quinta-feira, janeiro 29, 2009

New York, New York



Aprender é mesmo uma "coisa" lenta. O resto, o que é rápido, será fast-education, treino ou o que se quiser chamar-lhe, nomeadamente hamburguers para enganar a fome. Há cerca de dois anos e meio estive em Manhattan, com os "eyes wide open"; vi museus e exposições, passeei, de barco no Rio Hudson, e a pé por Central Park, frequentei um pouco do ambiente de jazz, vivi Little Italy e China Town, estive na Igreja de Saint Patrick, bebi poemas e prosas norte-americanas e algum whiskey from Tennessee (um dos Estados mais pobres). Voltei, após 10 dias, à minha Europa, com uma enorme incompreensão sobre as gentes e os modos de vida da grande maçã e uma porta alta entreaberta por Walt Whitmann e o mesmo fascínio cego, cheio de repulsa e de admiração emotivas, que me levara ao lado de lá do Atlântico.

Com o tempo e ao sabor do vento fui conhecendo os EUA, nomeadamente a "política", explicada pelos meus queridos compagnons Rui Pedro e Diogo, em Viena. Apreendi, creio, algumas razões para a forte presença religiosa naquele povo: perante um enorme continente desconhecido, agreste e cheio de canyons, por conquistar, só uma força atribuída a um deus poderia justificar tormentos, afastamentos, torturas e secessões; perante culturas tão diversas, a coesão social cimentou-se na religião, que re-liga o que está disjunto. Da esperança nasceram os divinos Espirituais Negros, tal como do trabalho-escravo, os blues.

Esta tese é minha e espero vê-la rebatida, aqui ou algures... A contra-prova é observável nos modos de viver e de ser na Europa. Ser não religioso é um privilégio europeu conquistado pela História: as guerras fratricidas que nos edificaram como nações e nos pacificaram, o Iluminismo reflexivo, a Revolução Francesa e a Comuna de Paris que nos trouxeram experiências, mesmo que incompletas, de liberdade e igualdade, as heranças culturais da Pérsia, da China, do Japão, do mundo judeu e árabe, o Cristianismo - e as Cruzadas contra os "Infiéis" - o Protestantismo e o coevo desenvolvimento do industrialismo, as lutas dos Sindicatos por condições dignas para os trabalhadores - tais como durações de trabalho humanas e estabilidade de emprego - foram moldando uma forma de estar na qual os deuses, sobretudo os da Cristandade, não têm de estar presentes.

Tal como nos EUA, as religiosidades têm uma forte persistência em todo o continente americano. Nas máscaras mortuárias do México, no profundo cristinianismo brasileiro, nas religiões-fusão de Cuba, com os seus deuses semi-africanos e semi-católicos que tão bem coexistiram com Fidel nos 40 anos de Revolução Cubana. Quando proibidas, as religiões não inexistem, entram na clandestinidade ou tomam formas admissíveis para os poderes em exercício e emergem ao mais ínfimo sinal de abertura política. As Razões para a força do não-Racional são explicáveis pela antropologia.

E, voltando à minha relação complexa com os EUA, eis que, last but not least, no princípio deste ano chega Barack Hussein Obama ao poder. E com ele, um vento fresco que desejo que não passe e que me faz sentir o pulsar optimista e empreendedor de um povo feito de povos e de estados.

Um dia voltarei a Manhattan para cumprir o que me faltou: atravessar a pé a Ponte de Brooklyn e talvez viver o Bronx por dentro.

Para aprender é preciso ter curiosidade, Mestre(s) e tempo e deixar este esculpir o conhecimento cimentado a partir da informação. Do conhecimento ao Saber vai um passo de gigante, uma travessia para o outro lado. Um dia ...

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