quarta-feira, junho 29, 2005

O Partido e o Candidato

Tenho seguido com alguma atenção os desenvolvimentos em relação à candidatura de Manuel Maria Carrilho a Lisboa e as suas picardias com a Concelhia do PS e com o seu presidente, Miguel Coelho.

É verdade que o Miguel nunca quis Carrilho como candidato. Nunca o controlou, e nunca o controlará (o mesmo, diga-se, já tinha acontecido com a candidatura do João Soares). Mais, com as características de Lisboa, adivinho mesmo que nunca um candidato terá o aval do presidente da Concelhia, que, por contraponto, terá sempre um candidato fora do seu raio de influência, de domínio e com potencial conflituante forte.

Também é verdade que o Miguel Coelho sempre procurou condicionar os candidatos a Lisboa; e era evidente, desde há pelo menos um ano, que não contava com Carrilho. De outra forma não se entende a necessidade abrupta com que lançava nomes atrás de nomes para a praça pública (Ferro, Mega Ferreira, etc.). Os problemas foram, entre outros, a questão do acesso ao candidato, o controlo da lista da vereação e o comando das questões de campanha.

Já Carrilho, movido de uma vontade pessoal férrea, encarou o desafio Lisboa com um espírito de missão e com a ideia de se transformar num Delanoe à portuguesa. Afinal já fora Jack Lang. Não é gay, mas tem uma mulher capa de revista e um filho vedeta de televisão…

Findos os apartes, desde cedo que Carrilho deu a entender que este era um projecto muito seu, assumindo-se, publicamente aliás, como «o homem por trás do projecto». Nesta sua caminhada pessoal cedo as relações com o partido se deterioraram, mais ainda quando as primeiras reacções da campanha foram tudo menos positivas (a questão do vídeo de campanha, o uso do filho, as entrevistas ocas e mal dirigidas, etc.). É verdade que Carrilho tomou para si toda a direcção do processo, tornando-se inacessível, não só ao contacto e à possível manipulação como, essencialmente, ao concelho e à entreajuda requerida e necessária entre candidato e partido.

Do alto da sua fortaleza, rodeado pelos seus indefectíveis, auto-excluindo-se dos processos partidários, Carrilho carrega, a sós, a candidatura. É verdade que é ele o principal visado, é verdade também que a eleição ao cargo a que concorre é uma eleição quasi-uninominal (no sentido em que é a lista para a vereaçao mas é o presidente que dá a cara e recolhe grande parte do voto), mas também é verdade que é o partido que é votado quer para a vereação, quer para a Assembleia Municipal quer para as Juntas de Freguesia. Nestas eleições, jogam os candidatos, mas também os partidos.

Não pode Carrilho pensar que está sozinho. Nem pode Miguel Coelho pensar que é candidato.

Importa descingir quais devem ser as funções e atribuições do candidato, da concelhia e do seu presidente, e mesmo do partido ao nível nacional. Quem deve fazer as equipes? E as listas? E dirigir a campanha? Quem manda? Estas são as questões na mesa.

Neste arrufo, questiono: Quem tem o pau? E quem tem a cenoura?

JRS

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