segunda-feira, abril 06, 2009

A direita e a diferença de opinião na família socialista

Parece que o facto de José Sócrates e Vital Moreira terem opiniões diferentes em relação ao apoio a José Manuel Barroso para Presidente da Comissão Europeia está a deixar alguma direita em polvorosa. Basta ver o que dizem por aqui Nuno Gouveia ou Vasco Campilho. No entanto não é de estranhar este facto no Partido Socialista: se há algo que tem sido marca do PS é o pluralismo de opiniões. Foi assim no tempo de Soares (com Guterres), no tempo de Guterres (com Carrilho) e está a ser no tempo de Sócrates. Claro que quando se tenta passar a imagem de que o Partido está devoto ao líder, a possibilidade de haver mais uma opinião que a do líder tende a ser explorada para demonstrar divisões.

Mas percebe-se: tanto tempo a colar um rótulo em José Sócrates que há pormenores que passam ao lado. Pormenores como o facto de nas últimas Presidenciais terem surgido dois candidatos da área socialista ou, sendo mais sectorial e falando de questões europeias, ter sido uma militante socialista (Ana Gomes) uma das impulsionadoras da comissão de investigação do Parlamento Europeu sobre os voos da CIA. São dois casos onde militantes do Partido Socialista, com cargos públicos eleitos nas listas do próprio partido, tiveram opiniões divergentes do seu dirigente máximo. Diz o José Reis Santos nos comentários deste texto, e bem, que a posição de Sócrates é enquanto Primeiro-Ministro e não como Secretário-Geral do Partido. Porém, também não me parece que se vá saber a opinião de José "Secretário-Geral" Sócrates. Ninguém espera nem deseja que José Sócrates peça um desconto de tempo de Primeiro-Ministro para opinar enquanto Secretário-Geral do PS. Mas mesmo esta situação, das bases do PS (ou de parte da classe dirigente) terem opiniões diferentes do seu Secretário-Geral e Primeiro-Ministro e afirmarem-nas publicamente, não é uma situação nova no PS. Já com António Guterres e o primeiro referendo da Interrupção Voluntária da Gravidez isto se passou, embora essa questão fosse de âmbito pessoal.

Tudo isto para dizer que acho esta questão de uma importância menor, nesta altura. Haverá uma altura para isto se discutir, a seguir às eleições. Mas certamente, pelas notícias que se vai sabendo, o PES irá apresentar um candidato ao cargo.

Como tenho deixado claro, olho para a Europa como um espaço uno e não como uma soma de países. Nessa óptica, não apoio José Manuel Barroso por ser português. Preciso de mais do que simplesmente essa razão. E mesmo admitindo sem reservas que Barroso fez mais do que era por mim expectável, também é verdade que acho que poderia influenciado mais a agenda política europeia. Fico, portanto, à espera de ver a alternativa que irá ser apresentada pela área socialista, dizendo também desde já que tenderei a apoiar esse candidato.

P.S. - Também publicado no blogue do Eleições 2009 do Público

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