terça-feira, maio 01, 2007

1º de Maio


Sobre o 1º de Maio.

Retiro este texto do PS Lumiar, assinado por E Branquinho.
Ver ainda estes links (Wikipedia, aqui e aqui)
Porque se comemora este dia como sendo o dia internacional do trabalhador?

Os relatos históricos referem-nos como razões, essenciais, as seguintes:
No século XIX, a pujança da “Revolução Industrial” conduziu à sujeição dos trabalhadores a condições desumanas de laboração. A necessidade de se produzir o máximo ao mais baixo custo não respeitava idades nem sexos. As organizações sindicais eram incipientes e perseguidas pelas autoridades policiais.

Em 1864 é criada a Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, em Londres. A iniciativa surge num contexto de união entre líderes sindicais e activistas socialistas com vista a dar voz às lutas dos trabalhadores e às nações oprimidas. A esta associação se chamou mais tarde a Primeira Internacional Socialista que duraria sete anos. Contudo, as divisões sobre quais as melhores formas de actuação e ideológicas entre as várias facções (sindicalistas, anarquistas, socialistas, republicanos e democratas radicais, entre outras) puseram fim à estrutura organizativa, mas deixaram mais claras as reivindicações e propostas pelas quais os trabalhadores se deveriam debater. A redução da jornada de trabalho para as 10 horas diárias era uma delas.

Os objectivos saídos desta Internacional tiveram eco no IV Congresso da American Federation of Labor, em Novembro de 1884. As negociações, sucessivamente falhadas com as entidades patronais, fizeram das cidades operárias um barril de pólvora pronto a explodir.

Em 1886, no dia 1 de Maio, teve início, em Chicago, uma greve geral com a adesão de mais de um milhão de trabalhadores em todo o território norte-americano. A reacção a esta paralisação foi violenta e uma manifestação operária, realizada naquela cidade, termina com mortes e detenções.

A repressão policial americana foi especialmente dura. Ao quarto dia de manifestações explodiu uma bomba entre a multidão matando dezenas de trabalhadores e alguns polícias. Deste incidente resultou a prisão de oito líderes do movimento, quatro foram condenados à morte por enforcamento e os restantes a prisão perpétua.

O luto fortaleceu a luta

Três anos depois da condenação dos que ficaram conhecidos como os “Mártires de Chicago” as repercussões sentiram-se na Europa. Assim, em 1889, a Segunda Internacional Socialista decidiu, em Paris, proclamar o 1º de Maio como o Dia do Trabalhador em memória dos que morreram em Chicago.

Em 1890, o Congresso americano vota a lei que estabelece a jornada de oito horas de trabalho e três anos mais tarde, depois da reabertura do processo que levou à condenação dos oito operários, conclui-se que a bomba que explodiu em Chicago tinha sido colocada pela própria polícia.

Em Portugal

A decisão da Comuna de Paris, de decretar o 1º de Maio como o Dia Internacional do Trabalhador teve repercussões no nosso país. José Mattoso refere (in História de Portugal, vol. 5), que em finais do séc. XIX, houve um reforço da luta do movimento operário. Entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. Coisas concretas como a subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições de laboração eram as principais exigências dos operários.

Segundo o mesmo autor, o movimento operário alcançava grande força quando aquelas associações de trabalhadores que hodiernamente se designam por «sindicatos» se juntavam com as associações recreativas, com as de socorros mútuos e com os centros de debates políticos. Essa vitalidade ficou demonstrado no 1º de Maio de 1900 que juntou em Lisboa cerca de 40 mil pessoas, numa altura em que "as classes médias ainda viam as organizações de trabalhadores com alguma simpatia". Os partidos políticos não tinham força suficiente, naquele tempo, para se apropriarem indevidamente das organizações dos trabalhadores, como, por vezes, sucede actualmente.

O movimento sindical e laboral foi-se reforçando até ao derrube da Monarquia e a instauração da 1ª República. Com o novo regime político, algumas câmaras municipais decretaram o 1º de Maio como feriado oficial. A luta pela jornada de oito horas recrudesceu, o que levou a que ela fosse consagrada em 1919 para os trabalhadores da indústria e do comércio.

Sete anos depois, com o golpe militar do 28 Maio de 1926, as liberdades fundamentais são suprimidas e tomados os sindicatos pelo regime corporativo. O 1º de Maio é proibido e as iniciativas que os trabalhadores, um pouco por todo o lado, tentam concretizar são alvo da mais feroz repressão policial. Por essa razão, a jornada do 1º de Maio alia, crescentemente, a luta pelo Pão, pela Paz e pela Liberdade à contestação do regime.

Em 1933 é decretada a "unicidade sindical" e o "controle governamental dos sindicatos" esmorecendo um movimento operário que só ganharia novo ânimo na década de 40. Vejam bem, exactamente o mesmo que o PCP pretendeu fazer a seguir ao 25 de Abril

Durante o Estado Novo as comemorações passaram a designar-se por “Dia do Trabalho” e não do Trabalhador, eram organizadas e controladas pelo Estado. Durante os 48 anos que durou a ditadura, o 1º de Maio de 1962 fica a constituir um raio de luminosa esperança. Nesse dia, em Lisboa, Porto, Setúbal e outras localidades, dezenas de milhares de pessoas saem à rua, protestando contra a falta de liberdades, contra a miséria e contra a guerra colonial que eclodira no ano anterior e que havia de vitimar e mutilar milhares e milhares de jovens trabalhadores.

Também nesta altura cerca de 200 mil assalariados rurais do Alentejo e do Ribatejo entram em greve, conseguindo, desta maneira, impor aos latifundiários e ao fascismo a jornada de oito horas. Punha-se fim, finalmente, ao trabalho de sol a sol.

1 de Outubro de 1970, dia em que as direcções dos sindicatos dos caixeiros, dos lanifícios, dos metalúrgicos e dos bancários de Lisboa, enviaram a um grupo restrito de outras direcções sindicais, um ofício, convidando-as a “comparecer numa sessão de trabalho para o estudo de alguns aspectos da vida sindical cuja discussão lhes parece da maior oportunidade”, é considerada como data da fundação Inter-sindical, embora a primeira reunião, se tenha realizado a 11 de Outubro na sede dos bancários de Lisboa.

O primeiro 1º de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntaram-se mais de meio milhão de pessoas. Para muitos, foi a forma dos portugueses demonstrarem a sua, inequívoca, adesão ao espírito do 25 de Abril, que uma semana antes havia sido levado acabo por um punhado de militares afim de ser restituída a democracia ao país.

A nossa juventude precisa saber destas coisas para que dêem valor ao que têm, e até, ao que não têm.

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