sexta-feira, abril 28, 2006

História & datas


Barcelona, 14 de Abril 2006.

Há 75 anos a II República Espanhola era proclamada na Cidade Condal pela voz de Franscesc Macià. Hoje (dia 14 de Março) eram pouco mais de algumas dezenas os saudosistas do regime pré-franquista.

Talvez porque, como em outros países (ver o caso do 25 de Abril em Portugal), a data tenha sido apropriada e utilizada para valorizar politicamente quem não tem outra expressão. O folheto que vos mostro foi-me dado (melhor, eu é que o solicitei) na Plaça da Catalunya. É auto-explicatório.

A II República espanhola, se bem que muito marcada pela «esquerda» (a obreira, a socialista, a comunista, a anarquista, a libertária, etc), foi o culminar da evolução de um Ideal, de uma ideia civilizacional, de sociedade. Um pouco como o caso português, rapidamente esse ideal, manifestado nos Homens de primeira hora, se confrontou com as múltiplas realidades possibilistas de fraco equilíbrio político. A verdade é que, como em Portugal, a fragmentação política e as certezas ideológicas das linhas traçadas pelos diversos actores políticos, levaram a que a governança estável fosse uma utopia, diluída que estava nas preocupações. Não havia maioria que se pudesse entender. Todos queriam o Poder, todos julgavam ter a solução. Todos prometiam o Futuro.

Assim, não é de estranhar que, nos escassos 5/6 anos de existência do regime, se tenha assistido a 3 fases: uma primeira de «centro-esquerda», uma segunda de «centro-direita» e a última de «esquerda radicalizada». Esgotadas as tentativas, esgotadas as paciências, esgotado o diálogo, uma das partes – os militares – resolveram partir para o confronto armado. Começou a Guerra Civil. Não como em Portugal. Aqui o golpe militar encontrou pouca resistência (também, verdade seja dita, os excessos cometidos em Espanha não se verificaram, mesmo aquando da questão da separação do Estado e da Igreja), e a experiência republicana estava já muito gasta (tinha já 16 anos) e grande parte do regime almejava mudança.

No fim da Guerra Civil, o lado que ganhou optou por «enterrar» a experiência Republicana, reduzindo-a ao «biénio vermelho» (a 3ª fase), enterrando o Ideal Republicano progressista, civilizacional, laico e positivista. Agarrado à República manteve-se o anarquismo, o libertanismo e a esquerda mais radical. Se na génese a República era um Ideal para Todos, no Ocaso foi empurrada para alguns. No último dia 25 de Abril, somente parte da população politizada desceu a Avenida da Liberdade, organizada exclusivamente em instituições de espécie vária. Do centro e da Direita muito pouco ou nada. Só esquerda, e encostada.

Também como Abril a República, ou a ideia de República em Espanha, devia ser de todos. Não o é. Hoje em Barcelona apenas dezenas celebram a ocasião. Amanhã em Portugal, quantos celebrarão Abril?

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