quinta-feira, outubro 14, 2010

Nós não entendemos. Eles não percebem.

Ana Sá Lopes, A insustentável bipolaridade do discurso de Passos Coelho:

    O homem que já afirmou que 'pior do que não ter um Orçamento do Estado é ter um mau Orçamento do Estado' é o mesmo que admitiu que 'a realidade que se nos oferece' é que depende do PSD 'a salvação do país'. Ah, e também que Portugal está na iminência de, 'se o PSD não viabilizar este Orçamento, não ter crédito externo e de não ter financiamento para o país', coisa pouca, evidentemente. Isto foi na segunda-feira à noite. Na terça-feira, o líder do principal partido da oposição mudou outra vez de ideias. Invocando Sá Carneiro, a alma mater social--democrata para a mitologia das rupturas, voltou a acenar com o chumbo, uma vez 'que um partido com a história do PSD não pode ceder' a 'chantagens' e não quer 'contribuir para mais desemprego em Portugal, para mais falências em Portugal, para mais recessão em Portugal, sabendo que isso não valerá de nada'.

    Alguém se entende? Alguém percebe este discurso? Se o líder diz que 'o PSD não pode deixar de ajudar a melhorar a situação do país, mas deixar passar o Orçamento como aquele que o governo manifestou intenção de apresentar não é melhorar a situação', podemos deduzir que chumba. Se nos reportarmos ao discurso da véspera, em que Pedro Passos Coelho afirmou que o seu único critério é que 'como poderá ajudar o país a passar este momento difícil', podemos deduzir que se abstém.

(Via Câmara Corporativa.)

(ênfase minha)

Viabilize ou não o orçamento, acho que Passos Coelho é capaz de ter definitivamente manchado a sua imagem pública de responsabilidade e de competência. O que paradoxalmente é capaz de ajudar a explicar este comportamento errático.

Quanto mais tempo passar o PSD na oposição, mais hipóteses há da actual direcção ser derrubada. Cavaquistas e afins o desejam ardentemente. Afinal, todo este espectáculo triste é capaz de ser gravoso para Cavaco. Assim sendo, os "passistas" devem estar a entrar numa mentalidade do "tudo ou nada".

O que, irónicamente, só acelera as hipóteses de serem derrubados internamente...

Aguardamos o líder que se segue na São Caetano à Lapa.

O país é que não sei se aguenta.

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