domingo, fevereiro 07, 2010

O 4º poder.

Desde as eleições legislativas do passado de dia 27 de Setembro, que se assiste neste país ao maior ataque alguma vez visto em democracia aos emanados desse acto. Muita gente não aceitou e ainda hoje continua sem aceitar os resultados dessa eleição. Já na noite eleitoral em questão começámos a ouvir que o PS tinha sido o grande derrotado. Como se o partido que é o mais votado e que voltará a constituir governo possa, em alguma análise, ser o grande derrotado da noite.

Se bem se lembram, nessa noite, houve quem sofresse da síndrome PCP: transformar as derrotas em vitórias. O PCP (na sua vertente coligação denominada de CDU) aproveitando o facto de ter tido mais um deputado que na anterior legislatura, e desleixando tudo o resto. O PSD, porque o PS perdeu a maioria absoluta.

Como vencedores dessa noite emergiram, na realidade, dois partidos: CDS-PP e BE. Estes, sim, venceram em toda a linha. Aumentaram a sua votação, o número de deputados, cumpriram os objectivos a que se propuseram e subiram na “classificação eleitoral”, se bem que no final da noite o BE tenha ficado com o amargo de boca de ter ficado aquém das expectativas.
Num sentimento misto, o PS: Ganhava a eleição, iria constituir governo, mas perdera de forma retumbante a maioria absoluta.

No entanto, os maiores derrotados foram todos os comentadores que pululam pela nossa imprensa, e os meios de comunicação que já desde o meio do mandato anterior demonstram claramente que terem uma agenda política passa pelo derrube do governo (não é por acaso que há quem comente que se quer ganhar a vida a fazer comentários tem de dizer mal do governo).
Ora, após os resultados o que vimos neste cantinho à beira mar plantado? Passámos um primeiro período a ouvir comentadores políticos a explicar-nos como o PS tinha sido o único e grande derrotado dessas eleições. Notícias que levantam suspeitas sobre o governo mas que pouco ou nada concretizam. Teorias da conspiração sobre a fortíssima ofensiva anti-democrática promovida por membros do governo e um escalar do ruído oposicionista baseado na difamação e no levantamento de suspeitas sem nada para consubstanciar. Chegamos assim ao fim dos primeiros cem dias de governo e, no meio disto tudo, um grande punhado de nada do lado da oposição baseado em muito barulho e pouca acção, e um clima que conduz a descredibilização de Portugal em todos os quadrantes políticos e económicos internacionais.

Neste momento, assiste-se em Portugal a uma ofensiva que já não olha a nada para derrubar o governo eleito à menos de cinco meses. Olhamos para as notícias que saem, e facilmente constatamos que os ataques mais ferozes que assistimos, a um governo, estão em marcha. Ao pé disto, o Jornal das Sextas da TVI, quando era efectuado pela ex-deputada do CDS/PP, é uma brincadeira de crianças. Tudo serve para minar a confiança nas instituições públicas. É curioso ver os comentadores políticos atacarem a ineficácia das nossas instituições e propagarem para quem os quiser ouvir/ler (ou para quem lhes pagar os comentários) que muitas das funções do estado deveriam ser entregues aos privados, e posteriormente ouvi-los/lê-los a tecerem considerações sobre a falta de confiança do povo português nas instituições políticas.

Perante o estatuto sagrado de jornalistas e comentadores, personagens mais ou menos obscuras que ninguém ou pouca gente conhece, e que certamente ninguém elege, podem dizer o que quiserem, atacando e maldizendo quem quiserem, dando estampa a conversas privadas em que, como se sabe, se tem menos cuidado com as palavras do que quando se está a falar em público, e quando se tecem considerações sobre essas personagens obscuras que ninguém ou pouca gente conhece, e que certamente ninguém elege, é um atentado à liberdade.

Algo está errado neste país. O povo falou à menos de cinco meses e por duas vezes em menos de um mês, deu duas vitórias (uma agridoce) ao PS. Estes senhores, que têm um meio privilegiado de comunicação, fazem e dizem o que bem querem e lhes apetece, ao arrepio da vontade expressa do povo.

P.S. – Prefiro, sobre este aspecto, a ideia americana de imprensa. É pública a tendência editorial dos órgãos de comunicação social. Não vivem na hipocrisia da isenção que não existe em nenhum órgão de comunicação social portuguesa.

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