sábado, setembro 23, 2006

Reflexão


Nem de propósito. Hoje (e já ontem) uma «delegação» do Clube «Loja de Ideias» foi recebida na Assembleia da República pelo senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares, Dr. Augusto Santos Silva, e pelo senhor Presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama. Fomos entregar o resultado final do nosso ciclo de debates sobre a reforma do sistema eleitoral, e, em particular, a proposta vencedora do nosso «call for papers», sobre o mesmo tema.

Ontem fomos recebidos por representantes do Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes» (Heloisa Apolónia) do Bloco de Esquerda (Luís Fazenda) e do Partido Socialista (Vitalino Canas). Ainda falta apresentar estes resultados a algumas pessoas (e partidos), pelo que a reportagem ficará para os próximos dias. Hoje damos um preview informativo.

Bom, não é este o ponto do post. Ele anda em volta do que o Pacheco Pereira Escreveu hoje no Abrupto sobre as propostas do «compromisso Portugal». Deixo o texto na íntegra:

COMPROMISSOS

Há casos em que a distinção entre “sociedade civil” e mundo político é perversa e enganadora. Um deles, evidente como um enorme reclame de néon, é o do Compromisso Portugal. A iniciativa é política até ao tutano, traduzindo a politização do nosso mundo de gestores (e em menor grau de empresários, menos representados na reunião), mas afirma parar à porta da política, quer-se dizer da política partidária, mecanismo pelo qual nas democracias se conseguem os votos para governar.

O resultado é uma sensação de grande irrealidade. As propostas não são novas, mas isso seria apenas uma questão mediática que em nada invalidava a sua oportunidade. A questão é outra: é que, sabendo-se o que se deseja, nenhuma resposta é dada à questão de como realizá-lo, de como chegar lá. Que forças sociais podem ser mobilizadas, como se traduzem esses movimentos em votos, como se organizam e expressam politicamente para terem eficácia em democracia? Sim, porque em democracia o lobiismo de movimentos proto-políticos que não tem expressão partidária, nem vai às urnas, é apenas e só lobiismo. E o lobiismo, o mexer das influências, quando feito em público, sem sequência, nem consequência, fica mais fraco pela repetição. De cada vez que se repete a mesma coisa, sem acrescentar meios nem apontar instrumentos, a sensação de impotência cresce.

Eu também penso que há excesso de hegemonização da vida política pelos partidos e que é bom que haja outros parceiros activos na vida pública. Mas, a não ser que se queira apenas ser lobiista (e é isso o que muitos destes gestores sabem fazer bem nos meandros do poder, logo convencem-se que isso pode ser transposto para os eleitores) seria melhor usar os recursos disponíveis para intervir na sociedade civil para formar opinião. Formar opinião: invistam em think tanks, em estudos sérios, em jornais e revistas, em conferências, em ensino de excelência não apenas para as empresas mas para a actividade cívica, apoiem iniciativas modelo que mostrem a eficácia das propostas, etc, etc. Apoiem os políticos e os partidos que melhor pensam poder expressar essas propostas. Às claras, para se saber. Sem receios. Ou então façam um partido político e concorram às eleições, uma solução que daria uma grande legitimidade ao movimento e acabaria com algumas ambiguidades sobre as naturais ambições de alguns dos seus proponentes. E acima de tudo dêem o exemplo, a melhor das propagandas.

É um trabalho moroso e que só dá frutos a prazo, mas o único que pode ser eficaz. É que reunirem-se em fileiras cerradas, direitos e compostos, numa imagem sem qualquer modernidade e apelo, como qualquer especialista de marketing vos poderá dizer, com os jornais a divulgarem promessas com a mesma consistência das promessas eleitorais dos políticos, dá a pior das imagens e serve mal muitas das propostas com as quais concordo. Só que o mundo dos portugueses não tem a ordem asséptica das cadeiras do Beato e esse é que é o problema que o Compromisso Portugal não quer pensar, ou não sabe pensar, ou não pode pensar.

José Pacheco Pereira - Abrupto, 22 de Setembro de 2006

A reflexão que proponho é a seguinte: o que é, hoje, o Clube «Loja de Ideias»? Ao entregarmos uma proposta física (em formato papel e informático) na Assembleia da República o que estamos a fazer?

Será Lobby? Procuramos influenciar o processo legislativo? Influenciar os principais actores políticos dizendo-lhe – "tomem, esta é uma proposta que deviam defender..." Ou será apenas um contributo, claro e assumido, de um grupo de pessoas envolvidas, activas e competentes, que se dedicaram, durante X tempo, a um tema que lhes é e caro, como resultado de uma vontade de explorar sobre determinada matéria? Ou seremos algo indefinido? Apanhados entre a vontade do contributo, os nossos reais talentos e a capacidade de passar mensagem e atingir os centros de tomada de decisão e formação de opinião?

- É, hoje, o Clube «Loja de Ideias» um tink tank modesto e humilde sem figuras, recursos ou dinheiros? Deixo a reflexão.

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