Ao princípio era: "Trabalhadores de Todo o Mundo, Uni-vos!".
E muitos trabalhadores lutaram e muito, desde Chicago e de outros lugares, por se tornarem Empregados. Felizmente conseguiram. Deixaram de ser Descartáveis. Estavamos nos finais do século passado.
Os tempos foram mudando; a casca da fórmula manteve-se per seculo seculorum. O miolo mudou, contendo apenas os Empregados. Os Trabalhadores resvalaram pela borda fora da casca, da fórmula e da vida real.
São os intermitentes das artes do espectáculo, artistas variadíssimos, gente que trabalha nas artes por conta própria, a sós ou em micro-empresas, tradutores, cientistas, investigadores, pequenos editores, pequeníssimos livreiros e muitos, muitos outros. Quando não há trabalho, são descartados do mercado. Sejam pco (os intermitentes) ou pcp (os micro-empresários). Os primeiros terão, ainda assim, direitos garantidos no que ao Desemprego respeita, os últimos não têm qualquer direito. São largados no monte da "mão-de-obra excedentária". "Mão-de-obra" que é outro conceito a reformular, pois tem a sua génese em processos laborais tayloristas. Os trabalhadores de campos artísticos, científicos e literários não são mão-de-obra mas cabeça-e-mão-de-obra. That´s not the same. Não é taylorismo.
E, afinal, o que, hoje, é um Trabalhador? Uma sociedade que pretende ser criativa, só é capaz de garantir direitos a Empregados, ie, a quem executa as criações alheias? Ou a quem cria dentro de um enquadramento organizacional, vulgo Empresas De Grandes Dimensões? E os que criam porque criam, porque sim, porque arriscam, porque são deveras criativos (nas artes, nas ciências e nas letras) e empreendedores? Estes não têm garantias de coisa alguma. São todos artistas de circo. Sem rede.
Por isso não reajo nada positivamente a contestações, marchas e manifestações de Empregados (funcionários públicos, professores, etc) que, por mimetismos com 3 décadas, tomam as ruas da cidade, auto-designando-se "Trabalhadores", tomando o Lugar dos Trabalhadores, conquistando a Agora, eles que são apenas uma fatia dos Trabalhadores. Pode alguém falar em nome de alguém?
Estou há muito do lado dos artistas de circo. Sem rede. Afinal, como intelectual e criativa, tenho, de momento, um rendimento seguro provindo dos dinheiros públicos - leia-se nossos de todos nós; no futuro serei, provavelmente, mais uma intelectual artista de circo sem rede.
A fórmula do princípio está, de novo, por cumprir.
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