segunda-feira, março 31, 2008

Congresso Feminista


Já sabem do Congresso Feminista? Parece que se pretende continuar com a experiência de 1928, data da última reunião.

Este vai decorrer em Lisboa, entre 26-28 de Junho

É uma organização da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, alargada a uma vasta Comissão Promotora. Uma iniciativa de âmbito internacional.


Este Congresso pretende constituir-se como um acontecimento de carácter científico e interventivo, englobando as/os principais investigadoras e investigadores do campo dos estudos sobre as mulheres, dos estudos de género e dos estudos feministas em Portugal, bem como das e dos activistas que, no terreno, se envolvem na luta pela transformação de uma sociedade hierarquizada e desigual, muitas vezes, colonizadora e predadora do mundo social e natural, contribuindo para a construção de uma comunidade de activistas e cientistas que defendem um mundo mais igualitário, onde o respeito pelos direitos humanos e pela riqueza cultural sejam metas a atingir na corrida contra a violência.

A Palavra e a Carne (3ª parte)


The Great Canyon

No romance de Grossmann, o objecto de Amor masculino aparece dolorosamente clivado, entre a Palavra, no diálogo de Yair com Miriam, e a Carne, consubstanciada no casamento com Maia.

É esta dor da separação entre a Palavra e a Carne que gera a escrita e a personagem, masculinas, de Yair-escrevente. Escrevendo-se, Yair não ultrapassa a separação entre a Palavra e a Carne mas ultrapassa a dor. Trilha dois caminhos paralelos, o da Carne, através do casamento e o da Palavra, através do adultério imaginado e feito palavra. A Carne masculina é forte, resistente, não cede à Natureza agressiva, não deixa ver o choro interior; a Palavra masculina mostra-se frágil, hesitante, capaz de suplicar, de chorar. A dor inicial resolve-se, pela escrita, ao longo das cartas. O abismo não é resolvido, as duas margens do abismo – a Palavra e a Carne - são apenas, masculinamente, alinhavadas uma à outra.

Encontramos em Chodorow uma possível interpretação, feminista e psicanalítica, da existência deste abismo primordial e pré-edipiano e para o modo como foi cultural e edipianamente resolvido. Segundo a autora, as diferenças entre géneros estabelecem-se no período pré-edipiano, nos dois primeiros anos de vida, concomitantemente com o desenvolvimento. A percepção da feminilidade é feita, no período pré-edipiano, de modo contínuo na relação da rapariga com a mãe; a percepção da masculinidade é feita na ruptura com a mãe, pela diferença: o rapaz é uma não-menina, uma não-fêmea. A identidade de género e o sentido da masculinidade são elaboradas na ruptura (para) com a mãe, num primeiro momento, o pré-edipiano.

Só num segundo momento do desenvolvimento sócio-psicológico - porque os homens são os detentores da cultura e do poder hegemónicos - as experiências pré-edipanas são reelaboradas discursivamente, pelo Verbo, e a mulher passa a ser um não-homem. Trata-se do momento edipiano.

A hegemonia e o poder masculinos resultariam, por conseguinte, para Chodorow, da institucionalização do inconsciente masculino, das suas defesas contra as experiências reprimidas (mas, por isso, extremamente actuantes) vivenciadas na fase pré-edipiana. O individualismo seria, assim, uma consequência da visão masculina edipiana sobre a separação pré-edipiana, visão da qual nasce, no homem, a necessidade de distância para com o outro e de autonomia face ao outro. Pelo contrário, e por terem tido um desenvolvimento precoce (pré-edipiano) de continuidade com a mãe, as raparigas adquirem um maior potencial psicológico - por comparação com que os rapazes - de segurança e liberdade. A necessidade de distância feminina para com o outro é mais ténue, a necessidade de autonomia menos desenvolvida. As raparigas sabem-se desde sempre mulheres, na sua Carne, ainda que o Verbo, mais tarde, lhes tenha contado a história de serem não-homens…

Voltando ao amor longamente (d)escrito em Grossmann, esta tese veste perfeitamente não apenas a nudez a solo de Yair, mas também o que nele o impede de usar a Palavra para regressar à Mãe. Yair não tem, dentro de si, essa palavra porque a separação Mãe-Filho é precoce, aconteceu-se na fase pré-edipiana, antes da institucionalização do Verbo. Por isso fica nu nos quintais das Casas das Mulheres que poderia amar plenamente. Fica nu no quintal da sua própria Casa porque não usa – porque a não tem - a Palavra para com Maia. Põe-se nu no quintal da Casa de Miriam porque não ousa usar a Carne. Fica sempre nu mas resiste à chuva, às dentadas da Natureza no seu Corpo. A imagem do cowboy solitário, a cavalo no Grande Canyon não será apenas hollywoodesca mas para-universal (na civilização ocidental ou judaico-cristã). Nu, individualista, autónomo, o homem cowboy fica um eterno menino-homem em luta contra a Natureza. Luta após luta, faz breves regressos a Casa ou às Casas. É marinheiro que vem a Terra, é cowboy que abre as portas do saloon. Uma eterna luta para continuar a ser não-mulher impede-o de chorar, impede-lhe a proximidade do Outro, dificulta-lhe a nudez a dois por um tempo longo, dificulta-lhe a nudez total, da Palavra e do Corpo.

Terá sido o homem a inventou o Amor-Paixão? Provavelmente… Colocou a Mulher dentro das ameias para dar a si próprio a tarefa de matar um dragão antes de chegar a ela. Quando cumpre a conquista do Forte, o Amor-Paixão transforma-se em Amor Romântico. Quando não cumpre a conquista material do Forte por não querer, por não poder[1], procura conquistá-lo pela Palavra, como o fizeram os Troubadours, Trobadors… fortalecendo um Amor-Paixão infindo, deixando-nos um espólio de cantos e trovas e eternizando, para a Mulher, a espera de Ulisses. As palavras trovadorescas permitem ao trovador-aristocrata o desvio não disruptor da ordem social. Talvez seja esse o papel, hoje democratizado, dos chats amorosos na net … Trilham-se – com a Chanson d´Amour - dois caminhos paralelos, o da Carne, através do casamento e o da Palavra, através do adultério imaginado e feito palavra trovada.

Questões com perguntas …

As respostas às perguntas, perante o que foi lido, até agora, dizem-nos das diferenças entre o Homem e a Mulher perante os caminhos do Amor. O homem parece o ser frágil, com medo da união total com a mulher, a olhar os vários abismos que se abrem perante si, seja a fossa com dragões para vencer, seja a divisão entre a Carne e a Palavra. Mais frágil, à partida, do que a mulher, o homem tem de lutar contra a Natureza – dragões, “Chuva” (Grossman) – para mostrar ser um homem, o homem que lhe disseram que ele é, inconfundível com a não-mulher que ele sabe ter sido antes do Princípio, antes do Verbo. Para a Mulher, o caminho do Amor será um caminho de continuidade pois ela sabe ser, desde que nasceu, mulher. Sabe também que, ao crescer, lhe foram dizendo que, afinal ela é um não-homem, i.e, freudianamente, um ser com uma simbólica inveja do pénis. Ambos, homem e mulher, têm, de si próprios, duas percepções. E cada um terá, do outro sexo, duas percepções…

Será possível livrarmo-nos desta quantidade enorme de percepções cruzadas? Tentemos, a partir do grito: “Chasser le Naturel, il revient au galop”! Se assim fosse, o encontro amoroso heterossexual dar-se-ia em estádios de desenvolvimento sócio-psicológico pré-edipiano. Ou seja, entre uma mulher e um ser não-mulher, o que, provavelmente, muito facilitaria a relação de Amor sob o paradigma do feminino, com um “maior potencial psicológico de segurança e liberdade”… que permitiria diminuir abismos masculinos, entre a Palavra e a Carne, entre estar e partir.

O caminho poderia, então, ser este: apoiar as fragilidades masculinas de modo a deixar emergir, no macho, aquilo que ele tem de não-mulher (o lado feminino, mesmo que do avesso ou o lado de lá do feminino). E como?

Veblen distingue entre o instinto artesanal, do homem de trabalho, a medir-se com uma Natureza que procura dominar obedecendo-lhe, através do conhecimento e da utilização inteligentes das relações de causa / efeito e o instinto predador, do homem de proa, agressivo, ciumento, invejoso, que arranca aos outros, com violência, aquilo que deseja para si. A partir deste instinto artesanal, não dominador, do lado do feminino, do homem e da mulher, poderíamos construir o Casal Novo? … que dispense o exercício do instinto predador, que “ama e deixa o seu amor livre para amar” (Mata)?


(continua … porque creio que acabei de começar …)

Vera Santana

CHODOROW, Nancy (1997) - Gender, Relations and Difference in Psychoanalityc Perspective In Meyers, Diana Tietjens (ed.) (1997) - Feminist Social Thought: a reader, New York and London, Routledge.

MATA, João – Sociólogo e Somaterapeuta; Lisboa, 2007/2008


27 de Março de 2008

[1] Porque a Dama é casada ou porque pertence a uma categoria social superior ou a outro grupo social …

domingo, março 30, 2008

Lisboa de... Rui Tavares


Como o tempo passa rápido...

É já amanhã que a segunda conferência do ciclo de conferências «Lisboa e a História» tem lugar.

Em destaque a «Lisboa... de Rui Tavares».

Temos, como imaginam, grandes expectativas em ouvir o que o jovem historiador (e agora frequente comentador televisivo) tem para dizer da Cidade de Lisboa. Lembramos que o Rui, investigador do período iluminista, publicou em 2005 um importante livro acerca da Lisboa pré-pombalina onde, entre outras reflexões, nos transporta para essa Lisboa caótica, medieval e renascentista.

«Fechar os olhos e cheirar essa cidade» é um dos desafios que lhe fiz.

Devemos, no entanto, esperar ainda que a nossa conversa nos transporte das cidades passadas para Cidades do futuro, reflectindo não só sobre o que já fomos mas sobre o que queremos ser. Espero mais uma excelente sessão, para a qual vos quero convidar a assistir.

Vai realizar-se amanhã, segunda-feira 31 de Março, pelas 19 horas no restaurante do 7º piso do El Corte Inglès.

Podem seguir aqui a conferência.

Obama Girl: The Lost Episode

Telémovel...

sexta-feira, março 28, 2008

Ainda 2008 / 2010

Este post, que mereceu honra de reprodução no PS Lumiar, suscitou este comentário por parte do E Branquinho; que agora responso:
Caro Branquinho,
Claro que tem toda a razão, a visão estratégica para a Cidade e para o País deve ser integradora e complementar, articulando todos os níveis de poder onde se exerça política. Neste sentido só se entende pensar Lisboa considerando a Autarquia e as Freguesias como um todo.
Agora a minha intenção neste curto texto era apenas de apresentar algumas considerações gerais acerca do biénio que agora começa, e não apresentar um programa detalhado de intervenção política (aliás, se o quisesse fazer remetia para o programa eleitoral que o Miguel Coelho apresentou recentemente, esse sim bem mais explicito sobre o assunto).
Também lhe devo referir, caro camarada, que no tema das Freguesias julgo de importância vital que se reequacione o modelo administrativo da Cidade. É necessário revalorizar o espaço institucional das Juntas de Freguesia, e isso só se consegue com um novo modelo organizativo.
Esse é um debate que espero que se consiga fazer no seio da Concelhia de Lisboa. Tivemos, a candidatura do Miguel Coelho, a coragem de colocar esse tema na nossa agenda, e espero contar com a colaboração activa dos Militantes do PS na cidade para reflectir sobre tão importante tópico.

O comércio não gosta...



quinta-feira, março 27, 2008

Lisboa Cool e Informada


Show de Magia Incompetente
Para o Hélder ser campeão do mundo, foi um passo de mágica. Ou de ilusionismo, se quiserem. Para os que não crentes nas artes das cartas, das moedas que aparecem do nada ou semelhantes truques do além, é ir ver para crer. Ele é mesmo diferente. Tanto que já convenceu meio planeta com as suas actuações. Mora em Portugal porque gosta de “coisas incompletas”, mas podia morar em qualquer outro lugar. Até aposto que poderia teletransportar-se para as Caraíbas, se lhe apetecesse. Mas isso não vem ao caso. O que importa é que vale mesmo a pena vê-lo fazer desaparecer o nosso descrédito na arte da magia. O talento sai-lhe de dentro da car(t)ola cheio de humor e o espectáculo que traz na manga é único, portanto aproveitem. Antes que se esfume no ar. /Jane
onde
Comuna, Praça de EspanhaTel.96 134 51 81
quando
Às 23h. Marcações: 91 9175069 /96 775 7512.
quanto
10€

Lançamento de DVD + Dj Set Noite Indie
Primeira boa notícia: o filme Control já existe em DVD. Segunda boa notícia: isto mete festa. Juntam-se o Projecto Marginal e a LNK em mais uma Noite Indie, desta vez a propósito do lançamento do DVD deste filme. Sobre Control já não há muito a dizer a não ser que foi das melhores coisas que aconteceram em 2007 e que nos fez recordar Ian Curtis de forma deslumbrante, a preto e branco e pela lente do fotógrafo Anton Corbjin. A música vai estar a cargo do colectivo Lisbon After Midnight, com o Dj John Holmes à frente do elenco. / Blindim
onde
Santiago Alquimista, Rua de Santiago nº19Tel.21 888 45 03
quando
A partir das 23h
quanto
5€
Jantar Temático
E agora, para vos aguçar o apetite, o menu do Maria da Fonte para esta quarta, dia 2: bloody mary alla modenese, parmesão com vinagre balsâmico, escalopes de porco com vinagre balsâmico e para sobremesa bavaroise de framboesas com geleia de vinagre balsâmico. Adivinharam o tema deste jantar? É isso mesmo, o vinagre balsâmico. Este é o terceiro jantar duma série de quatro do chef Luís Eduardo Dias no Maria da Fonte, um restaurante muito cool em Campo de Ourique. No fim ainda levam para casa uma brochura com história deste ingrediente e as receitas. / Blindim
onde
Maria da Fonte Rua 4 da Infantaria, 8A, Campo de Ourique. 213968201 ou 939546198
quando
Pelas 20h. Marcar com antecedência.
quanto
27€

Espaço cultural Karnart
O convite de entrada é feito por uma escada giratória, como se fosses entrar num sótão, sítio secreto cheio de relíquias e histórias a serem descobertas. E na verdade é essa a sensação com que ficas. No final da escada descobres uma pequena divisão toda pintada de preto, dás um passo em frente, e começas a sentir a mística. À medida que percorres as várias salas vais-te apercebendo do que restou das instalações da antiga Faculdade de Medicina Veterinária, da forma como o espaço foi adaptado e ganhou uma nova vida. Com uma programação centrada no conceito Perfinst (performance+instalação), é sem dúvida um lugar em Lisboa que vale a pena experimentar. Suzanne Marivoet
onde
Rua da Escola de Medicina Veterinária, 21. Telf. 213 152 192
quando

quanto
Entrada livre

Workshop Documentário - Cinema da Palavra
Documentar é explorar a verdade nua mas de leggins e em pontinhas de pé, meio crua meio cozida por lente de cré. Crente na verdade da lente mais do que no olho que vê (que o dziga Vertov) ou subjectivamente assumida e só parcialmente real. Este workshop propõe a compreensão da palavra no cinema documental através de visionamentos vários de excertos de filmes, estudando a relação da palavra com a imagem em movimento. Com Miguel Clara Vasconcelos (Documento Boxe), para documentar durante o mês de Abril. / Vera Morgado
onde
Praça Luís de Camões, nº36 3ºdto tel: 210962158 tlm: 911197797
quando
Quartas-feiras, de 9 a 30 de Abril, das 17h às 19h30m.
quanto
5euros

Assim se vê a força dos BRIC*

Jaguar e Land Rover foram comprados pela fabricante indIana de automóveis TATA

Mais um exemplo da crescente importância das grandes economias emergentes face aos países industrializados.

*Brasil, Rússia, Índia e China

A Selecção Nacional Chumbou o último Teste

Bem, depois da derrota face à Itália só faltava revistarmos as nossas humilhantes derrotas com os helénicos.

Espero que estejamos a ir de derrota em derrota até à vitória final.

O que ficou do jogo:

  • Sem Deco não temos um verdadeiro distribuidor de jogo. João Moutinho talvez consiga ocupar essa posição, daqui a alguns anos. Carlos Martins já não o vai conseguir.
  • Quaresma não é o Cristiano Ronaldo, apesar de todas as tentativas do lobby portista na comunicação social para dar essa imagem. Ele que pare de tentar marcar golos de trivela!
  • Portugal não joga bem com dois homens na frente.
  • Moutinho poderá ser uma boa alternativa como trinco, na movimentação defesa-ataque.
  • Nani deve ser convocado para o Europeu.
  • Bruno Alves fez uma excelente exibição. Pepe nem tanto.
  • Em termos de imagem mediática, cada vez mais somos uma selecção que vive de Cristiano Ronaldo. Vamos lá ver se não estão a criar expectativas elevadas em torno dele. Jogar no Manchester é diferente do que jogar na selecção.
  • Alguém me explica porque é que o Ricardo continua a ser o guarda-redes titular?

quarta-feira, março 26, 2008

2008-2010


Tomaram posse, na passada segunda feira, os Presidentes das Comissões Políticas Concelhia da Federação da Área de Lisboa do Partido Socialista.

Nove Concelhos - Amadora, Lisboa, Loures, Oeiras, Odivelas, Mafra, Cascais, Vila Franca de Xira e Azambuja - foram a votos este mês e foram eleitas, em eleições concorrenciais, os Comissários Políticos que terão a responsabilidade política de falarem em nome do PS nesses Concelhos.

Eu, como já sabiam, apoiei a candidatura do Miguel Coelho à Concelhia do PS Lisboa. Acabei por ser eleito, era, deliberadamente, o 31º da lista (de 61) e terei, com os meus companheiros e camaradas da restante Comissão Política Concelhia, a oportunidade e a responsabilidade de colocar o PS Lisboa em sintonia com a Cidade; como já o fez no passado. É verdade que nos últimos anos tem havido algum afastamento entre as instituições socialistas da cidade de Lisboa e os seus concidadãos, de uma forma geral, mas tenhamos em consideração que o PS tem estado na oposição à CML. Agora, com a liderança do António Costa, e com uma articulação estratégica entre os eleitos do PS na CML e o PS Lisboa, tenho poucas dúvidas que conseguiremos colocar o PS na vanguarda política lisboeta.

Hoje tomarei posse como Comissário Político e iremos eleger o Secretariado Concelhio, e será esta equipa executiva que terá a responsabilidade de navegar ao longo do ano de 2009, ano eleitoral decisivo para as ambições do PS na cidade e no país. Não sei, ainda, qual será a equipa convidada a tomar as rédeas desta navegação, mas pelo que tive a oportunidade de ver na campanha (e pela excelente relação entre o Miguel Coelho e o António Costa), estou em crer que teremos uma verdadeira equipa de combate, multidisciplinar, com capacidade de reflexão e de acção. Ideias temos. Capacidade de as executar, também; se conseguirmos reunir os necessários.

Serão dois anos de elevada intensidade política, onde será necessário não só apoiar as políticas aplicadas (quer na CML quer no país), mas também exercer uma dupla crítica: construtiva e solidária. Critica construtiva no sentido de procurar apresentar sugestões de políticas públicas, alternativas ou complementares, às em execução hoje. Este aspecto é fundamental, pois simboliza a autonomia, a independência e a pluralidade institucional que deve ser, e é, valorizada no seio do Partido Socialista. Por outro lado, a critica deve ser, sempre, responsável e solidária. Sabemos que, dentro do Partido, é valorizada a pluralidade e a opinião, mas não devemos esquecer que, na difícil arte da governação, o PS necessita de apresentar uma frente externa forte e coesa; e para que tal aconteça é importante que o combate político interno se mantenha dentro das fronteiras do Partido, dentro dos seus órgãos próprios, e não na opinião pública e publicada generalista. O PS não é o PPD/PSD. Nem quer ser.

O PS tem, hoje, a responsabilidade de ser Governo no País e na sua Capital. Tem sabido mostrar e demonstrar que a esquerda também pode e sabe governar. A herança histórica da inevitabilidade do confronto interno perante situações de Poder está a ser desmentida. Mais, o PS tem provado que é possível manter a pluralidade interna activa e participada e, simultaneamente, apresentar uma frente unida nas instituições onde assume a governação. Esta é, aliás, uma das suas maiores forças, e permite-lhe estar na vanguarda do debate político e procurar sempre a melhor solução ao nível das Políticas Publicas.

O PS é, hoje, um Partido activo, forte e progressista. O PS, hoje, tem sabido ultrapassar esse permanente trauma de esquerda que é a relação com o Poder. O PS é, hoje, significado de Modernidade e Progresso. Sabemos que muito já foi feito; mas sabemos também que ainda há muito a fazer. O acto simbólico de segunda-feira, a tomada de posso dos líderes concelhios da área de Lisboa, a importância que foi dedicada a tal acto, apenas confirma que o Partido está atento e consciente do papel que tem sabido desempenhar na sociedade portuguesa. Sabemos, como dizia, que o trabalho ainda está incompleto; e que este biénio – 2008 / 2010 – será decisivo. Não para o Partido ou para a Cidade de Lisboa, mas para o País. E contem com o PS para a luta (política) que se adivinha.
Vão ser dois anos muito interessantes…

terça-feira, março 25, 2008

Uma notícia sobre cidadania em exercício

FUNDAÇÃO GULBENKIAN APOIA NOVO SITE PARLAMENTO GLOBAL

A Fundação Calouste Gulbenkian assinou um protocolo de parceria com os três órgãos de comunicação social responsáveis pelo site Parlamento Global: SIC, Rádio Renascença e Expresso.O PARLAMENTO GLOBAL é um projecto online que resulta de uma convergência inédita entre os 3 órgãos de informação. O projecto pretende recriar a cobertura parlamentar feita pelos parceiros envolvidos, cruzando-a com a sociedade civil, no sentido de uma maior participação dos cidadãos e de instituições exteriores à Assembleia da República. O novo site que pretender ser de e para os cidadãos, ficará alojado em www.parlamentoglobal.pt.

Logo no arranque, o Parlamento Global terá um espaço infantil que crescerá no sentido da criação de conteúdos infanto-juvenis que provoquem a reflexão sobre todos os temas que podem ajudar a criar melhor cidadania. Há muito que a Fundação Gulbenkian é uma referência na área educativa desenvolvendo projectos e conteúdos que enriquecem a história do país.

Por isso, esta parceria estratégica com a Fundação permite reforçar aquela que é uma das maiores apostas do Parlamento Global, ou seja torná-lo a prazo num autêntico portal da cidadania.

Os conteúdos noticiosos serão muito diversificados e pretendem cobrir e aprofundar, entre outras, as grandes questões ligadas à leitura e literacia, à matemática, ao ambiente e à inserção social.

Na assinatura do protocolo estiveram presentes o Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, o Presidente da Impresa, Francisco Pinto Balsemão, o Presidente do Grupo Rádio Renascença, Cónego João Aguiar Campos e os directores de informação da SIC, Rádio Renascença e Expresso.

(Fonte: Newsletter on-line da Fundação Calouste Gulbenkian)

Vera Santana

segunda-feira, março 24, 2008

A Palavra e a Carne (2ª parte)


O Amor Paixão

Não havia obstáculos visíveis a não ser o corriqueiro facto de ambos serem casados. Yair com Maia, Miriam com Amos. Tudo se passa no final do século XX (1998) numa Israel moderna, entre gente educada e adulta. Ora, por que haveria um acontecimento tão comum de dar lugar a uma narrativa longa de 8 meses e de muitas páginas, iniciada por Yair, com palavras de Amor-Paixão, terminada por Yair, sem nunca sair do terreno das palavras? Yair não é um psicopata mas um homem comum. Um judeu comum. Poderia ter ido a um psicanalista e não haveria livro… Poderia, como diz o próprio Yair, ter acontecido um comum caso de adultério praticado e não haveria livro porque se situaria dentro das “normas do adultério” e as longas páginas não teriam nunca deixado de ser brancas, pois um homem não iria escrever cartas, em papel, a uma Amante conquistada; escreveria emails e sms a marcar os encontros e gravaria, na virtualidade do éter, palavras de amor. Muito menos iria pessoalmente deixá-las no local de trabalho dela, numa clandestinidade a rasar as paredes (“reparaste, Miriam, que não têm selo?”).

Não era essa a ideia de Yair / David Grossmann… Foi a ideia de Marguerite Duras, ao biografar um maravilhado desvio no feminino, num tempo e num espaço longínquos, coloniais e mágicos, numa Indochina húmida e quente, habitada por raças e por culturas em choque. Grossmann poderia facilmente ter seguido, em Israel, um caminho equivalente. Quais são os obstáculos que impedem este amor por palavras de se transformar em amor veramente carnal?

Não pretendo obviamente fazer crítica literária, pelo que já saltei para fora da obra, mas interrogar o Amor, o Homem, a Mulher, a Civilização. Mais adiante, proporei uma leitura feminista do Amor.

Grossman escolhe o amor-paixão e não o amor romântico ou o amor confluente (Luhmann, Giddens), por ser um protótipo do amor no Ocidente (Rougemont). É o mito de Tristão e Isolda. Os Trovadores praticaram-no, em langue d´Oc musicada, encantando as castelãs, saltando sempre as ameias por palavras … Este tipo de amor nomeado como amor impossível seduz, nos nossos dias, as massas, mesmo quando, como acontece nas telenovelas e nas revistas cor-de-rosa, as ameias cedem, o Trovador entra e conquista a Dama, acabam por se casar, e o amor passa a ser um amor-romântico, menos disruptor da ordem social. E assim acaba a história: foram felizes para sempre. Mas, porque o amor se tornou num produto consumível, o par ou não é feliz para sempre e divorcia-se – como se pode ver nas revistas cor-de-rosa – ou tem filhos e mais filhos, ou tem até irmãos (pode ter-se um irmão ou uma irmã, de repente, como teve agora a Alexandra Lencastre) e pais e avós, e novos avós.

O que terá acontecido à imensa culpabilidade judaica de Yair, depois de parar de se escrever? Foi ele capaz de guardar as cenas infantis numa gaveta de memórias e fechá-las para sempre? A culpabilidade deve ter continuado a actuar. As cenas terão, talvez, sido trancadas e seladas… Já confessadas, de jacto, tornaram a gaveta menos pesada.

Yair quer viver uma parte do Amor que não pode viver socialmente. Quer um Amor-paixão disruptor, total, que provoque Carne Viva em Miriam. Não ia fazê-lo com a sua companheira do quotidiano. Yair quer reviver uma parte da sua história de vida que não pode reviver socialmente: não vai contar a Maia que um dia fugiu, envergonhado e diminuído, do Beco do Amor. Basta-lhe a Palavra. Na nossa civilização, ao Princípio era a Palavra. Chega. Ça suffit pour apaiser l´Homme Yair. Yair é o elemento activo da narrativa, o destinador, as Cartas o objecto material que o destinador faz chegar ao destinatário, inventando ele próprio alguns obstáculos, ao rondar, em pêlo, a casa de Miriam e ser assustado pelos cães que o filam mas que, ao vê-lo despido, se afastam. A nudez, uma certa nudez, a solo, parece ser o objecto imaterial que Yair quer fazer chegar a Miriam. Consegue pôr-se nu, mostra-se e afasta-se, numa espécie de exibicionismo por palavras.

Miriam, Mulher, está mais consciente da sua Carne. Quer que a Palavra se consubstancie em Carne. Miriam é o elemento passivo da narrativa, o destinatário. O objecto que Miriam espera são as cartas mas também uma certa outra nudez, uma nudez a dois, real, palpável e que não se afaste …

Os objectos de Amor masculino e feminino não coincidem, nesta narrativa. Ou nesta nossa civilização judaico-cristã?

(continua numa 3ª parte)

Vera Santana

A Palavra e a Carne (1ª parte)


O prazer da página em branco

O prazer da página em branco. Muito se fala da angústia da página em branco. E o prazer dado por uma página em branco na qual se lança uma primeira mancha negra, uma palavra, duas palavras? É um prazer de apropriação, resultante de um acto de vontade. É um prazer primeiro que condiciona os prazeres seguintes. A página vai perdendo a brancura porque eu inscrevo nela o negro da letra, o negro da vida. Para muitas culturas o branco é a Morte.

Carne Viva

Começo esta página com prazer e com a palavra prazer. E não é por acaso. Quero falar do resultado das leituras cruzadas que, ao acaso, vou fazendo. De David Grossmann li, num ápice, “Em Carne Viva”, para alguns a mais triste história de amor de sempre. É mais uma história de amor escrita no masculino, escancarando o ponto de vista do macho. Nesta história, o do macho judeu.

Há uma personagem principal ou talvez duas que enche(m) o capítulo primeiro, o mais volumoso, e também o de maior duração: Yair. Yair que escreve, Yair que se autobiografa. Nem sempre são o mesmo. Yair que escreve fá-lo a partir de um acto inaugural: escreve uma primeira carta a uma mulher, Miriam, que não conhece, apenas entreviu, e elegeu pelo sorriso, pelo modo de-estar-não-estando, em grupo, pelo auto-abraço em que se acariciava, pela maternidade – saberemos depois – que Yair viu nela, antevista no acto de disponibilidade para com os alunos. O Yair que escreve é um conquistador, um Cyrano que seduz pelas palavras, que fala em paixão, em amor carnal. Yair que inventa encontros entre ambos, junto de “jactos de água”, fugas clandestinas “de três dias”, corpos em frémito, o corpo masculino a proteger, qual concha, o sono do corpo feminino. Yair em estado de paixão absoluta que conta o tempo - “daqui a 6 horas”- que falta para que as palavras escritas por si, no papel, penetrem os olhos, o cérebro, os vários pontos do corpo de Miriam. É um Yair apaixonado, que sofre e tem prazer, que se inquieta com os atrasos das cartas de Miriam. É um Yair trovador que canta e encanta Isolda com palavras de Tristão. Sim, claro, como amor-paixão que é, acaba mal. Os obstáculos que dificultam qualquer amor-paixão (Luhmann, Giddens) não vão ser ultrapassados ou se calhar nem existiam porque eram palavras inscritas no papel, ou, por serem palavras em devir tinham um poder maior do que qualquer acto acontecido... Ao contrário deste Yair, o Yair que se autobiógrafa é um Yair inseguro, infantil, em carne viva, nu. O Yair-escrevente domina a escrita, é activo, fala a uma Mulher que quer conquistar. O Yair-biografado é um ser aparentemente dominado pela sua própria narrativa de vida, pela culpabilidade que o persegue, em criança e em adulto e que pede a compreensão Maternal de Miriam: “sê o meu pára-raios” para o seu irmão-negro, ou ele próprio nos seus actos “desviados” que para sempre o impregnaram de negritude – o roubo de dinheiro, o sexo comprado – num cantinho da sua cabeça muito freudianamente isolado e estanque, e de culpabilidade – inscrita no corpo, olhada e vista por terceiros, na rua, desde que miúdo de treze anos, saíra, às escondidas e humilhado por uma matrona, do beco do sexo comprado.

A narrativa – porque de uma narrativa se trata – sob a forma de cartas, cartas de Yair a Miriam e desta áquele, tem um desfecho subtil e inesperado, numa curta frase da última carta de Yair a Miriam quando esta – sempre em situações imaginadas por Yair – lhe pede, numa frase de quatro palavras, depois do acto de Amor Carnal “náo saias de mim”. Yair-escrevente revolta-se, quer sair dela, de Miriam Mulher, quer a sua Liberdade de Homem, cumprido que estava o acto de virilidade; não compreende o que dele quer Miriam pois se até a virilidade se encontrava em quarto minguante! Yair-autobiografo também se revolta: ao longo de 8 meses, já tinha contado a Miriam Mãe, uma desconhecida, tudo o que nunca antes ousara contar a ninguém, nem mesmo à mulher, Maia a Alegre, e Mãe de um Filho de ambos[1], a necessidade de maternagem de Yair acabara, a enorme culpabilidade de Yair já fora atirada em “jactos de água”, para Miriam-Mãe-de-Yair, já não fazia sentido, para Yair “não sair dela”; findos 8 meses de escrita, o Amor Carnal fora cumprido (em palavras…) já não fazia sentido, paradoxalmente, continuar a escrever a Miriam-Mulher. Yair-escrevente e Yair-autobiografado são, no acto de fuga para longe de Miriam, totalmente cúmplices entre si, afinal são apenas um: Yair, o Homem, um quarto minguante que se vê insignificante depois do (j)acto final. In-significante para o Acto e in-significante pela Palavra. “Já gastámos as palavras, meu Amor” diz o nosso Poeta.

E Miriam? Miriam é, em “Carne Viva”, uma personagem secundária. Disponível, abriu as mãos para receber as Palavras de Yair, palavras de Paixão e palavras de dores, dele, antigas e enterradas. Miriam é uma Mãe sem um Filho da sua carne (o filho … é do 1º casamento do marido) e uma Mãe de alunos, para os alunos. As cartas de Miriam constituem o segundo capítulo do livro e são a continuação cronológica das cartas de Yair. O Cupido das Palavras de Yair atingiram a Carne de Miriam e ela espera que Yair suba as escadas da Casa, em carne e osso. Espera por Yair, acabadas que estão as Palavras que este lhe mandara ao longo de 8 meses. Nem 9 meses foram; e a fuga imaginada por Yair nem uma semana durou, apenas três dias; Yair pode ser tão desviado que nem cumpre o tempo Social, seja o da Natureza Procriadora, seja o do Livro Sagrado!. São, nesta Narrativa, as Mulheres que cumprem os Tempos e o Sagrado? São provavelmente nesta nossa Civilização Ocidental. Acabados os 8 meses prenhes de palavras masculinas, Miriam fica vazia. Enche o corpo em carne viva com a invenção do Surgimento de Yair e com livros – palavras de outrém – que lhe vai enviando ao longe, através de um paquete, de quando em quando. Miriam, uma narrativa aberta, uma obra em aberto… até quando vai Miriam esperar por Yair? Quantos livros vai Miriam enviar, por intermédio de um portador, a Yair? Quantas palavras, escritas em livros, por outros que não ela, vai Miriam enviar a Yair? Como Amor-Paixão que é, a história acaba mal para Miriam porque não acaba… Miriam-Penélope.

“Chuva” é o terceiro e último capítulo, uma sonatina a quatro mãos, onde se misturam, em itálico, os discursos de Miriam e de Yair e onde entra, numa nova cena, uma terceira personagem de Yair: Yair-menino de nove anos, à chuva, a precisar - sem a pedir - de protecção maternal de uma Mãe (temporariamente) ausente. “Chuva” reforça o que a frase-chave, do primeiro capítulo indiciara claramente: “Mãe: não saias de mim”, e explica-a muito freudianamente.

[1] Maia é Mãe do Filho de Yair. Seria talvez incestuoso se Yair pedisse a Maia que fosse também sua Mãe. É mais fácil contar-se a uma desconhecida e permanecer Homem Grande perante a Mulher/Esposa.

(continua)
Vera Santana

quinta-feira, março 20, 2008

Completamente Inadmissivel



Em vez de se andar a discutir avaliações (que devem ser discutidas) se discutissem era a resolução dos problemas reais do ensino (a que os pais também não devem virar as costas)

quarta-feira, março 19, 2008

Ministro da Cultura

Escutei no jornal das 21 da Sic Not o novel Ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro.
Gostei do que ouvi e fiquei com elevadas expectativas do seu trabalho.
Partilho com ele a noção de que pode (e deve) a Cultura reger toda a actividade política, servindo como grande alicerce e cimento à mais nobre actividade humana.
Também partilho com ele a necessidade de manter e aumentar a autonomia dos equipamentos culturais, nomeadamente no que diga respeito à produção de conteúdos; partilho a necessidade de um maior envolvimento do «mercado» nas actividades culturais e na redefinição do papel dos Mecenas na promuçao e divulgação das actividades artísticas.
Gostei ainda da reflexão que apresentou sobre a Língua Portuguesa (onde defendeu, e bem, o acordo ortográfico) e nas ideias que apresentou acerca das Industrias Culturais e Criativas. Estas áreas foram – junto da recuperação do Património Cultural – as identificadas como estratégicas.
Gostei, por fim, do seu estilo discreto, tranquilo, humilde e, essencialmente, sincero.
Repito, deixou-me elevadas expectativas (a confirmar)…

Discursos

Vi, pelo Rui, e ouvi o último discurso de Barack Obama, sobre a questão racial.
É verdadeiramente impressionante a sua capacidade de oratória e de construção de discurso. É, mesmo, do melhor que se tem produzido ao nivel da política contemporanea.
É impressionante como consegue, só pelo poder das palavras, não só arrasar com um assunto que o poderia incomodar (a questão de Jeremiah Wright), como recolocar o momento político nele próprio. Depois deste discurso em Filadelfia já não se fala de Jeremiah Wright, ou de Geraldine Ferraro. Irá se falar de Obama, do seu discurso, da sua oratória.
Resta saber se a «conversa» chega...
Pode esta campanha acabar agora que já tinha produzido os principais momentos políticos de uma geração que escolhe se afastar da política. Esta é, definitivamente, as eleições de que nos vamos recordar, daqui a 30 anos; como os de hoje que se recordam de Kennedy contra Nixon, ou de Soares contra Cunhal, num cenário mais caseiro.
Ser norte-americano hoje é ter a oportunidade de poder participar, activamente e com direito de voto, neste incrivel processo eleitoral em curso. No entanto isso significa ser capaz de escolher entre o melhor orador político dos últimos 30 anos (Obama) e uma das melhores cabeças de uma geração e das pessoas mais capacitadas para gerir um pais como os EUA (Clinton).
Deixo uma sugestão: ticket 2008 Clinton - Obama. Ticket 2012 Obama - Clinton.

A (outra) possibilidade

Nancy Pelosi tem estado, ultimamente, muito próxima de Obama. Será a candidata a Vice-Presidente no Ticket Democrata? Com a posição e projecção que ganhou na base democrata depois das úlitmas eleições para o Congresso, e com a posição que ocupa, era quase "perfeita": Mulher, Figura Nacional e fortemente relacionada com a base democrata.

Não deixa de ser estranho esta constante aproximação a Obama, quando pela posição que ocupa deveria se resguardar para trabalhar uma solução com Howard Dean e Al Gore. A não ser que tenha já a solução, e que a solução passe por ela...

quinta-feira, março 13, 2008

Assim se vê a força... do PS

O engano

António Capucho está enganado. Ou está enganado ou não lê jornais. Quem tem alcunha de Salazar é o outro.

Estes políticos não aprendem...

Uma dúvida...

Fico com uma dúvida depois de mais uma vez assistir a toda esta polémica racial provocada (desta vez) por Geraldine Ferraro: Se a América branca (democrata) votasse esmagadoramente num candidato branco, certamente haveriam muitos que diriam que um candidato afro-americano não consegue ser eleito, ou nomeado, numa América racista. Se a América afro-americana votar esmagadoramente num candidato afro-americano just because, isso é sinal de quê em vez de racismo?


P.S. - A utilização do termo afro-americano é para ser políticamente correcto nos termos americanos

terça-feira, março 11, 2008

Educação

Por causa de toda a celeuma em volta da Educação...

"Todo o homem recebe dois tipos de educação: uma que lhe é dada pelos outros, e outra, muito importante, que ele dá a si proprio"

Edward Gibbon, historiador inglês ( 1737 - 1794 )


11 de Março de 2004


Faz hoje 4 anos

Mapas




Assim ficou o mapa político das recentes eleições espanholas.

Entretanto, em França realizou-se o primeiro turno das eleições Municipais (o sistema é maioritário a 2 voltas). Como costume, apenas um punhado de Municípios obtiveram maioria absoluta, sendo necessário que se recorra a uma segunda volta para apurar os resultados finais.
O resultado nacional acumulado deu à esquerda 47% dos votos e à direita 40%, num cenário de mais de 70% de participação. A desejada punição a Sarkosy não foi tão pronunciada como anteciparam.
Podem ver os resultados apurados aqui, aqui e aqui (ver ainda esta e esta notícia). Em baixo estão três gráficos: um onde são indicados os Municípios já decididos (com maioria absoluta à primeira volta); e outros dois com a distribuição dos votos da esquerda e da direita.
A segunda volta é no dia 16 de Março.

Avante!


Vejo pelo Daniel Oliveira (também já tinha lido algures) que o PCP disponibilizou online exemplares digitalizados do Avante! clandestino.

Este é , como se imagina, um importante contributo para investigadores, interessados e curiosos. Muita da história da oposição ao Estado Novo ali é contada (muita mas não toda, atenção); mas atenção, trata-se da história oficial do PCP de Álvaro Cunhal, e não toda a história do Partido Comunista Português. Onde estão as 3ª, 4ª e 5ª séries do jornal? Onde está o Avante! do «outro» secretariado dos anos 40?

Não me interpretem mal, considero que esta iniciativa de autêntico serviço público que o PCP agora promove deve ser aplaudida e recomendada. Para quando semelhantes divulgações por parte de outros partidos políticos? (não me parece que quer o Povo Livre quer o Acção Socialista partilhem o seu arquivo online).

segunda-feira, março 10, 2008

A AVALIAÇÃO NA BÉLGICA

A AVALIAÇÃO NA BÉLGICA

É importante que o Ministério da Educação, antes de tentar impor uma reforma global que pode estar radicalmente errada, se procure informar sobre as formas de avaliação dos professores adoptadas noutros paises da Europa, que parecem serem razoavelmente aceites pelos seus professores. A Comunicação Social pode dar, neste assunto, uma importante ajuda. No Sábado passado, vi na televisão, num curto programa, um professor explicar que, quando na Bélgica, o director de uma escola recebe a indicação de um professor não estar a desempenhar convenientemente as suas funções, pede ao Ministério para nomear uma comissão para o avaliar. Penso que uma medida deste género, desde que convenientemente negociada, pode ser aceite pelos Sindicatos e Comissões de Pais portugueses. Os maus e muito maus professores são poucos, mas existem, e há que proteger os estudantes de a eles estarem sujeitos.

O ensino português pode melhorar com simples medidas de bom senso. No caso citado , o Ministério, em vez de procurar avaliar simultâneamente 140.000 professores, tem, simplesmente, de promover a criação de orgãos especializados para avaliar a competência dos relativamente poucos professores suspeitos de não serem competentes. A estes, devem ser dadas todas as garantias como, por exemplo, a de poderem designar dois elementos para integrarem a comissão encarregue de os avaliar.

O Ministério deve, também, criar orgãos vocacionados para detectar os muito bons professores, que são o património mais valioso de um sistema educativo, e que devem, depois, ser utilizados pelo Ministério como motores da melhoria do nosso sistema de ensino. Numa avaliação global, simultânea e esquemática, estes melhores professores correm o sério risco de não serem considerados aptos para serem professores titulares, e serem assim impedidos de influenciar o evoluir das próprias escolas. E corremos um outro risco: o de alguns dos piores professores se tornarem “especialistas em serem avaliados” sendo assim seleccionados para professores titulares e passando a influenciar fortemente o futuro do nosso ensino.

António Brotas

Antigo Secretário de Estado e Director do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Educação.

Zapatero, Rajoy y España


Em Espanha Zapatero - e o PSOE - renovaram a legitimidade eleitoral e terão mais 4 anos de Governo. Foram umas eleições marcadas pela crescente polarização política entre o PSOE e o PP, que juntos obtiveram quase 85% dos votos (e 92% dos deputados); penalizando os pequenos partidos.
Para o PSOE foi uma importante vitória, não só porque ganha com uma distância de cerca de 900 mil votos, mas porque o faz num cenário de crescimento do PP (mais 400 mil votos que em 2004). No entanto, Zapatero não alcança a desejada maioria absoluta, não podendo assim cantar vitória de pulmão cheio (especialmente se analisarmos os resultados por províncias). Rajoy obtém um interessante resultado para o PP, também canta vitória… mas não irá formar governo. Resta saber como analizará o Partido Popular este resultado para saber se Rajoy será, ou não, o futuro líder da oposição. É que, apesar do crescimento eleitoral, é a segunda derrota perante Zapa. Duvido que terá a terceira oportunidade (mais a mais quando a direita espanhola tem sabido produzir novos protagonistas, nunca nos esquecendo de um possível retorno de Aznar…).
No país, o PSOE ganha a Andaluzia (apesar ter perdido votos e deputados para o PP quando comparado com 2004), Barcelona e a zona circundante (Zaragoza, Huesca, Teruel, Lleida, Terragona, e Girona). No Norte ganha no Pais Basco (Vizcais, Alava, Guipúzcoa) e as astúrias e Leao. Ganha também as ilhas.
O PP ganha todo o centro (Castilha la Mancha), a Galiza e a costa Valenciana (Valência, Múrcia, Almeria, Castelón). Ganha ainda Madrid e (quase) todo o Norte (La Rioja, Navarra, Burgos, Valladolid, etc).
Uma análise mais cuidada verifica que o PSOE apenas sobe o seu número de eleitos na Catalunha e nos círculos que em 2008 elegem mais deputados (ver os exemplos de Zaragoza e Terragona) e que os 16 deputados que consegue de vantagem em relação ao PP são quase exclusivamente conquistados na Cataunha. O número total de províncias (e círculos eleitorais) dá ao PP uma vantagem de 28-24.
O PP tem, na verdade, um excelente resultado. Mantém e aumenta o seu peso eleitoral em Madrid e na Espanha central (a Meseta), na zona de valência e na Galiza; e penetra no bastião socialista da Andaluzia (onde elege mais deputados que em 2004). Faltou-lhe a Catalunha (e o Pais Basco, mas este sem peso eleitoral).
Em Madrid e Barcelona a correlação de forças mantém-se. Em Barcelona o PSOE elege mesmo mais 2 deputados que em 2004, mantendo o PP os seus 5 eleitos. Em Madrid o PSOE perde cerca de 177 mil votos, e um deputado para o PP (o score altera-se de 17-16 em 2004 para 18-15 em 2008).
É necessário ter ainda em consideração que o sistema eleitoral espanhol tem algumas características que ajudam a explicar os resultados. Ele é constituído por 52 circulos eleitorais, a maioria plurinominais, que variam de 1 deputado (Ceuta e Melila), aos 35 de Madrid e 31 de Barcelona. Acima dos 10 deputados encontramos apenas Alicante, Múrcia, Málaga, Sevilha e Valência. A grande maioria dos círculos tem, entre 3 e 7 eleitos. Isto explica, em parte, a bipartidarização, uma vez que na maioria dos círculos eleitorais apenas o PSOE e o PP conseguem eleger.
A má notícia destas eleições é a bipartidarização que produziu. O sistema e a realidade política e social espanhola necessitam que a sua pluralidade politica esteja bem representada no Congresso dos Deputados, o que não irá acontecer nesta legislatura.
A vida política espanhola não irá tranquilizar-se com este resultado, pelo contrário. Esperam-nos quatro anos muito intensos (mais a mais quando o PP mantém o controlo do Senado, apesar de alguns ganhos do PSOE).
Para nós, Portugal e Europa, resta-nos continuar a aprender com o exemplo reformista espanhol e procurar transportar para os nossos discursos internos algumas das propostas sociais que nuestros hermanos têm conseguido implementar.

[ver os resultados totais aqui e aqui]

Divulgação / Convite


No âmbito dos encontros regulares realizados em parceria com o Instituto Franco-Portuguêsdestinados a promover o debate sobre artigos do Le Monde diplomatique comuns à edição original francesa e à edição portuguesa,este mês propomos a discussão em torno da reportagem de Philippe Rekacewicz «Refugiados no Sul, barreiras no Norte»
da edição de Março. Poderá ler um excerto desta reportagem no sítio Internet do jornal.
Sobre o mesmo tema, poderá também ler o artigo inédito da autoria de Jean Ziegler, «Os refugiados da fome».
A gravíssima situação com que se confrontam as populações de muitos países em vias de desenvolvimento gerou, ao longo dos últimos anos, deslocações em massa de refugiados. Em função das barreiras que são colocadas pelo Norte desenvolvido, a concentração de refugiados dá-se sobretudo nos países do Sul, o que cria um cenário de extrema precariedade que dificulta a resposta humanitária.
O debate contará com a presença da jornalista Diana Andringa, de Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacionale de Mónica Ferro, da Associação Portuguesa das Nações Unidas, e terá lugar na zona do bardo Instituto Franco-Português no dia 12 de Março, quarta-feira, a partir das 21h30.
A entrada é livre. Participe!
Clique aqui para ver o mapa com a localização doInstituto Franco-Português (Av. Luís Bivar, n.º 91, em Lisboa - junto ao Saldanha).

Zapatero


Zapatero ganha as Legislativas 2008 espanholas

sábado, março 08, 2008

Concelhia de Lisboa


Ontem mais de 1600 Militantes do PS em Lisboa foram votar em eleições internas.
Foi, para mim, uma experiência muito interessante. Tive a oportunidade de conhecer e de trabalhar com pessoas de muita qualidade e de verificar que o Partido Socialista, nas suas diversas estruturas locais, tem muitos e bons quadros (é verdade que, por vezes, mal aproveitados).
Gostei da campanha positiva do Miguel Coelho, ideias simples, exequíveis e executáveis no espaço do mandato agora ganho. Gostei menos da campanha do Miguel Teixeira, porque pensava que se discutiria mais política e menos pessoas ou «esquemas». Penso que foi de muito mau tom não ter tido a humildade de ter aceite os resultados expressos e de ter dado os parabéns ao vencedor. Enfim, formas de estar na política.
O resultado foi 1006 a 615 para a lista A.
Vejam os resultados finais aqui.
[versão revista e aumentada]
[adenda: parece que ontem à noite, dois dias depois da eleição, o resultado foi reconhecido pela candidatura do Miguel Teixeira. Devo dizer que é um texto «estranho», pois quem o ler com atenção parece que foi a Lista B a verdadeira vencedora da eleição de dia 7. Relembro os resultados, para os mais desatentos: Lista A 1006, Lista B 615. Os mesmos de 2006]

quarta-feira, março 05, 2008

Going on to the Dream Ticket?

Acto Eleitoral

Como o tempo passa a correr...
É já esta sexta-feira o acto eleitoral para a Concelhia de Lisboa.
Ambas as candidaturas apresentam os seus argumentos finais, nomeadamente os seus programas e as suas listas de candidatos.
Aqui pode ser consultado o programa e a lista do Miguel Coelho.
Infelizmente, na candidatura do Miguel Teixeira só nos é facilitado o programa; não existindo - no momento em que escrevo estas palavras - qualquer lista exposta. É, admito, uma situação estranha, pois é pedido um voto mas não é indicado em quem. Não entendo, a sério, quem solicita o voto e não apresenta em quem. Deve ser assim tratado o eleitor / Militante? Deve ser só convocado a votar no primeiro subscritor da lista? Onde e quando se tornou o sistema presidencialista?
Não entendo, a sério, esta táctica de secretismo e de controlo de informação. Faltam, relembro, 48 horas para a votação.
Devo, também, referir que apesar de estranhar esta atitude não me surpreende. O recente silêncio blogosférico que a candidatura do Miguel Teixeira tem produzido já indicava que se tinha alterado o curso inicial de exposição informativa do decurso da campanha eleitoral. depois das polémicas das primeiras semanas – onde nos envolvemos intensamente – grassou o silêncio no campo do Miguel Teixeira. Deixámos de ter vídeos, reportagens, textos. Deixámos de ter informação.
Na campanha do Miguel Coelho a estratégia seguida foi a inversa. Nós respeitamos o Militante do PS em Lisboa, e, nesse sentido, procuramos fornecer-lhe a informação mais completa e actualizada. O Militante conta, e deve ser valorizado.
Enfim, são formas de estar na política.
Retomo o tema inicial:
Aqui está o programa do Miguel Coelho.
Aqui está o programa do Miguel Teixeira.

Aqui está a lista do Miguel Coelho.
Ainda esperamos a lista do Miguel Teixeira.

Parece que sim...

Pelo menos em momentum.

Tinhas razão, sim senhor!!!

domingo, março 02, 2008

Parabéns


Numa altura em que a esquerda socialista e democrática assumidamente associada ao Partido Socialista é tão escassa na blogosfera nacional (como é facil ser oposição neste país...), o Tiago Barbosa Ribeiro, no Kontratempos, acaba por ser um importante ponto de referência do que é, também, o PS hoje: um Partido plural, solidário, crítico qb e pró activo.
Assim, e porque celebra 2 anitos de existência, deixamos publicamente expresso os nossos parabéns. Que venham mais uns quantos...

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