13, 2008

Silly Season

Silly Season
O PSD conseguiu demonstrar a razão pela qual esta altura do ano é denominada silly season, na semana que agora finda. Desta vez através do vice-presidente António Borges que, à falta de vontade e paciência da líder para estas coisas (menores ?!) de entrevistas e difusão de alternativas governativas, vai tentando preencher o vazio. À falta de outras ideias, retirou da gaveta a hipótese de avançar com a privatização da CGD, proposta que, mais uma vez, não recebeu consenso nem no próprio PSD. Aliás, a própria líder tinha refutado essa ideia no período pré-eleitoral interno. Se recordarmos a antagonia também em relação à redução dos impostos, chegamos à conclusão que as incoerências entre ambos continuam a acumular-se.

Se bem que neste caso consegue-se vislumbrar o piscar de olho aos mais liberais dentro e fora do partido, tanto que a abertura de capital a accionistas privados de uma empresa com lucros sempre em crescendo, superiores a 900 milhões de euros em 2007, abre o apetite a muito boa gente.

E se dúvidas houvesse da importância da detenção da CGD pelo accionista Estado, vem o seu Presidente do Conselho de Administração, Faria de Oliveira, destacado militante social-democrata, afirmar exactamente o contrário, antes desempenhando um papel importante na defesa de centros de decisão nacionais, e defendendo os interesses das empresas portugueses e dos seus empresários.

A azia deve ser tanta que levou à recusa da ida de Ferreira Leite à Festa do Pontal, marca da reentré política do PSD, numa medida tão inovadora quanto reveladora das tentativas de distanciamento da mesma do PPD/PSD que tenta a todo o custo meter na gaveta...

Ricardo Fresco
Secção de Belém

1 comentário:

João Marcelo disse...

Caro Ricardo,

Nesta matéria, como noutras, a questão foi (propositadamente) mal colocada pelo PSD. Por este motivo, para sermos sérios, temos o dever de não responder a uma questão (desonestamente) mal formulada.

As perguntas que devem ser colocadas são:
1 – É importante ter um banco público?
2 – Se sim, o que é que queremos que a CGD seja?
3 – Faz sentido ter “esta” CGD como banco público?
E apenas da resposta a estas perguntas podemos tirar alguma conclusão sobre se devemos, ou não, privatizar a CGD.

1 - Em meu entender, é importante ter um banco que, pela sua dimensão, seja uma referência do mercado, funcionando como regulador da concorrência através da sua actuação ética, boas práticas comerciais e verdadeira “responsabilidade corporativa”, ainda que sem se afastar dos modernos padrões de eficiência. Este papel de referência e regulação apenas é possível se a prioridade não for a obtenção de lucro nem a criação de valor para o(s) accionista(s).

2 - A CGD deve ser uma referência em matéria de confiança com o cliente, comissões mais baixas, sigilo, qualidade no atendimento, presença nas zonas do interior, concessão de microcrédito, financiamento de PME ou de sectores em reestruturação, financiamento de projectos de interesse público ou mecenato, transparência no relacionamento com clientes menos esclarecidos. Ainda que reconheça que a CGD é a maior contribuinte em termos de dividendos, ela deve liderar pelo exemplo, e não pelos lucros.

3 – Em meu entender, não. Aquilo que temos é uma CGD com agressivas campanhas de marketing (por vezes enganadoras, no limite das regras do BdP), com uma prática comercial semelhante à dos seus concorrentes privados (será que o banco público não devia arredondar os juros à milésima por uma questão ética, mesmo antes de ser obrigatório por lei?) e que já foi usada para o Governo intervir na vida de outras empresas privadas (por exemplo, BCP). Se se pretender que a CGD actue desta forma, como uma qualquer SA, então não faz sentido que o capital seja detido pelo Estado e aí começamos a ouvir falar em privatizar a CGD…

Em conclusão, entendo que os bancos públicos têm um modelo próprio de negócio (não deixando de ser suficientemente eficientes) que inclui certas obrigações que se não forem cumpridas deixa de fazer sentido existirem. A solução não é a privatização da CGD, como o PSD parece propor de forma tonta, simplista e muito (mesmo muito) perigosa e irresponsável. A verdadeira questão é sabermos qual deve ser o papel DIFERENCIADOR da CGD enquanto banco público… mas a isso o PSD não responde!

PS: idêntica discussão deve ser tida em relação à RTP.
PS 2: Para vermos quão tonta é esta ideia do PSD, pensemos no risco que seria atravessar uma crise financeira (como a do subprime) sem a existência de um banco público.
PS 3: sou cliente da CGD e estou muito satisfeito. Aliás, tenho de lá ir esta semana… talvez vá ao Saldanha!!
PS 4: as minhas desculpas por não conseguir ser conciso.
PS 5: Um grande abraço ao "Zé" Santos. Espero voltar a ver essa bóina em breve.

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