Este foi, assim julgo, um grito que por toda a Europa se ouviu hoje. Sei que em Londres o gritaram, e em Madrid também. Do resto nada sei. Imagino que, pelo menos, Paris, Berlim e Roma terão feito algo e, segundo me pareceu ver em alguns blogues, Lisboa também ia organizar alguma coisa. Bom, mas não estou aqui para vos falar dessas iniciativas. Estou para vos falar do que aconteceu hoje em Bruxelas, onde foram largas as dezenas de milhares de vozes que em vários tons pediam a mesma coisa: o fim da invasão de Israel à Palestina, a Gaza.
Bom, é verdade que não tenho muita experiência em manifs na Bélgica, mas das que já fui esta foi, de longe, a maior. Anspach estava cheia (uma das principais avenidas no centro de Bruxelas). Mesmo cheia. Muito cheia. Quase 3 horas de manif (ou seja, se ficasse parado num lugar, a manifestação demoraria três horas a passar pelo mesmo), o que em qualquer barómetro é um bom número.
Claro que dentro desta mole humana coabitavam muitas tendências, muitas diversidades, muitas mensagens. Eu estava à espera de muita violência, de muito ódio, de raiva; e, se bem que eram muitas as fotografias dos massacres, dos mártires, de bebés mortos, também reparei que havia muito espaço para a Paz e para a reconciliação.
Gostei de ver muita gente diversa e dispersa. Europeus e ocidentais. Mulheres muçulmanas, Judeus. Vi poucos políticos – o que prova que estes tipos de movimentos sociais operam-se fora dos sistemas partidários – mas muitas ONG’s. Vi também muitos miúdos e miúdas, criançada que repetia com facilidade os slogans mais apelativos. Vi ainda uma postura policial à distância. Não se via um único polícia no percurso da manif, talvez temendo algum confronto (e se calhar com razão). A verdade é que a cabia à organização a boa conduta da marcha e, do que me apercebi, todo correu de forma ordeira e correcta. A polícia, descobri mais tarde, colocara o seu aparato nas artérias circundantes, além de dispor de um helicóptero, que regularmente sobrevoava a Anspach (onde era sempre recebido por um coro afinado de fortes assobiadelas).
Que não se pense, no entanto, que tudo eram rosas e pombas. Nada disso. Bruxelas tem uma fortíssima comunidade muçulmana, e ela saiu massivamente à rua – marroquinos, egípcios, turcos, palestinianos, sírios, líbios, libaneses, iraquianos, iranianos, etc, gentes de todo o mundo árabe (e não só) num espírito de comunhão muito forte e contagiante - o que deu à manifestação um ar real, contrariamente do que vemos, por exemplo, em Lisboa, onde quem se reúne nestas causas são brancos ocidentais mais ou menos politizados e identificados com o tema. Não, nesse sentido, e as fotografias provam-no, esta manif foi bem real.
Tão real que vimos manequins com cintos de bombas, grupos de jovens paramilitarizados, caixões e toda a histeria colectiva que vemos nas reportagens de Gaza, ou de qualquer cidade palestiniana. Assim, junto da «tranquilidade», coabitava a agressividade de muitos, especialmente nos jovens rapazes adolescentes (e, curiosamente, em algumas jovens mulheres. Vimos os tradicionais gritos de ódio, caixões que simulavam o infanticídio (ver foto), bandeiras de Israel a arder, slogans de apoio ao Hezzbolah e ao Hamass, e raiva. Muita raiva.
Por fim deixo-vos um par de fotografias e alguns dos slogans da tarde, gritados por homens e mulheres de diversas cores, credos e tendências políticas. Gostava de saber o que se passou por essa Europa fora (o Euronews nada dizia) e ver reportagens de Lisboa. O problema é que estas iniciativas ainda têm pouco peso no processo de decisão política, pelo que temo que nada de prático saia do dia de hoje. Até quando? Até quando irão os líderes políticos esquivarem-se destas formas de participação política? O que falta? Convidá-los? Envolvê-los? Até agora o que se sente é que, mesmo nestas avenidas de protesto e de palavras de ordem, por detrás de qualquer janela fechada nada se ouve. E nada se faz. (tema para outro post?)
Bom, é verdade que não tenho muita experiência em manifs na Bélgica, mas das que já fui esta foi, de longe, a maior. Anspach estava cheia (uma das principais avenidas no centro de Bruxelas). Mesmo cheia. Muito cheia. Quase 3 horas de manif (ou seja, se ficasse parado num lugar, a manifestação demoraria três horas a passar pelo mesmo), o que em qualquer barómetro é um bom número.
Claro que dentro desta mole humana coabitavam muitas tendências, muitas diversidades, muitas mensagens. Eu estava à espera de muita violência, de muito ódio, de raiva; e, se bem que eram muitas as fotografias dos massacres, dos mártires, de bebés mortos, também reparei que havia muito espaço para a Paz e para a reconciliação.
Gostei de ver muita gente diversa e dispersa. Europeus e ocidentais. Mulheres muçulmanas, Judeus. Vi poucos políticos – o que prova que estes tipos de movimentos sociais operam-se fora dos sistemas partidários – mas muitas ONG’s. Vi também muitos miúdos e miúdas, criançada que repetia com facilidade os slogans mais apelativos. Vi ainda uma postura policial à distância. Não se via um único polícia no percurso da manif, talvez temendo algum confronto (e se calhar com razão). A verdade é que a cabia à organização a boa conduta da marcha e, do que me apercebi, todo correu de forma ordeira e correcta. A polícia, descobri mais tarde, colocara o seu aparato nas artérias circundantes, além de dispor de um helicóptero, que regularmente sobrevoava a Anspach (onde era sempre recebido por um coro afinado de fortes assobiadelas).
Que não se pense, no entanto, que tudo eram rosas e pombas. Nada disso. Bruxelas tem uma fortíssima comunidade muçulmana, e ela saiu massivamente à rua – marroquinos, egípcios, turcos, palestinianos, sírios, líbios, libaneses, iraquianos, iranianos, etc, gentes de todo o mundo árabe (e não só) num espírito de comunhão muito forte e contagiante - o que deu à manifestação um ar real, contrariamente do que vemos, por exemplo, em Lisboa, onde quem se reúne nestas causas são brancos ocidentais mais ou menos politizados e identificados com o tema. Não, nesse sentido, e as fotografias provam-no, esta manif foi bem real.
Tão real que vimos manequins com cintos de bombas, grupos de jovens paramilitarizados, caixões e toda a histeria colectiva que vemos nas reportagens de Gaza, ou de qualquer cidade palestiniana. Assim, junto da «tranquilidade», coabitava a agressividade de muitos, especialmente nos jovens rapazes adolescentes (e, curiosamente, em algumas jovens mulheres. Vimos os tradicionais gritos de ódio, caixões que simulavam o infanticídio (ver foto), bandeiras de Israel a arder, slogans de apoio ao Hezzbolah e ao Hamass, e raiva. Muita raiva.
Por fim deixo-vos um par de fotografias e alguns dos slogans da tarde, gritados por homens e mulheres de diversas cores, credos e tendências políticas. Gostava de saber o que se passou por essa Europa fora (o Euronews nada dizia) e ver reportagens de Lisboa. O problema é que estas iniciativas ainda têm pouco peso no processo de decisão política, pelo que temo que nada de prático saia do dia de hoje. Até quando? Até quando irão os líderes políticos esquivarem-se destas formas de participação política? O que falta? Convidá-los? Envolvê-los? Até agora o que se sente é que, mesmo nestas avenidas de protesto e de palavras de ordem, por detrás de qualquer janela fechada nada se ouve. E nada se faz. (tema para outro post?)
Nous sommes tous… des palestiniens
Resistance… jusqu’à l’Independence
[também publicado nos Canards Libertaires]
3 comentários:
Nem todos, meu caro! Nem todos.
Será que todas as vozes pediam a mesma coisa? Será que muitos pedem apenas o fim da invasão de Gaza? Quem conhece o problema no Médio Oriente sabe que a causa "destruição de Israel" tem muitos adeptos. Porque será que o Hamas ganhou as eleições na Faixa de Gaza? Nesta história não há bons nem maus. Fico apenas triste pelas crianças palestinianas que crescem num ambiente de extrema violência e que são ensinados a acreditar que a razão de todos os males da Palestina e da sua família se resumem a uma palavra: Israel.
Agradeço desde já o relato, a descrição deste belo momento de participação democrática que envolve sempre uma manifestação, que acredito tanto mais ordeira mais democrática, porque o que é difícil é fazer valer a democracia pela paz e a ordem, sem impôr nada a ninguém, mas levando toda a gente a escolher da forma mais sensata.
Ninguém é indiferente á questão do Médio Oriente e a esta ocupação Israelita que dizem que é ocupação e que eu também não digo nem que é nem que não é. Sei lá o que iria sentir se visse o meu país ou parte dele ocupado por outro povo, a ser regateado a soldo e a viver em ambiente de ódio e violência. Coisas boas não se sentem, com certeza. E o que dizer se essa outra gente viesse de uma guerra e sem pátria, escorraçados por tudo e por todos abrigar-se no meu país, o que é que eu sentia? Nada na violência é tão linear quanto o extremismo. E o dinheiro que se gasta em armas, os seres humanos que se perdem para a violência. Uma máxima diz que a paz social é a maior propensora do comércio.
Mas é para agradecer o reparo face à não tomada de posição do poder político nas diversas formas de manifestação dissociadas de partidos e instituições de poder que escrevo. A intervenção cívica, o direito de manifestação são formas legítimas de exercício democrático.Requer e prova o envolvimento de muitos na comunidade. Existem.São legítimos.São para ser usados e reconhecidos. São formas de tomar o pulso ao povo, aos tempos e por isso da maior atenção para quem quer saber como se governa uma nação. Em Portugal,lembro-me de quando tomamos posição face à guerra no Iraque, de quando nos mostrámos solidários com Timor.
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