quarta-feira, agosto 30, 2006

Teresa & Manel


Rui,
em primeiro lugar, apesar de teres respondido à Sandra, fui eu que tive os problemas. Promenor. Depois, pela qualidade e polémica do texto, puxei-o para o main do Blogue. Merece ser lido aqui, e não somente nos comentários...
Disseste:

É claro que tens razão, Rui. 90% dos casos o que acontece é má gestão conjugada com péssima visão de planeamento estratégico. Não quis dizer, nem queria que assim me interpretasses, que a culpa é dos informáticos. Não. O ponto é que quando se pensa na burocracia eficaz, sem papéis e barata, sem «donas Teresas», temos de dotar o Estado dos instrumentos necessários à execução das suas promessas e objectivos anunciados. O problema é que na Burocracia clássica eu, como «utilizador» posso aceder à informação e tornar-me independente da estrutura institucional, dependendo exclusivamente de mim (no preenchimento da papelada certa, dos carimbos ou assinaturas). Na burocracia tecnológica a capacidade de resolução e controle autónoma da relação com o Estado transfere-se de mim para a capacidade informática, o software utilizado, a equipa informática, etc. Ou seja, já não dependo exclusivamente da minha pessoa, mas de factores externos, alheios e não controlados.

Este recente exemplo da FCT, como em tantos outros, não é mais que a manifestação, não da capacidade técnica de formulação de soluções burocráticas inovadoras e «progressistas» viáveis, mas da inabilidade de previsão estratégica e da não compreensão das múltiplas dimensões envolvidas na equação do problema. É fácil dizer que se «vai atacar a burocracia», que se vai simplificar e tornar obsoleto as filas de espera, as toneladas de papel, etc. É fácil prometer acessos rápidos, vias digitais. É fácil mostrar datashows estatísticos que colocam o país no primeiro terço europeu no ranking do acesso à Internet, ou na percentagem de PIB investido na transformação tecnológica necessária e urgente (admito).
Construir estatística não custa. O difícil é prever. É pensar estrategicamente. É saber que, no caso da FCT, toda a comunidade científica depende dos seus fundos, quer na forma de bolsas quer na forma de projectos de investigação (que também podem contemplar bolsas de investigação). É saber que a atribuição das bolsas é feita anualmente. Que os concursos são de 2 em 2 anos. A coincidência de prazos, neste caso, manifesta a incompetência política e técnica que temos denunciado e que, cinicamente, se procura combater quando se anunciam os «simplexes».

É isso que critico, Rui.

A dona Teresa que defendo não existe. Ela representa-me a mim, à minha capacidade de, na relação com o Estado, eu conseguir resolver os meus problemas. Eu até não me importaria de colocar nos senhores Maneis a responsabilidade de gestão desta articulação, mas então que lhes dessem capacidade real efectiva. O problema é a dependência de terceiros e como isso interfere no meu dia-a-dia. E isso eu não posso permitir. Eu tenho de poder controlar a minha relação com o Estado. Não fazê-lo é matar a base democrática da nossa sociedade contemporânea. E isso não podemos permitir.

Sem comentários:

Pesquisar neste blogue