sábado, setembro 17, 2005

Meu caro,

O argumento não evolui em torno do «eu sou socialista e voto em Soares». Seria demasiado redutor.

Temos de ver o seguinte:

O que é que está em discussão na próxima eleição presidencial?

1. É a forma do sistema?

Há quem queira ver o Presidente da República com mais poderes. Tudo bem, que se discuta. Há quem queira tornar o nosso semi-presidencialismo, de carácter parlamentar, ou num sistema semi-presidencial de pendor presidencialista (à «francesa») ou mesmo num sistema puro de executivo presidencial (tipo «americana»). Tudo bem, que se discuta.

Nada tenho contra estas discussões sistémicas, que fique claro, mas em Janeiro não vamos referendar possíveis alterações constitucionais; vamos eleger um Presidente dentro da corrente orgânica constitucional.

Sobre a forma do sistema, talvez ele não seja perfeito (não é nem nunca o vai ser), e é bem provável que necessite de alguns aperfeiçoamentos. Logo, que se discuta.

Agora, é dentro deste conjunto de regras que deverá evoluir o próximo Presidente. Soares conhece bem as regras, ele as definiu. E Cavaco?

2. É a ideia de um «Presidente para o Futuro de Portugal»?

Em volta do argumento da idade, evolui a ideia de que Cavaco seria um Presidente de futuro e que Soares não, que seria só uma repetição do passado já sem soluções e propostas para o país.

Pois bem, a verdade é que ambos não são soluções de Futuro. A diferença é que, enquanto Cavaco não se consegue libertar do Passado, onde de resto se manteve; Soares soube alcançar o Presente. Na minha opinião, e digo-o com alguma infelicidade, ainda não conseguimos, como sistema, produzir candidatos presidenciais de futuro. Todos são, de alguma maneira, projecções do passado; encarando Belém como o final da carreira política nacional.

Será necessário uma nova interpretação da posição do Presidente no sistema. Para quando?

Agora, perante esta constatação, resta perguntar: quem melhor representa o Presente?

Estes dois pontos, de outros argumentos a desenvolver, procuram dois efeitos: identificar a premente discussão acerca dos poderes presidenciais – que será um dos pontos a ser bem explicado por todos os candidatos –, desmistificar a inevitabilidade da eleição de Cavaco.

Fica em aberto a construção discursiva de cada um dos candidatos.

Ficam também em aberto outros argumentos, outras polémicas, outras discussões.


1 comentário:

Willespie disse...

Pedindo desculpa pela duplicação do meu comentário:

Perante o actual cenário, com os resultados provisórios apresentados até ao momento, penso que a única solução clara e benéfica será uma coligação 'traffic light'. O verde (Green), amarelo (FDP) e vermelho (SPD).

A CDU não conseguiu apresentar um programa de uma forma esclarecedora. E o povo alemão com certeza não aprecia confusões, e preferiu dissipar os seus votos nos partidos alternativos (e bem a meu ver), nas suas respectivas áreas políticas. O equilibrio entre a esquerda e centro/centro direita, manteve-se inalterada, não havendo um deslocamento significativo para a direita.

Saliento e aplaudo o crescimento dos partidos alternativos.
Considero-me centrista e liberal, (liberalismo moderno ou social) mas o liberalismo clássico não consta nas minhas preferências ideológicas. Aliás, prefiro ser considerado social democrata (i.e. International Socialista) do que liberal clássico.

Mesmo assim é de louvar a aposta considerável que acaba de ser feita no partido FDP e Verde na alemãnha.

*******************************

Acrescento agora que, uma coligação à esquerda com os FDP parece-me pouco provável tendo em conta declarações do líder do partido. Para um partido liberal clássico ou neo-liberal será impossível colaborar com um partido social-democrata à esquerda.

Se fossem liberais modernos ou sociais, que defendem com medidas concretas o 'welfare state', tal como um partido social-democrata, não haveria tal dificuldade.
Eu pessoalmente prefiro o centro-esquerda do que o neo-liberalismo. Sem a mínima sombra de dúvida.

Tempos difíceis se avizinham na Alemanha.

Pesquisar neste blogue