domingo, agosto 02, 2009

IGUALDADE DE GÉNERO. Os discursos da testosterona?



Cito o programa do XVII Governo Constitucional para 2005 – 2009:

Reforço da participação política das mulheres em todas as esferas de decisão, cumprindo o artigo 109º da Constituição e estendendo o seu entendimento à economia e à inovação.

E chamo a atenção para a forma como as mulheres políticas continuam a ser tratadas nos discursos mediáticos, nos discursos quotidianos e, last but not least, nos discursos de reflexão e análise política. [...] São disso exemplo os ataques a Joana Amaral Dias (em quem eu nunca votei) e a Manuela Ferreira Leite (em quem eu nunca votei) que deixam passar, ora subrepticiamente ora explicitamente, apreciações extra-políticas, localizadas num factor, a idade. Relativamente à primeira por ser uma jovem, à segunda por não ser uma jovem.

Parece que o “reforço da participação política das mulheres em todas as esferas de decisão" tem causado muitos engulhos aos “homens em todas as esferas de decisão”. Não podendo impedir a entrada nas arenas políticas e de poder, a reacção a estas protagonistas situa-se, ao nível do discurso, em qualificativos referidos ao corpo e ao suposto sex-appeal (ou à sua suposta ausência) das mulheres-na-política - sexy e velha – a partir dos quais são simbolicamente anuladas as competências que deveriam ser objecto de análise, as competências políticas.

Dir-se-ia que o factor tempo incide fortemente nos corpos femininos das mulheres políticas, incapacitando-as para o exercício do poder político quer por serem jovens (demais?) quer por terem idade (a mais?). No entanto, o tempo parece não se constituir como um factor que, incidindo nos corpos masculinos, os incapacita para o exercício do poder político. Muito pelo contrário, um jovem político “tem garra”, um político menos jovem tem “sabedoria e experiência”. O tempo de duração na vida política é outro factor a pesar na longevidade da permanência no campo político, se de uma mulher se tratar. De Helena Roseta disse-se - aquando do pacto com António Costa - estar gasta (na política? na vida? ou na política porque na vida?).

Falo de discursos e de rastos e restos de violência simbólica neles contida. Das práticas direi de minha justiça num futuro post. Como não acredito na imutabilidade dos comportamentos humanos - imutabilidade baseada em correntes de pensamento vindas da sociobiologia - quero crer que estes "discursos da testosterona" o não são. Serão, sim, produtos de "habitus" (Bourdieu) incorporados por processos de socialização que se reproduzem de geração em geração.


Nota
Post (da minha autoria) publicado no dia 1 de Agosto de 2009 no blog SIMpleX

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