sábado, outubro 08, 2005

Proh Pudor

Todas as noites ela me cingia
nos braços, com brandura gasalhosa;
todas as noites eu adormecia,
sentindo-a desleixada e langorosa.

Todas as noites uma fantasia
lhe emanava da fronte imaginosa;
todas as noites tinha uma mania
aquela concepção vertiginosa.

Agora, há quase um mês, moderadamente,
ela tinha um furor dos mais soturnos,
furor original, impertinente…

Todas as noites ela, ó sordidez!,
descalçava-me as botas, os coturnos
e fazia-me cócegas nos pés…

Cesário Verde

posted by Kindala Rocha

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