sexta-feira, outubro 14, 2005

Caminhos-de-ferro: história e conservação de um património – I


Pretende-se com este apontamento sintetizar os principais momentos que caracterizam a história da rede ferroviária do Douro, e perspectivar o futuro das estruturas criadas.

O Ano de 1875 marca o início da circulação ferroviária no primeiro troço da linha do Douro, importante projecto que visava revolucionar a mobilidade interna e externa da região. Em 1887 era feita a ligação a Espanha (Barca de Alva), concluindo-se assim o único eixo ferroviário internacional do interior norte português.

Esta via era a principal de uma rede que objectivava a diminuição das distâncias relativas, aproximando bens e pessoas. Para tal foram construídos na primeira década do século vinte os primeiros troços das linhas do Tâmega, Corgo, Tua e Sabor (concluídas nas décadas seguintes). Obras de elevados custos financeiros e humanos, que conseguem unir o que as características físicas teimavam em separar. Exemplo disso é a ligação de La Fregeneda e da garganta do Águeda (linha do Douro) onde se tornou necessário em apenas dezassete quilómetros construir, treze grandes pontes metálicas (fig.1) e vinte túneis (fig.2), para que se estabelecesse entre o Porto e a restante Europa a mais directa via terrestre.


fig.1

fig.2


«Num trabalho de dimensão faraónica que durou 12 anos, perfuraram-se montanhas e uniram-se encostas, tudo para permitir vencer o isolamento secular das terras da província espanhola de Salamanca, permitindo desta forma que as mercadorias transportadas pudessem escoar os seus produtos por mar na cidade do Porto».


Num primeiro momento a linha do Douro afirma-se (para além do movimento interno e externo de passageiros) pelo transporte de bens manufacturados, produtos agrícolas e matérias-primas, o século vinte e o início do Estado Novo vão reforçar a importância desta via, pela criação da rede que vai unir Trás-os-Montes.


A década de cinquenta marca o início de um declínio que no essencial se fica a dever ao envelhecimento das vias, falta de evolução técnica, desaparecimento da ligação a Salamanca, aumento da importância da linha da Beira Alta que retirava importância no transporte internacional de mercadorias ao Douro.


Este declínio acentua-se pelas décadas seguintes, a morte lenta sofre mais um impulso com o corte da ligação troço Boadilla-Barca d'Alva em 1985, ao qual Portugal corresponde com o corte da ligação Pocinho- Barca d'Alva dois anos depois.


Os anos noventa marcam o desaparecimento ou redução muito substancial das vias secundárias que complementavam a rede. Dos quase cem quilómetros de caminho de ferro entre Régua e Chaves, apenas restam vinte e seis, entre Régua e Vila Real. Na linha do Tâmega apenas circulam comboios entre Livração e Amarante, restando à muito turística linha do Tua um percurso de cinquenta e quatro quilómetros entre a foz do Tua e Mirandela. Da ligação a Miranda do Douro, com passagem pelo Parque Natural do Douro Internacional, apenas restam as memórias.


Fundamental no estabelecimento de um novo paradigma na mobilidade de bens e pessoas, sente o reflexo da evolução (em tempos base do seu crescimento e afirmação) na perda de protagonismo no último quartel do século vinte, face à revolução imposta por outras vias de comunicação e meios de transporte.

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