Sinceramente, não percebi todo este barulho à volta da moção de censura do Bloco de Esquerda. Muitos falam da questão da responsabilidade. Para mim, este é um argumento patético. O Bloco tem os seus eleitos no parlamento mediante um programa e são essas as ideias que deve defender. Além disso, desde quando é que o normal funcionamento da democracia é irresponsabilidade? A apresentação de moções de censura faz parte das regras da democracia. Os mercados não gostam? Onde estão esses mercados nas regras da democracia? A ditadura dos mercados, a ditadura da agências de ratings é que nunca vi inscritas nas regras da democracia. E não usei a palavra ditadura por acaso.
Este desistir da governação que se vê por toda a Europa para se sossobrarem às opiniões das agências e/ou mercados é muito mais preocupante e irresponsável do que a moção do Bloco de Esquerda, mas essa situação não parece incomodar muito os arautos da responsabilidade.
Em relação à moção, não concordei com a apresentação da mesma. Uma moção de censura deve ter um objectivo político. Para o País ou, mais mesquinha e comumente, para o próprio partido.
Parece-me, pois, que esta moção não serve nenhum dos objectivos. Se a moção passar o resultado das eleições que viriam poriam no poder a direita "mais à direita" que Portugal já conheceu, pelo que a solução defendida para o País pelo Bloco ficaria mais longe de acontecer. Do ponto de vista dos benefícios para o partido, permitiria ao PS fazer uma campanha a atacar mais à esquerda, depois de uma governação com poucos indícios disso, vitimizando-se pela moção apresentada. Retiraria, certamente, votos ao Bloco - que não tem um eleitorado assim tão solidificado como, por exemplo, o PCP (e, por analogia, a CDU) - quer pela vitimização, quer pelo fenomeno do voto útil, numa eleição em que somente o PS poderia evitar que este PSD, o mais à direita de sempre, chegasse ao governo.
Vai chumbar, pela direita, e esse chumbo foi anunciado antes da apresentação do texto da moção. Mais um exemplo da qualidade da oposição.
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