domingo, junho 28, 2009

Clubismo Partidário ou uma reflexão sobre Identidade em Política.

Amanhã vai sair um novo cartaz do António Costa e da candidatura Unir Lisboa. O mesmo, que pode ver neste post, é em tons de verde. Não me parece mal a cor (apesar do meu benfiquismo), que procura absorver o conceito plural do alfacinha lisboeta (daí a cor verde alface), nem me parece uma má ideia do ponto de vista político e do marketing. Se por um lado procura apresentar António Costa como um líder para toda a cidade; por outro, procura lembrar o carácter trans-partidário da sua candidatura, facto manifestado pela elevada quantidade de independentes da sua lista de 2007 (que se espera que se repita em Outubro). Essa é uma marca da candidatura Unir Lisboa, que agora se procura valorizar.
No entanto, não posso deixar de estranhar a volatilidade identitária que se tem verificado na forma de comunicar da política contemporânea, que reflecte como se aprecia a ideia de identidade Política. Antigamente as cores eram fixas e tinham uma importante representação simbólica. O vermelho representava o trabalhismo, a social-democracia, o socialismo e os vários comunismos. O azul a democracia cristã. O Amarelo os liberais e o Verdes… os verdes. Quando vemos que muitos partidos e forças políticas mantem as suas cores, a verdade é que o PS se foi afastando da sua. Fê-lo por razões de deslocamento ideológico e de penetração no mercado eleitoral centrista (que tinha – e ainda tem – receio de demonstrações demasiado rubras), Fê-lo por questões de procura de espaço simbólico (excessiva concorrência nos vermelhos – o Bloco também o fez, correndo para os roxos). Inicialmente António Guterres inventou o Rosa; e mais recentemente José Sócrates apresentou-se com os azuis institucionais. As razões são as mesmas: deslocar ideologicamente o Partido Socialista da esquerda, coloca-lo no centro governamental e disputar o eleitorado centrista e conservador. Boa medida em termos de resultados eleitorais, mas com dúvidas em relação à implementação de políticas públicas (boas numas áreas, más noutras).
Curiosamente, também por razões de marketing, os clubes de futebol sofreram nos últimos anos uma transformação simbólica similar. Antigamente o Benfica só se apresentava de Vermelho ou de Branco. O Porto de Azul e o Sporting de Verde. Hoje, para que se vendam mais e mais camisolas, vemo-los a trocar de equipamento todos os anos, para cinzas, pretos, cor-de-rosa, etc. A ideia continua a ser a de conquistar eleitorado. Neste caso futebolístico.
Esta fase de clubismo partidário, que parece só afectar o Partido Socialista, diz-nos então – pelo menos – quatro coisas. (1) O PS perdeu sustento ideológico e hoje é um partido assumidamente de poder (o que em si não é uma má característica, pelo contrário, pois assume a responsabilidade de ser transformador); (2) desenvolveu uma leitura da sociedade onde entende que o Partido deve ser superior à sua militância e ao seu activismo; procurando ligar-se directamente aos cidadãos. Este processo é possível porque (3) o PS perdeu a sua definição ideológica e assume-se como um Partido catch-all sem o sustento simbólico que amarra a sua militância-base. Neste caminho foi perdendo identidade. Primeiro o Vermelho, depois o Rosa. Por outro lado, (4) esta estratégia apresenta o Partido Socialista como o Partido de todos os Portugueses, e não somente da sua clique partidária ou grupos de interesse que o procurem sustentar. O PS é hoje um Partido de Governo, e para sê-lo com mais eficácia simbólica necessitou de se afastar de um passado carregado ideologicamente. Esta dimensão, reafirma a primeira apreciação, pois um Partido com tais características liga-se directamente ao eleitorado, menosprezando os seus militantes.
Agora, é esse o rumo da política contemporânea? Ou só o do PS? A verdade é que outros partidos também fazem este percurso. O Bloco nasceu no Roxo, e os partidos da direita nunca necessitaram de sair das suas definições simbólicas, até porque eram os únicos no terreno (laranja só o PSD, azul só o CDS; enquanto que no vermelho…). Sobre o assunto acho que nem tanto ao Mar nem tanto à Terra. É verdade que os Partidos Políticos devem procurar sair da sua massa militante constituinte e procurar envolver directamente os cidadãos; mais ainda quando se apresenta em listas sem exclusividade partidária (como foi a lista Unir Lisboa). Por outro lado, não podem as forças políticas perder a sua identidade, pois se o fizerem ficam reféns dos líderes de circunstância e das modas dos tempos e correm o risco de governar sem sabor, sem Ideia, sem Ideologia. Esta é uma pecha da governação contemporânea, em especial à esquerda (e isto é visível não só em Portugal) e que necessita de ser colmatada. Como o fazer? Isso é motivo para um outro post… (e um desafio para quem ler este…)


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