O circo estava há muito de espectáculo preparado. O Apresentador, um respeitável senhor de barba, dá as boas vindas ao espectáculo. Ao maior espectáculo do mundo. O espectáculo começa com um novo número. Um Domador de um perigoso elefante. Claro que o facto de o elefante ser um pouco entradote foi um pormenor não mencionado, e por ninguém reparado. Provavelmente porque o Elefante, que tinha brio na sua longa e distinta vida, tinha mais prazer em mostrar as suas longas presas do que os papos por debaixo dos seus olhos. Mas o Domador não deixa de manter uma atitude severa, de alguém que enfrenta um animal realmente perigoso.
Depois de efectuado o número do Domador, o Apresentador volta para as luzes da ribalta. O público percebe algum tumulto por trás do pano. Parece que há um novo artista, com um número que pensa poder tornar popular, a querer entrar. Os velhos artistas do circo, no entanto, não o deixam. E nem a argumentação dos seus amigos parece convencê-los. O Apresentador, já experiente com casos destes, rapidamente chama a atenção do público para o próximo número.
The Show must go on.
E eis que surge o grande número. A Trapezista entra em cena. Esta famosa Trapezista é alguém que está habituada ao trapézio. Ninguém percebe muito bem como ela é famosa, pois a sua faceta mais conhecida são as quedas e os números mal efectuados, mas continua a ser destacada como uma das melhores trapezistas do mundo. Do alto do seu trapézio, que alguém apelidou de poleiro, a Trapezista começa o seu número. Por vezes cai na rede de protecção que ainda vai existindo, mas o Apresentador faz questão de nos explicar que tudo isto está previsto. O povo desconfia, mas vai batendo palmas. Eis que surge o grande momento: o ponto alto da actuação da Trapezista. O Apresentador anuncia "um número nunca antes conseguido". A Trapezista vai efectuar um triplo mortal à retaguarda. Os rufos de tambor ecoam pelo circo. A Trapezista balança no trapézio, a ganhar balanço. É agora! Aí vai ela… fazer um mortal simples para a frente. O público fica atónico, a olhar, sentindo-se enganado. Rapidamente o Apresentador entra em cena, arranjando uma explicação para a situação.
Surge, então, o momento mais esperado pela pequenada. O Palhaço aí está. Meia dúzia de piadas já antes vistas e gastas e o seu número está efectuado. O espectáculo termina. O público sai a comentar as piadas gastas do Palhaço. O Apresentador, que está na saída a agradecer a presença, como bom mestre-de-cerimónias que o é, sorri. Já ninguém fala dos erros da Trapezista nem das suas justificações para os mesmos. O Palhaço efectuou com eficácia o seu trabalho.
Está na altura de levantar tenda. O espectáculo vai agora para outra terra. Rasgam-se os cartazes em excesso.
O próximo espectáculo será junto a uma lagoa. Um terreno espectacular, florido. Um verdadeiro jardim! Aqui, o Palhaço sente-se em casa.
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