quinta-feira, junho 05, 2008

BREVES DE AMSTERDÃO I

A FACE MAIS TURÍSTICA DA CIDADE DO BELO-ESTAR E DO BEM-ESTAR


As casas, de uma magreza juvenil, plantadas ao longo dos canais

Ponte curvada sobre canal

"Cosy" quarto de hotel num prédio estreitinho.


Os habitantes da cidade são bonitos, cuidados no vestir imensamente simples de calças e camisa com bom corte, e gentilmente educados. Num clima de contentamento e à-vontade, vêem-se pessoas descalças, com estilo e bom aspecto, sentadas à mesa das inúmeras esplanadas. Négligés, num certo "chique" descontraído de simplicidade cultivada. Não é fruto do acaso a impossibilidade de tradução de certas palavras para a língua portuguesa de Portugal. Somos ora muito formais ora desleixados em exagero. Engravatados ou à balda, hesitamos entre os estilos "fato completo" em dias de sol ardente ou "fato de treino" (!) para ir às compras semanais no hipermercado e para gastar tempo no centro comercial. Pensando bem, tenho de concordar que, actualmente, ir às compras faz suar as estopinhas, pelo que se tratará de uma moda de ponta portuguesa, adiantada três décadas.

O belo-estar de Amsterdão será uma questão de urbanidade dos Países Baixos, decorrente da existência histórica e antiga de uma burguesia poderosa, rica e protectora do Belo que, por sê-lo, pagava a bom preço aos artistas plásticos que a retratava nos seus interiores domésticos, tranquilos e letrados e nos espaços públicos de tomada de decisão e de lazer?

É um país que soube fazer-se rico, pelo trabalho e pela pirataria marítima - caminhos igualmente trilhados por nós - e que vive bem, não há 30 anos, mas há algumas gerações. Bebiam leite, comiam bifes e queijo, enquanto em Portugal, quando mais não havia, comia-se pão com cebola ou sopas de cavalo cansado. Liam e aprendiam música; no nosso País, ouvía-se o padre, da aldeia ou da paróquia urbana, a explicar detalhada e exaustivamente os pecados que não deveríamos cometer ou, nos liceus públicos femininos, a professora de moral da Mocidade Portuguesa a escrutinar, com olhos de águia gulosa, os pensamentos e actos juvenis (1).

Nesta velha Amsterdão, cidade do bem-estar e das gentes saudáveis diariamente ginasticadas, o mobiliário urbano é variado, ouve-se o trim-trim das bicicletas e as caras são distendidas, felizes e sorridentes; não há ruídos de automóveis nem de estridentes ambulâncias, não se anda aos encontrões, não se sente uma turba metropolitana ululante e apressada, nem somos empurrados por uma multidão esmagadora (ao contrário da antiga "Nova Amsterdão", hoje New York); há parques e árvores, bancos de jardim e de rua, flores nos canteiros e nas janelas e, obviamente - ou não fora Europa Continental! - há Cafés com café, jornais, pessoas e, até 31 de Junho presente, fumo de tabaco. A atmosfera é festiva e o ritmo de vida é um slow dançado em sucessivos pas-de-deux, por bicicletas e por peões, em perfeita harmonia e respeito, ao longo das ruas e das pontes, levemente barrigudas, sobre os canais. Um fantástico lugar para descansar e "reinar".

(1) experiências a que fui poupada, graças a Deus, por via de uma educação basicamente estrangeirada.


(continua)

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