Tenho nos últimos tempos e no escasso tempo que agora disponho acompanhado um Blog do outro lado do atlântico elaborado por Aluízio Batista de Amorim (*) até porque concordo com a generalidade das opiniões que este apresenta neste artigo, publico-o integralmente aqui:
As eleições parlamentares realizadas na Venezuela sem a participação da oposição, que decidiu se retirar da disputa, encerram um episódio político raro em sistemas formalmente democráticos. Afinal, que leitura se pode fazer sobre isso e o que tem a ver com o Brasil e com toda a América Latina? É isto que tentaremos responder neste artigo.
Historicamente, o Brasil e os demais países que compõem o continente vêm sendo espoliados desde a época colonial. Todos foram colonizados pelo que havia de mais retrógrado na Europa, os povos ibéricos. Criou-se por aqui uma elite escravocrata, tanto é que o Brasil foi retardatário na abolição da escravidão.
Todos esses países latino-americanos têm uma cultura senhorial que permitiu aos endinheirados acumularem por vários séculos, mantendo uma horda de miseráveis e remediados ao seu dispor.
Os salários sempre foram baixíssimos e, ao longo do tempo, criou-se, evidentemente, mais pobreza do que classe média. Esse problema tornou-se mais agudo no final da primeira metade do século XX.
O resultado imediato disso, foram os sucessivos golpes de Estado na região, os quais representaram a derradeira tentativa das classes dominantes tradicionais de continuar no poder.
Ocorre que o índice de pobreza teve um aumento assustador, fato que, por várias circunstâncias internas e externas, inviabilizou a hegemonia das elites. Quanto ao conceito de elite, devo acrescentar que me refiro àquela "tradicional", pois na actualidade observa-se o aparecimento de uma "nova elite" que inclui em sua agenda a responsabilidade social. A velha máxima segundo qual "se não posso derrotar meu inimigo devo me aliar a ele", cai como uma luva no Brasil da actualidade. As elites tradicionais, que odiavam o Partido dos Trabalhadores (PT), não tiveram outra alternativa senão compor com esse partido, apoiando Lula à Presidência. Foi uma estratégia para descompressão social sem risco de ruptura. E tanto é verdade que representantes dos sectores empresariais de corte oligárquico estão lá ao lado do PT nos ministérios e no Banco Central.
Luiz Fernando Furlan, mega empresário da Sadia, por exemplo, é comandado pelo ex-operário Lula, como também o ex-Presidente do Bank Boston, Henrique Meirelles. Na vice-presidência está o maior empresário têxtil da América Latina, ex-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, José Alencar. Para essas elites, isto é conveniente porque o PT, domesticado pelo grupo de José Dirceu, foi fiador dessa estratégia de acalmar os pobres, que constituem a maioria dos brasileiros, dando-lhes ajuda paternalista. Esse mecanismo, acordado em campanha, garantiu ao sistema financeiro que a política económica seria mantida com seu viés monetarista ortodoxo.
Esta foi a única opção para as elites tradicionais continuarem dominando, com a vantagem de não se exporem à crítica de setores radicais, coisa que lhes imporia o risco de perder os dedos e os anéis.
Na Venezuela não houve este “pacto”, daí a razão do afastamento dos oposicionistas do pleito. Lá tentam esvaziar o poder de Chávez dando a impressão de que houve uma eleição fraudada.A proletarização da classe média na América Latina começa, portanto, a desenhar uma correlação de forças políticas completamente nova. De um lado, os ricos. De outro, a esmagadora maioria de pobres. Essa maioria é que decidirá as futuras eleições. Talvez ainda seja muito cedo para prognósticos, mas o que se nota é que os grupos tradicionais de poder não têm mais a influência de outrora, muito menos condições de impor a sua política.
Na Venezuela não houve este “pacto”, daí a razão do afastamento dos oposicionistas do pleito. Lá tentam esvaziar o poder de Chávez dando a impressão de que houve uma eleição fraudada.A proletarização da classe média na América Latina começa, portanto, a desenhar uma correlação de forças políticas completamente nova. De um lado, os ricos. De outro, a esmagadora maioria de pobres. Essa maioria é que decidirá as futuras eleições. Talvez ainda seja muito cedo para prognósticos, mas o que se nota é que os grupos tradicionais de poder não têm mais a influência de outrora, muito menos condições de impor a sua política.
A costura dessa aliança teve um perdedor: a classe média. É ela, e apenas ela, a real oposição ao governo do PT, só que não mais contando com representação parlamentar. Perdeu a sua influência política e foi abandonada à própria sorte. Se a classe média sempre foi, em qualquer lugar do mundo, a locomotiva da geração e da inteligência, é de supor-se que o seu aniquilamento resultará em prejuízos no que se refere ao avanço do conhecimento e da modernização das instituições políticas, bem como na evolução e refinamento dos padrões culturais.
É por isso que os sectores mais bem informados da população brasileira se sentem covardemente traídos por Lula e o PT.
É por isso que os sectores mais bem informados da população brasileira se sentem covardemente traídos por Lula e o PT.
A única coisa que não estava prevista no concerto desse pacto era que o PT fosse com tanta sede ao pote, promovendo um esquema de corrupção avassalador. Mas, às elites, ainda é mais vantajoso dar prosseguimento à "operação abafa" que impede o "impeachment" de Lula. As elites cedem os anéis para não perder os dedos.
Temos, portanto, uma oposição apenas de fachada. E é por tudo isso que Lula continua sendo o favorito para o pleito de 2006.
(*) Jornalista e editor do blog http://oquepensaaluizio.zip.net
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