Henrique Raposo, cronista residente do Expresso e autor do blogue Clube das Repúblicas Mortas (grande nome, by the way) tem no seu blogue um texto, assinado por Bruno Vieira Amaral mas que presumo que o dono do blogue concorda, que conta uma "estória" de um Sr. que vai ao SAP com o filho para que este seja atendido e, depois de voltas e mais voltas, recorre aos sistemas de saúde privada, mesmo sendo estes mais caros, para resolver o problema que aflige o filho (otite).
Conclui o texto que o dito Sr. vê o problema do seu filho resolvido no privado, e portanto o Sr. não se importa de pagar mais no privado pois com a saúde não se brinca. Após esta parte, o texto segue posteriormente o caminho da ADSE.
Em relação à primeira parte deste texto, duas coisas a dizer:
- Gostaria de saber em que estudo é que o texto se baseia, pois da maneira que esta situação é posta, o privado leva vantagem sobre o público numa questão tão "simples" como uma otite. Como o autor do texto não explica, parto do pressuposto que ou é uma ideia pré-concebida ou é uma experiência pessoal. Se for a segunda, é uma situação infeliz, mas que pode acontecer a qualquer um, seja no público ou no privado. Se for a primeira, nem vale a pena discutir: é uma ideia pré-concebida e por muito que se possa dizer não vai alterar a ideia do autor do texto
- Em relação à questão monetária da situação, o que eu não entendo é como um liberal que defende o mercado livre se esquece dum princípio básico da economia de mercado: A Lei da Oferta e da Procura! Parece-me óbvio que o atendimento do privado, sendo já bastante mais caro que o do público e tendo a concorrência deste, tem os seus preços controlados pela oferta apresentada pelo sector do público, pois certamente muita gente prefere ir ao sector público. Acabando com esta oferta, nada regula o mercado, e o sector privado poderá subir os preços como quiser, pois a oferta procura aumentará obrigatóriamente. Afinal, e como o autor do texto afirma "o(s) senhor(es) K.('s) não é (são) maluco(s) e a saúde do(s) filho(s) é uma coisa que o(s) preocupa" (os plurais foram colocados por mim)
Parece óbvio que um liberal não se esquece da regra mais básica de mercado - A Lei da Oferta e da Procura – e só se pode concluir que o mesmo desvia as atenções desta situação, que costuma sempre incluir no seu pensamento.
P.S. – Para quem possa estar a pensar que o mercado auto-regularia o preço, devido à concorrência, relembro o que se passa nos casos dos combustíveis e nas telecomunicações. Depois de explicarem a "concorrência feroz" que faz reduzir os preços nestes dois mercados, podem começar a dissertar sobre a competividade no mercado da saúde, se este não fosse regulado.
5 comentários:
Concordo com o essencial, mas tens um erro, algures dizes oferta quando deverias dizer procura. É indiferente onde mudares, funciona em qualquer sitio, a escolha de onde trocares apenas muda por completo o sentido do que estás a dizer. :-)
E o que tens a dizer sobre a lei de Say? Hã, então e a lei de Say?
Era ali (onde está riscado) que estavas a falar?
Pode ser!
O que me parece extraordinário é como ainda há quem acredite que um serviço de saúde totalmente privado possa ser mais benéfico para todos do que um serviço público! Há problemas no serviço público de saúde? Pois há. E é por isso que é preciso investir nele, para corrigir essesz erros. Porque - e disto quase todos se esquecem - é ao serviço público que recorremos, todos, em caso de urgência. Porquê? Porque, com todos os seus defeitos, é sempre melhor e mais bem apetrechado do que um serviço privado.
Nem mesmo depois da última crise mundial, quando Estados por esse mundo fora foram obrigados a intervir nas suas economias e banca nacionais, morre o mito do mercado auto-regulado. Que será preciso para que esse dogma neoliberal desapareça? Ou jamais desaparecerá pois é uma crença alimentada por uma fé chamada dinheiro/lucro?
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