quarta-feira, setembro 28, 2005

As Eleições Autárquicas, os Independentes e a Demagogia

Começou este semana a campanha oficial para as eleições autárquicas deste ano. Para muitos este marco tem pouca importância, visto que é notório, em Portugal, que a pré-campanha já se distingue pouco da campanha propriamente dita. Já vimos os candidatos a efectuar comícios, a fazer acções de campanha, e, sobretudo, já os vimos em debates televisivos, para muitos os únicos que vão ter antes das eleições. Este serviço público prestado pela SIC-N, e em menor escala pela RTP-N, poderá ser em muitos concelhos o factor decisivo da escolha entre os candidatos, tendo acontecido antes da campanha oficial. Assim se poderá dizer que há eleições cujo desenlace já é um factor conhecido, ou ficou determinado pela pré-campanha.

O grande tema destas eleições é, contudo, os denominados “candidatos-arguidos”: autarcas que são arguidos em processos criminais, e que após terem perdido a confiança dos respectivos partidos, avançaram com candidaturas independentes e que estão em excelentes condições de serem reeleitos. Estamos a falar de Isaltino Morais, Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres e Valentim Loureiro. A mediatização destes casos, por um lado, e a evidência inequívoca de que são consecutivamente apontados como vencedores das eleições, levou os profetas do fim do regime a afirmar que a democracia em Portugal está (mais uma vez) a morrer, porque, o povo não sabe o que está a fazer, ao permitir a eleição de tais personagens pérfidas. Assim, ¾ dos nossos “opinion-makers”, estão consciente ou inconscientemente a fazer a apologia do salazarismo.

A situação chegou a um ponto tal, que num debate ontem, na SIC-N, Jorge Coelho, coordenador autárquico do PS, chegou a afirmar, como opinião pessoal, que era contra a actual lei que permitia a candidatura de independentes aos órgãos do poder local, porque a lei estava a servir apenas para a candidatura de ressabiados dos partidos, ou para a criação de listas contranatura, (PS-CDS?) apoiadas por partidos, e não para a verdadeira expressão da cidadania, que seriam as candidaturas de cidadãos apartidários.

O meu comentário é simples: mas alguém esperava o contrário desta lei?
Para quem não saiba, para se conseguir fazer uma campanha competitiva é preciso ter dinheiro, muito dinheiro, e uma máquina de apoio, partidária ou quasi-partidária. O sonho romântico de conjugações de cidadãos comuns a juntarem-se e a concorrerem e ganharem câmaras e assembleias municipais é isso mesmo: um sonho. Apenas nas juntas de freguesia, nas de reduzido tamanho, é possível haver candidaturas apartidárias de poucos recursos, em tudo o resto é impossível competir com os partidos. A não ser que sejamos milionários, mas eu pessoalmente não considero milionários, pessoas comuns.

Contudo, muitos poderão dizer que o exemplo dos candidatos-arguidos contraria o meu argumento, afinal candidatos que não são apoiados por nenhum partido vão ganhar a candidatos partidários. Eu poderia dizer que é notório, nestes quatro casos, que as máquinas locais dos seus antigos partidos foram subvertidas, ou pelo menos divididas, pelos incumbentes. Eu poderia também dizer que os recursos financeiros que apresentam são de tal forma elevados que denotam empréstimos de sobrinhos na Suíça. Mas não o farei, porque que é a minha opinião que a vitória destes candidatos se deverá ao facto que os grandes partidos assim o desejam.

Onde é que está o grande candidato do PS para Oeiras, Jorge Coelho? Como é que se admite que Felgueiras tenha um candidato de terceira linha? Algo que deveria ser um caso de honra para o PS, afinal nós tivemos o presidente da Distrital do Porto a ser lá agredido e não se faz nada? E Dias Loureiro, Gondomar deve ser ali um concelho de pequena importância para o PSD, não? Afinal só estamos a falar num membro da lista dos dez maiores! E Amarante é como se não existisse!

Em todos estes casos, se os dois grandes partidos tivessem avançado com figuras de renome nacional, apoiados em grande escala, e com máquinas partidárias locais informadas das reais consequências de apoiarem candidatos extra-partidários, poderiam ter reais hipóteses de ganhar. Como está hoje, apenas Oeiras talvez não seja ganha por Isaltino.

Resumindo e concluindo, o que Jorge Coelho e Dias Loureiro fizeram ontem à noite poderá ser chamado simpaticamente de demagogia. Para mim, acho que são os principais responsáveis desta história!

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