quarta-feira, julho 25, 2007

Em 2007 como se fosse 1982.

Ficou famoso o poema lido por Natália Correia a João Morgado após este último ter dito que a função sexual servia unicamente para a procriação. Estávamos em 1982, 8 anos após a revolução, num país culturalmente e intelectualmente extremamente atrasado.

Após este debate parlamentar (que conduziu à promulgação da então lei da I.V.G. que permitia à mulher abortar em caso de violação, perigo de vida e malformação do feto) muita coisa mudou neste país: Aderimos à (então) CEE, revolucionamos os meios de comunicação, abatemos as fronteiras com os outros países da UE, fizemos a Expo 98, aderimos ao Euro, batalhámos nas instâncias internacionais pela auto-determinação do povo de Timor-Leste, organizámos o Euro 2004, comandámos (e comandamos) os destinos da Europa com a Agenda de Lisboa, tornámo-nos um país receptor de imigrantes, temos a presidência da Comissão Europeia... enfim, tudo mudou no nosso país!

Tudo? Não!

Assim como existe, na criação de Albert Uderzo e René Goscinny, uma aldeia de irredutiveis gauleses, também existe um pedaço de terra (felizmente para nós, continentais, e infelizmente para alguns dos habitantes desse mesmo pedaço de terra, rodeado de água por todos os lados) neste país que continua irredutível às transformações efectuadas e que insiste em se manter atrasado em tudo o que lhe for possível, excepto na arte de angariar fundos ao país continental que tão rapidamente e em toda e qualquer situação repudia. Até hoje, embora o Chávez da Madeira sempre tenha quebrado as barreiras do razoável, nunca se tinha assistido a tamanha confrontação a uma decisão das leis da república. Ao discutir a questão da aplicabilidade da IVG naquela parcela do território nacional, e escudado numa autonomia que faz por esquecer que é isso mesmo, uma autonomia e não uma independência, o líder da maioria reinante mandou a sua corte atacar a aplicabilidade da lei do país, e estes fizeram-no através da agora tristemente famosa Rafaela Fernandes. Perante o silêncio das estruturas partidárias de Lisboa, certamente mais interessadas em saber a quem mandar as referências multibanco para pagamento das quotas do que em pôr termo a esta desfaçatez (situação que, como é sabido, faz escola para aqueles lados), o PSD Madeira diz e faz o que bem quer e lhe apetece, como quer e lhe apetece, ofendendo quem bem quer e lhe apetece, e minorando os direitos de quem quer e lhe apetece.

Como a mais Alta Autoridade do país prefere não comentar e assobiar para o lado, característica tão conhecida dessa personagem mas que andava esquecida, continuamos a assistir aos dislates do aspirante a ditador e de sus muchachos, impávidos e serenos, enquanto que outros sofrem do por ter nascido num pedaço de terra errado, e que por azar (deles) se encontra rodeado de água por todos os lados...

[as frases]

"o aborto não será, com certeza, a primeira decisão de uma mulher porque é contra-natura. A função das mulheres é, precisamente, a da procriação"

"Até à data qualquer mulher (madeirense) que tinha de tomar essa decisão (abortar) não deixava de a tomar... tomava as suas providências e fazia-o lá fora"

1 comentário:

Ana disse...

Tentei não comentar, mas não resisti!

Há demasiadas coisas que não entendo no que respeita à ilha Jardim, mas a que mais me incomoda é sem dúvida a dupla face em que vive a madeira, que ora é autónoma, ora é independente (à semelhança de um miudo de 15 anos que já é grande para opinar e refilar, mas quando chega a hora da responsabilidade...)!

Pois bem, corrijam-me se estiver enganada pois é uma ideia que não aprofundei, sendo uma região autónoma a madeira é território nacional, rege-se pelas mesmas leis, tem o mesmo primeiro e o mesmo presidente, o que resulta em apoios e fundos ao seu governo.

O conceito de independência traz de atrelado um de auto-suficiência, à boa maneira de uma cidade-estado grega, que implica que a ilha gira as suas próprias receitas, tenha as suas próprias leis, etc.

Chegamos então ao problema... se é autónoma e não independente o dono da madeira quando pede para que ignorem a nova lei da IVG deveria ser tratado como um instigador à infracção da lei que rege Portugal continental e regiões autónomas (quase todas as leis dizem qualquer coisa como "Quem induzir, incitar ou instigar outra pessoa, em público ou em privado(...)" )!

Enquanto se vive sob a alçada de um poder paternal estamos na iminência de ouvir quando "esticamos a corda" de que "enquanto estiveres debaixo do meu tecto é como eu digo", o que deixa duas soluções ou ficamos e cumprimos ou nos aventuramos numa viagem a solo!

A continuar assim o "Ti Alberto" é cada dia que passa mais intocável e dono de um pequeno paraíso de IVA a 15%, com estradas de luxo, que todos pagamos e onde a minha opinião, que neste caso votei sim ao referendo da IVG, não tem qualquer valor.

Sinto.me recorrentemente a alimentar um cão que a cada vez que lhe encho o prato me morde em agradecimento!

Será que estamos com medo de que gritem ditadura por se silenciar tanta parvoice e arrogância? Ditadura não é o que se vive na madeira onde no interior da ilha cada casa tem a bandeira a porta e a cada esquina se tropeça numa sede do PSD (vi mais sedes do PSD do que casas tipicas em Santana), onde a vontade da mulher é a que o homem decidir?

Este comentário já vai longo e nem sempre de raciocinio estruturado, mas a esta hora não há milagres e menos ainda quando me esforço por não usar nenhum adjectivo menos bonito para qualificar aquele senhor!

E assim como diria Salazar: Tenho Dito!!!! :)

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