Conforme aqui anunciado, publicamos o texto do Luis Miguel Viana, director da Agência Lusa:
Texto sobre a crónica Eduardo Cintra Torres no Público de 22 de Outubro de 2006, ao abrigo do direito de resposta.
Eduardo Cintra Torres vem, no Público de domingo, tentar ligar duas demissões de cargos na Agência Lusa com a participação do seu director de Informação numa alegada estratégia governamental de controlo dos órgãos de informação. É uma infâmia que, naturalmente, os factos não comprovam.
No caso do editor demissionário de Política, Nuno Simas, já tive oportunidade de dizer ao Conselho de Redacção da Lusa que “Nuno Simas agendou e editou todas as notícias e reportagens que quis. Acolhi também todas as suas propostas de deslocações e de constituição de equipas para trabalhos no país e no estrangeiro”. Acrescentei ainda que “com a sua editoria nunca usei da prerrogativa de ler textos antes de eles irem para a linha, e poderia tê-lo feito”, porque – fique isto bem claro – esse é um direito, e um dever, próprio dos directores de informação.
No caso da demissão do director-adjunto, Rui Moreira, como também já tive oportunidade de dizer ao Conselho de Redacção, nunca tive com ele qualquer incidente, pessoal ou profissional, ao longo de cinco meses de trabalho. Nunca houve sobre o acompanhamento de qualquer matéria, governativa ou outra, qualquer ponto em que não nos tivéssemos posto de acordo. Mas podia ter sido de outro modo, como sabem todos aqueles que trabalham em organizações, sem que isso implicasse necessariamente falta de independência ou de rigor de qualquer das partes.
No que se refere a “marcação de serviços ‘por cima’ dos editores”, não sei, em concreto a que se referem. Seria bom que o explicitassem, que dissessem que trabalhos foram esses, para que o seu interesse jornalístico possa ser avaliado. Não lhes parece?
Em todo o caso seja-me permitido dar um exemplo de uma intervenção recente da direcção da Lusa. O ministro Manuel Pinho tinha afirmado certa manhã em Aveiro o “fim da crise” (o título da nossa notícia foi: “Manuel Pinho anuncia que “a crise acabou”) o que foi acolhido com certa indiferença pela generalidade dos média. Ora, foi devido à intervenção da direcção que a Lusa fez à tarde uma ronda de comentários pela oposição e que relançou o assunto para a dimensão que este veio a adquirir. Jornalismo, nada mais do que jornalismo. Mas mostra bem qual é o nosso lado: o da informação independente. Qualquer outra “guerra” que Eduardo Cintra Torres pretenda arquitectar, colocando-se a si de um lado da trincheira e à Lusa do outro, é da sua inteira responsabilidade e nada tem a ver com os factos nem com o jornalismo que a agência está a praticar.
Dito isto, não vamos dizer que não existiu nas últimas semanas alguma agitação na Lusa. Claro que existiu, como mostram as duas demissões. Mas essa agitação tem a ver com o projecto de reorganização que esta direcção está a pôr em marcha, naturalmente com o seu estilo, que pode não agradar a todos, mas que visivelmente tem mobilizado a grande maioria dos jornalistas. A Lusa só existe para servir os seus clientes e, portanto, tem de funcionar orientada para as suas necessidades, formatos e, ponto sensível, horários. Só sendo úteis – i.e., sendo utilizados – cumprimos o nosso papel.
A Lusa terá de fazer coisas que não fazia, deverá abandonar tarefas que o mercado não acolhe. Com os muitos bons jornalistas que tem irá tornar-se numa agência multimédia, ocupará com outra ambição o seu espaço na Internet. Nem sempre estas transformações se fazem sem dor, nem sempre quem lidera acerta todos os passos (sobretudo quando tem pressa). Há, no entanto, uma coisa de que ninguém na Lusa tem dúvidas: esta direcção está na agência para trabalhar e para fazer jornalismo.
Luís Miguel Viana
Director de Informação da Lusa
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