sexta-feira, setembro 16, 2005

De regresso à luta…

Pelo que por aí leio, na blogosfera, aparentemente já temos decisão em relação ao próximo Presidente da República: Aníbal Cavaco Silva.

São diversas as razões pelas quais me inclino a esta conclusão:

As sondagens.

O Pedro Magalhães, lendo as sondagens já publicadas, e sem nos adiantar análises políticas, e sem querer ler nele alguma agenda política, aponta-nos a enorme vantagem já granjeada pelo quase-mas-ainda-não-candidato de Boliqueime. Mais do que referir uma mais que provável eleição de Cavaco à primeira volta, as sondagens apontam para uma dispersão de votos à esquerda que preocupa não por dividir aí o voto (que naturalmente o faz), mas por não assistirmos a uma transferência de votos para Soares, em caso de uma segunda volta. Não sei se será assim tão liquido…

Os diversos apoios, directos ou enviesados

Entendo os que provêem de uma direita ainda mal refeita do fenómeno PSL, que se encara em processo refundador e que deseja desalmadamente os mitos dos professores de finanças, de preferência provenientes de terras pouco sujas pela urbanidade e pelo frenesim da cidade. Entre Santa Comba e Boliqueime, de lápis atrás da orelha, o figurino do fiel de armazém molda uma sombra de contornos já definidos. Que estranha atracção esta pela pacatez disciplinadora da ruralidade. Enfim…

Já estranho as posições derrotistas de comentadores, blogistas, que desenvolverem uma qualquer aversão a Mário Soares. Deles, individualizo o Paulo Gorjao, não porque não tenha direito à opinião (que obviamente a tem), não porque utiliza o seu espaço para procurar impor alguma agenda pessoal (que nem tem tido todo o sucesso, mas o seu trabalho e a sua persistência são de louvar), mas porque não entendo os seus argumentos. Bem, parece-me que procura condicionar uma qualquer atitude mais Alegre, não deve andar satisfeito com os candidatos de esquerda. Deve ser também dos que consideram que à esquerda ainda há espaço para mais uma candidatura. Na verdade, ainda falta um Pintassilgo ao casting…

A Imprensa escrita.

Como no ponto anterior, nada me espanta que venha da direita (sempre na senda do Expresso). Espanta-me é a generalidade com que encaram Soares como «acabado», «velho» e «derrotado». Como granjeou o outro contender, esse jovem algarvio, esta verdadeira aura de inevitabilidade vencedora. E se o senhor nem avançar? Como é? E quando avançar, o que espero e desejo, irá ter, mais cedo ou mais tarde, de falar, de abrir a boca, de interagir diariamente numa campanha que não será nem fácil nem dócil. Aí, é minha convicção, Cavaco iniciará a sua inevitável descida. Hoje, quando ainda só tem silêncio para gerir, está no seu auge. Amanhã, falará.

Como procuro aparentar, não considero de todo que Cavaco ganhará. Mais, não considero que possa ser um bom Presidente, que seja o Presidente necessário hoje.

Considero também que Soares pode não ser o melhor candidato da esquerda. Guterres ou Vitorino, pela (aí sim) juventude e dinamismo com que empestariam Belém, trariam o cargo de Presidente para uma nova dimensão. Não foi este o tempo para essa geração. A Presidência da República ainda se apresenta, para eles, como um fin de route político (e por isso ainda é indesejada por quem está e quer estar muito activo).

No entanto Mário Soares, com um apuradíssimo instinto felino, sentiu que à esquerda era ele a única solução. E avançou. É um Presidente para o futuro? Não. Nem ele o assume. É um Presidente para o Presente. Para este Presente.

[a voltar]

5 comentários:

Willespie disse...

Repetindo o que eu já tinha comentado num artigo semelhante...

1. Nestas eleições presidenciais temos 2 actuais líderes partidários, e um homem que esteve durante 23 anos na linha da frente das batalhas políticas travadas em Portugal. Ora como líder partidário, ora como Presidente da República, ora como Primeiro-ministro.
Teve o seu tempo, a sua era.

"Uma candidatura seria um erro brutal" – Mário Soares.

De facto é um erro brutal. O apoio do partido socialista a uma candidatura desta natureza é um erro ainda maior.

Os portugueses estão cientes de que o Mário Soares não traz nada de novo, ou de útil ao cenário político português.
Penso que as primeiras sondagens foram bastante generosas, com o candidato socialista. Eu pessoalmente acho que se houver uma segunda volta, o candidato da esquerda será, infelizmente, o Francisco Louçã, espelhando o que ocorreu nas eleições presidenciais em França, embora no sentido oposto, a extrema-direita de Jean-Marie Le Pen. Oxalá que esteja enganado e que o extremismo (esquerda ou direita) não obtenha qualquer vitória, quer seja efectiva, ou moral.

"Uma candidatura seria um erro brutal" – Mário Soares.

2. No meu ponto de vista e na minha opinião o Cavaco se avançar no presente cenário político, e com estes candidatos, é de longe o candidato com o melhor perfil para o lugar de presidente da república, apesar de representar uma área política com a qual eu não me revejo. A direita conservadora.
Além de ter uma certa autoridade quando fala de questões económicas, contribuirá para que haja um sistema de "checks and balances" entre um governo apoiado pelo parlamento e a presidência. Esta situação é ideal e deve ser sempre procurada pelos eleitores independentemente das cores políticas de quem está a governar e quem se está a candidatar em qualquer dado momento.

"Uma candidatura seria um erro brutal" – Mário Soares.

Acrescento também que considero a comparação subtil entre Santa Comba e Boliqueime, nada mais nada menos que o desespero de quem não tem mais argumentos, e a quem não lhe resta nada, senão afirmar que "o Mário Soares tem o meu voto porque é o candidato Socialista".

"Uma candidatura seria um erro brutal" – Mário Soares.

De facto o nosso amigo maçónico tinha razão. Quem espera que os eleitores, votantes e entusiastas comunistas e trotskistas que irão votar nos seus candidatos, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, respectivamente, irão preferir o voto nulo ou abstenção em vez de votar num Mário Soares nestas circunstâncias. O candidato socialista irá ganhar pouquíssimos votos numa segunda volta.

Se... chegar a uma segunda volta. Como já afirmei estou em querer que se houver uma segunda volta quem estará presente será o Francisco Louçã e não o Mário Soares.

"Uma candidatura seria um erro brutal" – Mário Soares.

Respeitosamente,
Willespie - Um Liberal Democrata.

José Reis Santos disse...

Caro Willespie,

Agradeço o seu comentário, sincero e com alguma reflexão, mas não penso que tenha entendido bem o meu ponto.
Em primeiro lugar, o meu argumento nada tem de maçónico, eu nada tenho de maçom e este blogue, apesar de «Loja», não presta cultos de qualquer espécie.
Depois, os meus argumentos não se apresentavam finais; nem julgo que tenha começado sequer a argumentar em relação ao assunto das presidenciais. O que fiz, ou o que julguei que estava a fazer, era um apanhado do «estado das coisas», no sentido de elaborar uma apresentação prévia que introduzisse o tema.
O argumentário segue-se…

Willespie disse...

Apenas um esclarecimento para evitar mal entendidos. A frase em que falo de maçonaria, refiro-me óbviamente ao Mário Soares e não a si.

José Reis Santos disse...

Sem stress...
È que, como não deixou totalmente esclarecido o assunto, e como o Clube se chama «Loja de Ideias»...
Pode dar azo a alguma confusão.
Que se diga, no entanto, que nada tenho contra a Maçonaria.

José Reis Santos disse...

PS

Obrigado pela atenção e pelo claro esclarecimento

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