quarta-feira, julho 28, 2010

Podemos agradecer a Sócrates

Os accionistas podem agradecer a Sócrates por ter conseguido tudo o que eles falharam: mais preço e Brasil.

"Vivó Sócrates", Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios

O extracto do editorial do Jornal de Negócios de hoje, acima citado, resume em poucas palavras o que se pode dizer sobre as acções do governo nesta novela PT/Telefónica/Vivo. A venda foi feita por mais 350 milhões de euros do que o preço que tinha ido à Assembleia-geral, e o Governo garante o interesse nacional da manutenção de uma presença estratégica no Brasil, através da compra de 22% da operadora Oi.

Os críticos dizem que a PT trocou uma participação de controlo na Vivo (e não os 50% directos tão badalados, mas sim 50% de uma empresa que detinha 60% da Vivo, ou seja na realidade 30% directos), operadora número 1 do Brasil, por uma participação estratégica numa operadora menor.

Esquecem-se é claro que o problema nunca foi abdicar do controlo por parte da PT, mas sim abdicar de um controlo partilhado (a 50%) com a Telefónica. Sendo impossível partir a empresa, o que destruiria o valor da sua aquisição, uma das duas (PT ou Telefónica) teria sempre que comprar a participação da outra. E sejamos claros, nunca seria a PT. O status quo também era impossível de manter, ante o interesse declarado de comprar por parte da Telefónica. Qualquer outro cenário destruiria a própria Vivo.

A mestria da jogada da Golden Share por parte do Governo, foi conseguir transmitir à população que estava a defender o interesse nacional contra a “ofensiva espanhola”, quando na realidade o interesse nacional estava ameaçado pelos próprios accionistas da PT.

Falamos do BES, da Ongoing e de outros que se intitulavam a si próprios “núcleo de accionistas nacionais”, que na ânsia de lucros a todo o custo, queriam converter a venda da Vivo em dinheiro vivo para si, através de dividendos extraordinários. Sem dúvida um interesse legítimo, mas que não era compatível com o interesse nacional.

A PT traz para o país grandes benefícios da sua participação no Brasil, que muito vão para além do mero lucro financeiro. O centro de inovação da PT existe para sustentar uma empresa de cariz global, não uma mera operadora nacional. A qualidade da sua gestão, da sua I&D e do seu pessoal existem porque a PT é um player mundial. Uma mera operadora nacional não precisa de tais características, nem as consegue sustentar financeiramente.

E foi isso que o Governo salvou. Ao exigir que houvesse uma compra prévia de nova participação estratégica no Brasil, Sócrates impediu que fosse o lucro fácil a matar a galinha de ovos de ouro. E os próprios contornos do negócio são interessantes: a Oi parece ser peça essencial da estratégia do Brasil em expandir a banda larga a toda a população.

A PT entra nesse projecto de interesse público apadrinhada pelo próprio Lula da Silva e. como penso que a própria experiência da PT demonstra, ter o beneplácito de um governo é sempre positivo.

E isso, também podemos agradecer a Sócrates.

Sem comentários:

Pesquisar neste blogue