Francisco Sá Carneiro |
Pouco importa se o seu assasinato foi um acidente. Não um acidente no verdadeiro sentido da palavra (um problema no CESNA) mas um acidente pois Sá Carneiro nunca foi o verdadeiro alvo daquela bomba (parece-me "pacífico" que houve uma bomba). Ele só estava no lugar errado à hora errado. Um erro promovido pelo desespero de perder a eleição presidencial com Soares Carneiro, para Ramalho Eanes.
Este atentato, perpetrado contra Adelino Amaro da Costa, foi o suficiente para fazer de Sá Carneiro um mito. Um mito que poderia e deveria de ser construído à volta de Amaro da Costa, o real alvo. Mas as conjunturas que atravessaram o CDS fez com que este pequeno partido tenha uma memória muito fraca em relação ao periodo A.P. (antes de Portas) e, como tal, a criação de um mito, ainda que atrasado em relação a Sá Carneiro, seria impensável. Há memórias que ficam melhores enterradas nos escombros.
Adelino Amaro da Costa |
Assim, foi bastante fácil ao PSD ocupar esse espaço, com a força de um Primeiro-Ministro morto. Um PSD que nada tem a ver, desde 1985, com o PSD de Sá Carneiro. Desde Cavaco Silva que o PSD nada tem a ver com o PSD que Sá Carneiro estava a criar e a imaginar para o futuro. Será precisamente essa a razão de toda a mitologia Sá Carneirista passar exclusivamente pelo atentado (pouco importando se o real significado esteja enterrado nos mesmos escombros da memória de Amaro da Costa) e nunca pelo seu pensamento político.
Como esta mitologia está a esgotar o espaço mediático e como as lamúrias para reaberturas de comissões parlamentares já só têm direito a 15 minutos de fama, os institutos Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, em conjunto, decidiram atacar um novo nicho de mercado: o chamado mercado "What If". What if they were still alive? Um mercado especulativo mas que permite que se continue a discutir a figura permitindo assim aos actuais e futuros dirigentes escupir à sua bela vontade o que teria sido o pensamento político de Sá Carneiro. Assim não há como falhar. Todos serão os naturais herdadeiros do seu desaparecido Líder. O único realmente esquecido, não em figura mas sim no seu pensamento, será o próprio.
Homenagemos então a figura, que o pensamento está a ser novamente assassinado.
* este título é uma frase que um professor de História (Prof. Júlio) tinha por hábito dizer quando nós, numa qualquer aula, lhe perguntávamos "s'tôr! E se...?"
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