Não estão em causa os méritos, reconhecidos por todos, de Vital Moreira como um excelente constitucionalista ou até mesmo como um dos mais famosos bloggers da nossa praça. Ele é a escolha de José Sócrates para cabeça-de-lista do PS às eleições do Parlamento Europeu (PE) e será certamente ratificado pela comissão política que sairá eleita hoje.
No entanto, houve uma frase que Vital Moreira disse aos jornalistas ontem, depois do anúncio da sua escolha, que me deixou francamente preocupado sobre se Vital Moreira realmente conhece o partido pelo qual vai ser cabeça-de-lista.
Vital Moreira disse que tinha credenciais suficientes como académico (!) e comentador político (!) para ser bem sucedido como candidato do PS ao PE.
Credenciais de Académico? Credenciais de comentador político? Para se ser candidato do PS a eleições???
Como diz um amigo meu, isto é (ainda) o Partido Socialista!
No PS, não existem honoríficos académicos ou de outra tipo (não existe os doutores, os drs, os engenheiros, as excelências, etc..). Somos todos camaradas. O único título que se acrescenta quando se está a falar de ou com camaradas é o cargo partidário (e é raro). José Sócrates não é o engenheiro José Sócrates no PS, é o camarada José Sócrates ou o camarada Secretário-Geral.
E obviamente que os cargos políticos não são mencionados em reuniões partidárias. Não existem ministros ou deputados em reuniões do partido. Existem apenas camaradas. O contrário seria confundir o partido com o Estado.
E isto não é apenas uma questão de estilo ou de semântica. Na raiz do tratamento "camarada" como a única forma de trato aceitável no Partido Socialista está um conceito fundamental da militância socialista e da social-democracia: a igualdade de todos os militantes dentro do PS!
Não interessa se uma pessoa é rico ou pobre, está empregado ou desempregado, é um académico/comentador político ou um cidadão anónimo. Todos somos iguais dentro do partido.
Aliás, esta igualdade está também na génese da própria democracia. Todos os cidadãos são iguais. Os seus votos valem o mesmo e todos se podem candidatar a eleições.
É candidato do PS a eleições quem os órgãos do partido decidirem que é candidato. Esta é a única condição para ser-se candidato pelo PS. Ter a confiança do partido.
Essa ideia de Vital Moreira de que o facto de ser académico ou comentador político dá-lhe condições para desempenhar bem o cargo, é a mesma coisa que dizer que pessoas que não são académicos ou comentadores políticos não teriam condições para desempenhar o cargo? É esse o intuito por detrás da sua frase?
A bem do PS e do próprio Vital Moreira, espero que tenha sido uma frase infeliz. Porque basta percorrer na história do PS e doutros partidos quantos foram os candidatos que eram académicos e/ou comentadores políticos para ver o ridículo.
Já sabíamos que os comentadores políticos vivem num mundo sobre si mesmos, falam uns para os outros, e muitos parecem que estão noutro planeta. O mesmo se pode dizer dos académicos.
Nunca pensei é que essa cegueira fosse tão grande.
Diogo Moreira
2 comentários:
Já agora, vê lá em todos os partidos quantos candidatos é que não têm pelo menos a licenciatura no seu currículo.
A seguir vê quantos são cabeças de lista.
Por último, investiga lá (até era capaz de ser interessante, englobado num estudo maior) qual a disponibilidade do povo em votar num "dos seus" em vez de votarem no Dr. ou Eng.
O que ele disse é, infelizmente, o reflexo da sociedade!
Interessante este post... De facto as credenciais académicas e de comentador político não são suficientes para se ter sucesso numa disputa política, mas dão uma ajuda. Também considero que não deveria haver tratamentos por títulos académicos no PS. Aliás, o ideal mesmo seria o tratamento por tu, como fazem os comunistas.
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