quarta-feira, agosto 18, 2010

Wassyla Tamzali, "Une femme en colère"



Dada a actualidade do tema (tantas mulheres, e alguns homens, estão a ser castigados, no mundo islâmico, simplesmente por amarem; uma delas é Sakineh) publiquei a entrevista ontem, no FB. Alguém me perguntou:

- O que é ser de esquerda, hoje?

A minha resposta:
- É isso mesmo que nos construíu - a modernidade - e que Wassyla aborda: é ter um pensamento crítico, nomeadamente sobre a fé e as religiões, é ser indivíduo autónomo e que (se) escolhe e constrói, que não abdica da defesa dos direitos humanos universais, que recusa ser etiquetado ou etiquetar apenas a partir de pertenças comunitárias, que não atira para debaixo do tapete os atentados a qualquer direito universal, justificando-os sob o manto da tolerância (palavra detestável) entre culturas, que se indigna com as injustiças sociais.

A pergunta é pertinente, pois as bandeiras, as etiquetas e os particularismos são perigosos pois abafam o universal. E ser de esquerda é um "label", of course.

No que à entrevista de Wassyla diz respeito, é relevante o facto de ela ser de esquerda e de criticar a atitude de uma certa esquerda para com as mulheres do Islão. Trata-se de uma mulher de esquerda e argelina que ataca simutaneamente os poderes argelinos islâmicos e a "esquerda com uma praxis universal" que, na Europa, enxota o universal e o substitui pelo "discurso da tolerância" que permite o cumprimento de graves injustiças sociais, tais como a condenação à morte de mulheres muçulmanas "adúlteras".


Porque sou de uma esquerda que não troca os Direitos Humanos Universais por um passo supostamente táctico ou estratégico a encurtar o caminho para um socialismo de tipo soviético, porque sou de uma esquerda que tem defendido à outrance os direitos dos indivíduos, aqui fica esta grande entrevista de Wassyla Tamzali. Há outras no youtube.

6 comentários:

Micael Sousa disse...

Não esquecer que a Carta dos Direitos Humanos é uma criação Ocidental, fruto da cultura, história e valores do Ocidente.
Apesar de ser um sério defensor das conquistas que, através de muita luta e sofrimento, obtivemos nas democracias ocidentais, tenho consciência que os "nossos valores" podem não ser universais.
Não existe uma "verdade universal" nem sequer valores do bem supremo, existe sim culturas, valores diferentes e também diferentes modos de viver em liberdade - provavelmente é o meu ateísmo que me faz pensar assim. Pena é que nem todos os que vivem em sociedades que não se regem pelos nossos valores tenham a liberdade de os poder seguir, mas também temos de pensar que muitos os seguem por opção e não obrigação.

Vera Santana disse...

Claro que é uma criação ocidental. E a resistência iraniana parece ter adoptado essa criação. Por que será? Os direitos de Liberdade, de livre escolha religiosa, de direito à vida são percepcionados, pelos iranianos não radicais, como direitos universalizantes.

Unknown disse...

O Irão já foi mais "ocidental", é bom não esquecer...

Vera Santana disse...
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Vera Santana disse...
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Vera Santana disse...

Exacto, Rui, o Irão já foi mais ocidental, nos direitos humanos, nos hábitos, nos costumes, na separação de poderes, nas instituições. Os poderes políticos e religiosos des-ocidentalizaram-se e uma grande parte da sociedade - as instituições políticas, religiosas, educativas, familiares e simbólicas - adoptou os ensinamentos dos chefes religiosos; a consequência foi a edificação de um Estado absolutista e teocrático.

No entanto, há uma Resistência Iraniana que, professando ou não a religião islâmica, defende com unhas e dentes o direito à vida, o direito à liberdade de escolha religiosa, o direito a uma justiça separada da instituição de poder religioso, o direito a uma educação livremente escolhida, o direito de cidadania de homens e mulheres, o direito à livre escolha no casamento. Este conjunto de direitos inspira-se nos valores democráticos e de liberdade longa e duramente (quantas guerras! quantos mortos!) conquistados pela Europa e pelos Estados Unidos.

Os e as Iranianos Resistentes precisam de nós, europeus e outros. No mínimo, sinto a obrigação de lhes dizer "sono qua!".

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